Ana
A noite já tinha caído, e a praça estava tomada de gente. O cheiro doce da canjica misturado com o de pamonha recém-saída da palha se espalhava pelo ar, misturando-se ao perfume das flores que minha mãe sempre insistia em usar nos cabelos. Eu dançava com os meninos, rindo de cada passo errado deles, enquanto Cezar & Paulinho soltavam a voz no palco. A cidade inteira parecia vibrar com aquele forró.
Eu estava leve, distraída, até sentir uma mão firme puxando a minha. Meu corpo reagiu antes da mente, e quando percebi, já estava encostada contra um peito quente, um cheiro forte de couro misturado a perfume amadeirado me cercando.
Olhei para cima e dei de cara com ele. Marcos.
— Você se acha o macho, não é? — provoquei, arqueando a sobrancelha.
Ele sorriu de lado, um sorriso abusado que me fez querer rir e socar ao mesmo tempo.
— Eu costumo pegar o que quero.
Meu estômago revirou de irritação. Ele tinha usado contra mim a mesma frase que eu havia soltado mais cedo.
— Pois eu não sou um alvo fácil. — Respondi com veneno, e sem pensar, desci o pé na canela dele.
Ele riu, mesmo enquanto massageava o lugar atingido.
— Você é muito agressiva… precisa de um homem de verdade para te domar.
Revirei os olhos, inclinando a cabeça. — E você se acha esse homem de verdade?
Marcos
O chute dela doeu, mas a risada dela doeu mais — porque me acertou em cheio. Ela era fogo, e eu queria brincar nesse incêndio.
O cheiro do cabelo dela me atingiu quando ela girou para tentar escapar. Um perfume leve, floral, que contrastava com a força da mulher que se debatia nos meus braços. Sorri. Não ia soltar tão fácil.
— Você sempre dança assim com estranhos? — perguntei, aproximando o rosto só o suficiente para sentir mais do perfume dela.
— Estranhos que puxam sem pedir? — ela retrucou, arqueando a sobrancelha. — A menos que você seja mágico, é melhor soltar.
— Não sou mágico. — Sussurrei, quase rindo. — Só irresistível.
Os olhos dela rolaram com impaciência, mas percebi o canto da boca ameaçar sorrir. Ela tentava disfarçar, mas eu já tinha pegado o fio.
Ela pode me odiar o quanto quiser. Eu vou fazer essa teimosia se render.
Ana
A música seguia rápida, e eu tentava escapar, mas cada passo que eu dava ele acompanhava. Era como se já soubesse aonde eu ia, como se fosse capaz de ler minha mente.
— Você é insistente… — disse, a voz mais baixa do que queria.
— E você é explosiva. — Ele respondeu sem piscar, os olhos fixos nos meus, e um arrepio subiu pela minha nuca.
Não queria admitir, mas dançar com ele era… diferente. Eu não estava acostumada a ser acompanhada de verdade. Ele não tentava me arrastar, ele me seguia com firmeza, e isso me confundia.
Atrás de nós, os meninos faziam trapalhadas. Um quase derrubou o chapéu de um senhor, o outro tropeçou na barraca de canjica, espalhando milho pelo chão. Cruzei os braços por um instante, lançando um olhar de “eu avisei” para eles.
Marcos riu, o peito vibrando contra minha mão.
— Percebe, Ana, que eu consigo acompanhar seu ritmo?
— Aposto que você não consegue me dominar.
Ele inclinou o rosto ainda mais perto, o hálito quente roçando meu ouvido.
— Dominar não é meu objetivo… só quero acompanhar.
Marcos
A respiração dela falhou. Pequena, mas eu percebi. A pele dela arrepiou sob meus dedos na cintura, e foi nesse detalhe que entendi: eu estava dentro da barreira dela.
Essa mulher acha que manda no jogo. Mas no fundo, já está dançando no meu ritmo também.
Quando a música acabou, ela se afastou rindo. Uma risada curta, nervosa.
— Ainda bem que acabou, senão você ia se achar importante.
— Importante? — sorri. — Não. Mas você acabou de me conquistar, mesmo sem perceber.
O olhar dela congelou por um segundo. Bingo.
Ana
Eu não esperava por aquilo. Não esperava sinceridade de alguém como ele. Fiquei sem reação, sem saber se ria da cara dele ou se dava outro chute.
Mais tarde, quando fui ao banheiro, respirei aliviada por alguns minutos de paz. Mas ao sair, lá estava ele, encostado na parede, braços cruzados, sorriso maroto. Aquele sorriso que me irritava… e me deixava curiosa demais.
— O que está fazendo aqui? Está me perseguindo? — perguntei, cruzando os braços, tentando soar mais dura do que realmente estava.
— Eu não estou te perseguindo… só cuidando do que me é precioso.
Arqueei a sobrancelha. — Precioso? Você mal me conhece!
Marcos
Eu não preciso conhecer para saber o que quero. E eu quero você.
Dei um passo à frente, sentindo o perfume dela misturar com o meu. A tensão no ar era quase palpável.
— E o que você vai fazer para me impedir? — perguntei, baixo, quase provocando o beijo que eu já adivinhava que ela queria tanto quanto eu.
Ana
Por um segundo, fiquei sem ar. Os olhos verdes dele queimavam nos meus, e meu corpo reagiu sem minha permissão. Inclinei levemente a cabeça, como se fosse ceder.
Mas no último instante, me salvei.
— Socorro! — gritei.
Os seguranças apareceram correndo.
— O que aconteceu, senhorita?
— Esse homem tentou me agarrar! — apontei para Marcos, satisfeita com meu golpe.
Ele levantou as mãos. — Esperem, eu…
— Segurem ele, ou reclamo com o frei! — completei, antes de me afastar com a cabeça erguida.
Marcos
Fiquei parado, assistindo ela sumir na multidão. Um riso baixo escapou.
Ela é impossível. Mas irresistível. Não vai acabar assim.
Ana
Voltei para perto da minha família, respirando fundo. — Vamos embora antes que ele se livre dos seguranças e venha atrás de mim.
Os meninos riram, minha mãe apenas ergueu a sobrancelha com aquele olhar de quem já sabe mais do que deveria.
No carro, todos comentavam da festa, rindo alto. Eu tentava me convencer: Ainda bem que não vou encontrá-lo de novo. Ele é um perigo ambulante.
Mas não adiantava. Os olhos dele continuavam queimando na minha mente, e o cheiro dele, aquela mistura de couro e perfume amadeirado, ainda grudava na minha pele.
— Ana, você tá rindo sozinha? — perguntou um dos meninos.
— Nada não… só lembrei da pamonha voando. — disfarcei.
Mas por dentro, eu sabia: aquilo tinha apenas começado.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Irene Saez Lage
Hahahahah gostei ela está se fazendo de durona mais vai cair na lábia desse rapaz
2025-09-10
3
AndressaAutora
Cuidado Ana, ainda não percebeu que esse homem gosta de desafio, não era pra você ter falado isso kkk
2025-09-12
0
AndressaAutora
É ana pelo jeito você arrumou pra hoje né, ele não vai te largar tão cedo kkk
2025-09-12
0