confissões de meia-noite

O apartamento de Elara era pequeno, mas aconchegante. Uma sala com sofá gasto, alguns livros espalhados e uma xícara esquecida em cima da mesa de centro. Depois de um dia intenso na Cross Corp, ela jogou a bolsa no sofá e respirou fundo, tentando deixar para trás o peso do olhar penetrante de Maximilian Cross.

“Não vou pensar nele. Não vou.”

Mas, claro, sua mente insistia em repetir cada detalhe: a forma como ele a encarou de perto, o sorriso sarcástico, a voz grave ecoando em sua cabeça.

— Ridículo. — murmurou, tirando os sapatos e andando até a cozinha. — Ele deve ser só mais um desses ricaços convencidos que adoram brincar com quem trabalha para eles.

Elara colocou água para ferver e, enquanto esperava, o celular vibrou. Era uma chamada de vídeo de Clara.

— Elaraaa! — a amiga surgiu na tela, com aquele sorriso travesso de sempre. — Então, me conta: e o chefão? Como é ele?

Elara rolou os olhos, tentando não sorrir. — Clara, não começa.

— Ah, para! — Clara ajeitou o cabelo e estreitou os olhos, curiosa. — Ele é tão gato quanto nas fotos que aparecem nas revistas de negócios?

Elara suspirou e sentou-se no sofá, ajeitando a câmera. — Gato, sim. Rico, sim. Arrogante… em dobro.

Clara riu alto. — Eu sabia! Esses CEOs sempre têm cara de quem já nasceu com o mundo nas mãos.

— Exato. — Elara pegou a xícara e encheu com chá quente. — E, olha, pode ter certeza de uma coisa: eu não vou me apegar. Esse tipo de homem deve ser um galinha. Rico, poderoso, acostumado a ter tudo e todos que quer.

Clara arqueou uma sobrancelha, divertida. — Hum… falas com tanta convicção, como se já não tivesse sentido aquele friozinho na barriga quando ele apareceu.

— Friozinho? — Elara quase engasgou com o chá. — Foi mais medo mesmo.

— Medo com tempero de atração, aposto. — Clara gargalhou.

— Clara! — Elara revirou os olhos, mas um leve rubor subiu às suas bochechas. — Eu não estou aqui para me meter em confusão. Preciso focar no trabalho, na minha carreira. Só isso importa.

Clara fez uma careta de “não me convenceu”. — Claro, claro… você foca no trabalho e eu fingo que acredito que não ficou balançada com o homem mais poderoso da cidade.

Elara se afundou no sofá, mordendo o lábio, sem admitir em voz alta que talvez Clara tivesse razão. Porque, no fundo, sabia que o que sentira no escritório de Maximilian Cross não tinha nada de profissional.

E esse era exatamente o problema.

........... ............

A porta blindada se abriu com um clique suave. Maximilian Cross entrou em seu apartamento de cobertura, silencioso e impecável como sempre. O espaço era amplo, com janelas de vidro do chão ao teto que revelavam a cidade iluminada. Tudo ali exalava poder: móveis modernos, obras de arte minimalistas, e uma coleção de vinhos raros disposta em uma prateleira iluminada.

Ele jogou a chave sobre a bancada de mármore e afrouxou a gravata, caminhando até a sala de estar. O silêncio o recebeu como um velho conhecido.

Era curioso. Todos viam nele o homem que tinha tudo: dinheiro, prestígio, poder. Mas ninguém percebia o quanto aquela cobertura era fria. Não havia risadas, não havia vozes, não havia calor humano. Apenas silêncio.

Maximilian abriu uma garrafa de whisky e serviu-se de um copo. O líquido âmbar brilhou sob a luz suave, e ele se recostou no sofá, fitando a cidade pela janela.

Por alguns minutos, tentou focar na próxima reunião, nos contratos pendentes, nos números que governavam sua vida. Mas, inevitavelmente, sua mente voltou para ela.

Elara Mendes.

Os olhos firmes, a resposta desafiadora, o jeito de segurar o medo e transformá-lo em força.

Maximilian passou a língua pelos lábios, quase rindo de si mesmo. — Imprudente… e intrigante.

Ele não permitia distrações. Nunca. Mas havia algo nela que o desarmava, ainda que por segundos. Uma energia que o desafiava a querer testar mais, arrancar reações, descobrir até onde aquela coragem resistiria.

“Ela me olha como se não tivesse medo. Mas eu sei que tem. Todo mundo tem.”

Tomou um gole longo de whisky, sentindo a queima descendo pela garganta. O silêncio da casa parecia gritar contra ele, lembrando-o do vazio que se escondia por trás da fachada de CEO implacável.

Levantou-se e andou até o quarto. Um espaço amplo, organizado demais, sem nenhum sinal de vida pessoal. Na cabeceira, apenas um relógio de luxo e um livro inacabado. Nada de fotos, nada de lembranças.

Maximilian tirou o relógio do pulso e o colocou sobre a mesa de cabeceira com um gesto lento. Sentou-se na cama, passou a mão pelos cabelos e suspirou.

O rosto dela voltou à mente. A determinação nos olhos. A voz firme.

— Vai ser divertido ver até onde você consegue resistir, Elara. — murmurou para o vazio do quarto.

E, pela primeira vez em muito tempo, ele percebeu que estava ansioso pelo dia seguinte.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!