Ana olhou para os recrutas e deu uma ordem firme:
— Meninos, apresentem as instalações para o novo recruta e levem-no até o alojamento para que se troque.
Os rapazes se entreolharam, animados, e começaram a conduzir Marcos pelo centro, apontando cada sala com exagero e cuidado, como se ele fosse um visitante VIP.
Quando chegaram ao alojamento, um deles entregou a Marcos um macacão do centro, impecavelmente dobrado.
— Aqui está seu uniforme, Marcos. — disse um dos meninos, tentando não rir.
— São duas trocas. Você deve cuidar bem das roupas, estar sempre limpo, as botas bem cuidadas e a cama arrumada. — completou o outro, com ar sério.
— Isso é quase uma base militar._ Disse Marcos
Marcos olhou para o macacão, fez uma careta e falou, indignado:
— O que ela pode fazer? Eu não vou colocar esse macacão ridículo!
Os meninos levantaram as mãos, como se estivessem fazendo um aviso solene:
— Depois não diga que não te avisamos! — disseram em coro, e caíram na risada.
Marcos bufou, cruzando os braços, mas não conseguiu esconder o leve constrangimento. Ana observava tudo de longe, firme, com aquele sorriso de quem sabia que já tinha o controle da situação, mesmo sem precisar levantar a voz.
Marcos não guardou as coisas e nem colocou o macacão.
— Quero ver se ela vai ter coragem de me tratar como se eu fosse um adolescente — murmurou, saindo do alojamento do mesmo jeito que entrou, com sua calça jeans, camiseta pólo e a jaqueta inseparável.
Ana, que estava revisando o gado que iria para a exposição, levantou o olhar e o viu.
— Os meninos te deram o uniforme do centro? — perguntou ela, firme.
— Deram, sim, mas eu não sou um adolescente e não vou usar aquilo.
Ana se levantou, mãos nas costas, postura militar impecável:
— Aqui temos regras, e você acabou de quebrar uma. Espero que tenha pelo menos arrumado suas coisas, senão serão duas regras quebradas em menos de meia hora.
Marcos olhou para trás, lembrando da bagunça que deixou.
— Claro que arrumei, por quem me toma?
Ana, com a tranquilidade de quem manda, pegou a prancheta e começou a se dirigir ao alojamento. Marcos ficou parado.
— Você está esperando o quê para me acompanhar? Quero ver sua organização.
Marcos passou pelos meninos, que já estavam rindo e aguardando o castigo. Ana observou a mochila jogada na cama, as botas espalhadas e os uniformes amontoados. Balançou a cabeça:
— Essa semana você vai lavar os chiqueiros três vezes ao dia.
Marcos arregalou os olhos:
— Eu não sei fazer isso!
— Se vira. E não tem uniforme? Use suas roupas, já que gosta tanto delas. E não demore, senão não vai dar tempo de terminar antes do almoço.
— Eu paro e almoço e depois acabo…
— Só vai almoçar quando o chiqueiro estiver limpo e cheirando a rosas, entendeu? — completou Ana, séria.
Me acompanhe, e saiu eu tive que quase sair correndo para alcança-la, quando parou na frente do barracão enorme, o cheiro quase me fez voltar para trás, indicou com a mão.
Eu fiquei parado sem saber o que fazer, Ana simplesmente foi em direção a casa.
Um dos meninos passou e disse:
— Pega a carriola e a pá, junta os excrementos e leva lá para o monte.
O outro acrescentou:
— Depois que você acabar de tirar, liga a mangueira e lava tudo.
Olhei para as baias e jamais tinha visto porcas tão grandes.
Outro menino passou e me alertou:
— Cuidado com as porcas, elas são temperamentais e mordem.
Meio desajeitado, entrei no chiqueiro e, antes mesmo de começar, enfiei o tênis em um monte de excremento. Olhei para o tênis, desacreditado — jamais seria o mesmo.
Ana observava de longe, mantendo a postura firme. Um dos meninos se aproximou e falou:
— Você poderia me deixar ajudá-lo.
— Ainda não. Fique na sua. Eu vi vocês orientando ele, já foi o suficiente.
— A senhora quem manda.
— Isso mesmo, sou eu quem manda.
Estava parado olhando para o tênis, desacreditado que estava dentro de um chiqueiro e que ia mexer com excrementos de porco. Ana se aproximou, percebendo o momento certo para atingir o meu ego enorme.
— Marcos, está pronto para desistir? Posso ligar para o Frei e avisar que você não deu conta nem do primeiro teste.
Mordi a mandíbula, pensativo. Se ela acha que vai me dobrar tão rápido, está enganada. É só um chiqueiro com dez baias, eu dou conta, respondi.
— Você não me conhece e não sabe como sei ser persistente — resmungou, erguendo a pá com determinação.
Ana cruzou os braços, firme, enquanto continuava:
— Até agora só vi sua falta de disciplina: não colocou a roupa, não arrumou suas coisas e não lavou o chiqueiro.
— Eu já estou fazendo, não está vendo? — respondi, irritado, jogando o excremento na carriola, que voou direto na minha jaqueta predileta.
Olhei para a jaqueta suja e desacreditado, tentando limpar com as mãos, mas só espalhou mais ainda a sujeira.
— Isso é injusto! — resmunguei, mais para mim do que para alguém escutar.
— Justo ou não, é a regra — disse Ana, aparecendo de novo na entrada do chiqueiro, cruzando os braços. — E se você quiser continuar reclamando, posso acrescentar mais uma tarefa.
Respirei fundo, tentando controlar a raiva e o orgulho ferido.
— Tá… tá bom… — murmurei, erguendo a pá de novo. — Vou terminar isso, está vendo? Estou fazendo, sargenta.
Enquanto ele trabalhava, os outros recrutas não conseguiam conter as risadas, mas também admiravam a teimosia dele. Ana ficou observando de longe, com um leve sorriso nos lábios, sabendo que esse era o início do processo de domar o “bad boy” do Renascer.
Tirei todo o excremento, estava me sentindo vitorioso. Mas agora precisava lavar o chiqueiro. Nada me preparou para o tamanho do jato que saiu da mangueira, escapando de minhas mãos e rodopiando pelo chão, molhando tudo — inclusive eu. Ao invés de desligar, tentei segurar a ponta que debatia com a força da água. Quando finalmente consegui controlar, estava completamente ensopado, e o serviço ainda não havia acabado.
Ana viu a cena, assim como os meninos, mas não deixou ninguém chegar perto. Não era o momento de interferir.
Com esforço, lavei todo o chiqueiro e, quando ouvi o sino avisando do almoço, não quis ir comer. Fui direto para o alojamento tomar um banho e me livrar do tênis destruído e do cheiro que parece empregado em mim.
Tomei banho, peguei outra troca de roupa das três que levei e coloquei, agora só tenho uma e os uniformes a Tenente havia levado com ela, como vou fazer sem roupas?
Ana percebeu que ele não aparecia, então se sentou para almoçar com os meninos. Quando viu que Marcos não vinha, pediu que Armelinda preparasse um prato e foi levá-lo a ele. Encontrou-o sentado na cama, descalço, segurando o tênis arruinado nas mãos.
— Eu ia jogá-lo fora, mas não tenho outro para colocar — disse, olhando para Ana. Que respondeu— Sua culpa, sua teimosia te causou isso.
Marcos soltou a frustração: — Você está se divertindo, me humilhando assim, não está? Acha que vai me quebrar, mas não vai. Eu não vou mudar!
Ana, com a tranquilidade de quem está acostumada a lidar com rebeldia, respondeu:
— Você já está mudando. Agora, come — disse, indicando o prato. — O dia ainda não acabou e coloca uma coisa na sua cabeça, não estou aqui para me divertir te humilhando, estou aqui para te ensinar que a vida é bem mais do que o que você vê na sua frente.
Ana acabou de falar e saiu deixando Marcos pensando no que ela disse. Comeu a comida que Ana lhe trouxe e, ainda com o tênis nojento nos pés, foi levar o prato de volta à cozinha.
Ana estava rindo de algo que Armelinda, a cozinheira, havia dito, e eu fiquei parado na porta, sem saber se entrava ou recuava. Meu orgulho dizia para me afastar, mas a parte racional me dizia para não enfrentar a tenente mais uma vez no primeiro dia, que talvez se eu fosse comportado ela devolvesse os uniformes.
Até que Armelinda me chamou:
— Entre, filho, e pode lavar seu prato ali na pia.
— Eu que vou lavar meu prato? — falei, sem pensar, quase engasgando com a própria surpresa.
— Sim, você. Se não tivesse se atrasado, teria alguém responsável por isso, mas como se atrasou, segue as orientações da Armelinda e lave seu prato. — Ana falou com aquela voz de comando que não dá para recusar. Não era raiva nem ameaça, era autoridade pura.
Respirei fundo, tentando disfarçar o constrangimento, e me aproximei com o prato na mão:
— Muito obrigado, Ana, por ter me levado o almoço. — falei, com um meio sorriso que não sabia se era genuíno ou só tentativa de charme.
Armelinda devolveu o sorriso e disse:
— Agradece mesmo, porque ela não costuma ser tão boazinha. Se fosse outro, ele teria deixado passar fome para aprender a não perder o horário do almoço.
Olhei para Ana e vi que ela franziu a testa de leve, explicando:
— É o primeiro dia dele, e a mangueira deu um show à parte… eu preferi não deixar os meninos zuarem ele no primeiro dia e se ficar sem comer e passar mal eu ainda vou ter que socorrer.
Eu senti um calor subir pelo corpo, misto de constrangimento e… algo mais estranho que não conseguia definir. O jeito como ela falava, mesmo firme, parecia uma das coisas mais cativantes que já ouvi na vida.
E eu estava ali, com o prato na mão, pensando se conseguiria manter minha pose de “bad boy” ou se já estava completamente perdido diante daquela autoridade com um sorriso leve.
Enquanto esfregava o prato, percebi o cheiro do sabão misturado com o aroma da comida que ainda pairava no ar.
Cada gesto dela, o riso contido, a forma como falava comigo e com Armelinda… tudo parecia um lembrete silencioso de que eu não era o centro do universo, e ainda assim, de algum jeito, eu não queria que fosse diferente.
Enquanto lavava o prato, resolvi que era hora de recuperar um pouco do meu território.
— Ana… por favor… me devolve os uniformes. — falei, de cabeça baixa, tentando soar humilde, mas o orgulho ainda latejava no peito.
Ana ergueu os olhos, me observando com aquela calma que me irritava e, ao mesmo tempo, me prendia. Ficou em silêncio por alguns segundos, analisando meu pedido.
— Ele está tentando conseguir um desconto… — Armelinda interveio, com um sorriso cúmplice, claramente torcendo por mim.
Ana arqueou uma sobrancelha e, por um instante, o silêncio se estendeu como uma pequena batalha de olhares. Finalmente, ela falou, com a voz firme mas um leve tom de humor:
— Vou abrir uma exceção… mas não se esqueça que deve isso à Armelinda.
Um sorriso involuntário se abriu no meu rosto. Não era muito, mas já me sentia vitorioso. Armelinda piscou para mim, satisfeita, e eu quase senti que tinha ganhado pontos extras só por fazer um pedido “educado”.
Enquanto recolhia os uniformes, percebi o cheiro do sabão ainda impregnado na água, misturado com o perfume leve de Ana que parecia seguir cada gesto dela. Suspirei, consciente de que esse primeiro dia estava se mostrando muito mais desafiador — e divertido — do que imaginei.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
AndressaAutora
Agora ela foi profundo nas palavras com ele, vamos ver se ele vai começar a entender.
2025-09-22
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AndressaAutora
Acho que isso e um pouco mais com certeza, mas voce ta pagando pra ver kkk
2025-09-22
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AndressaAutora
Já vi que esse vai custar para entender que as regras são dela ali.
2025-09-22
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