Capítulo 3 — Presos pela Chuva
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Quando Elias finalmente reuniu coragem para se levantar, a intenção era simples: escapar. Sair antes que o cheiro de Rafael o dominasse por completo, antes que seus instintos lhe traísse em público. Mas, ao chegar perto da porta do café, a realidade o impediu.
A tempestade que caía sobre a cidade não dava trégua. Relâmpagos rasgavam o céu em intervalos curtos, e a rua estava transformada em um rio barrento. Pessoas se amontoavam sob toldos e marquises, na esperança de uma brecha que nunca vinha.
Elias hesitou. Parte dele queria arriscar mesmo assim, correr, deixar a chuva gelada apagar o fogo que queimava sob sua pele. Mas o corpo congelou quando uma presença firme parou atrás dele.
— Não vai adiantar — disse Rafael, a voz baixa, mas ainda assim poderosa sobre o estrondo da chuva. — Não se atravessa uma tempestade correndo. Só se espera.
Elias não ousou se virar. Seu corpo inteiro estava em alerta, consciente demais da proximidade do Alfa. O cheiro dele parecia ainda mais forte, envolvente, como se o mundo inteiro se resumisse àquele instante.
— Eu não posso esperar — murmurou, quase sem perceber que tinha falado em voz alta.
Rafael se aproximou um passo, mas não o tocou. O silêncio que se seguiu foi denso, cheio de significados não ditos. Até que, finalmente, sua voz cortou o espaço entre eles:
— Eu também não.
Essas três palavras caíram sobre Elias como um segundo trovão. Seu coração disparou, e por um instante o instinto rugiu dentro dele, incitando entrega, pedindo rendição. Fechou os olhos com força, buscando se controlar.
Respire. Não ceda. Não aqui.
— Você não entende... — Elias começou, a voz trêmula. — Não é só uma tempestade lá fora. Aqui dentro... — apertou o peito com a mão, como se pudesse conter a pressão que o dilacerava. — Eu não posso me dar ao luxo de perder o controle.
Rafael inspirou fundo, como se cada palavra fosse também uma lâmina em sua própria carne. A luta era mútua. O instinto de Alfa gritava para se impor, para dominar, para reivindicar. Ele podia sentir cada fibra de seu corpo pedindo por isso. Mas não iria ceder.
— Eu entendo — respondeu, firme. — Mais do que imagina.
Elias finalmente se virou, os olhos brilhando com o reflexo dos relâmpagos. Havia medo neles, mas também algo novo: reconhecimento. Uma compreensão silenciosa de que não era o único em guerra contra a própria natureza.
A chuva continuava a cair, inclemente, como se o mundo lá fora tivesse desaparecido. Ali dentro, presos um ao outro e à tempestade, Rafael e Elias compartilhavam o mesmo fardo: o peso de instintos que não podiam — ou não queriam — definir quem eram.
E, pela primeira vez, a espera não pareceu tão impossível.
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CONTINUA
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Atualizado até capítulo 62
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