Sussurros do passado

O domingo amanheceu tranquilo, mas dentro de Isabela havia uma agitação difícil de controlar. O beijo da noite anterior ainda queimava em sua memória, como se cada segundo tivesse ficado gravado em sua pele. Não lembrava da última vez em que havia sentido algo tão intenso e verdadeiro.

Camila, como sempre, foi a primeira a perceber a mudança em sua amiga. Assim que se encontraram para um café rápido no fim da manhã, lançou um olhar malicioso.

— Então? — perguntou, com um sorriso travesso. — Quero todos os detalhes.

Isabela corou, rindo nervosa.

— Não aconteceu nada demais... fomos jantar, conversamos e... bom, ele me beijou.

Camila bateu palmas, empolgada.

— Eu sabia! Desde o dia em que você falou dele, percebi que tinha alguma coisa especial aí.

Isabela suspirou, apoiando o rosto nas mãos.

— É tudo tão rápido, Camila. Eu mal o conheço... e, ao mesmo tempo, sinto como se já fizesse parte da minha vida.

A amiga inclinou-se sobre a mesa, séria por um instante.

— Não lute contra isso. Às vezes, a vida coloca pessoas no nosso caminho por um motivo.

As palavras de Camila ecoaram no coração de Isabela pelo resto do dia. No entanto, em meio à euforia do sentimento nascente, também surgia um medo silencioso: e se Gabriel escondesse mais do que havia revelado?

Na segunda-feira, decidiu passar no hospital para deixar alguns documentos de rotina de seu trabalho — parte de uma parceria com a secretaria de saúde da cidade. No fundo, sabia que também esperava vê-lo.

O ambiente estava movimentado, mas bastou cruzar o corredor principal para que o olhar dela fosse atraído por ele. Gabriel estava de jaleco, conversando com um paciente idoso, com uma expressão serena e atenciosa. A cena aqueceu o coração de Isabela: havia nele uma generosidade genuína, uma dedicação que não se via todos os dias.

Quando o atendimento terminou, Gabriel percebeu sua presença. Um sorriso imediato iluminou seu rosto.

— Isabela! Que surpresa boa.

— Vim entregar alguns documentos — explicou ela, levantando a pasta. — Mas, confesso, também queria te ver.

Ele riu, aproximando-se.

— Que coincidência... eu estava pensando em você agora mesmo.

O coração dela disparou. Era impossível não acreditar que havia algo especial crescendo entre eles.

Antes que pudessem conversar mais, uma enfermeira se aproximou com expressão preocupada.

— Doutor, aquele paciente novo... ele perguntou novamente sobre sua mudança para cá. Disse que conhecia alguém do seu passado.

Gabriel endureceu de repente. Seu semblante, até então leve, ficou sombrio.

— Diga a ele que não é assunto para agora — respondeu em voz baixa, firme.

Isabela observou a mudança repentina, intrigada. Quando a enfermeira se afastou, ela não conseguiu conter a curiosidade.

— Tudo bem?

Gabriel respirou fundo, forçando um sorriso.

— Está sim. Apenas... questões antigas. Nada que você precise se preocupar.

Ela assentiu, mas sentiu o peso escondido em suas palavras. Algo em seu passado ainda o perseguia, algo que ele não estava pronto para revelar.

Naquele momento, Isabela compreendeu que amar Gabriel não seria simples. Junto com o brilho dos olhos verdes vinha também a sombra de segredos que poderiam mudar tudo.

E, no fundo, uma pergunta começou a ecoar em seu coração: estaria preparada para enfrentar os fantasmas que vinham junto com aquele amor?

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