Uma semana ruim

Isabella

A minha semana começou mal, não mal tipo “esqueci o guarda-chuva e caiu uma tempestade”. Mal do tipo “a vida decidiu rir da minha cara e eu virei a piada principal”. Primeiro, um empresário com memória curta achou que seria uma boa ideia me convidar para voltar a atuar, eu ri na cara dele, não porque a proposta era ruim, convenhamos, dinheiro sempre é bom, mas porque ele parecia ter esquecido que a minha “carreira” de atriz terminou quando eu tinha quinze anos e estava cansada de ser chamada de a menininha fofa das propagandas de iogurte.

Hoje, eu sou psiquiatra, Doutora Isabella Reynolds e olha, não foi fácil chegar aqui eu tive que ouvir que era “médica de fachada”, “celebridade frustrada”, que “não passava de uma atriz tentando brincar de médica". Eu engoli cada uma dessas merdas com classe, ralei dobrado, e agora sou respeitada, não vou jogar tudo no lixo só porque alguém acha que seria “divertido” me ver chorando em frente às câmeras de novo.

Como se não bastasse, meu apartamento resolveu me trair também: um cano estourou e transformou minha sala em uma piscina olímpica sem troféu, sem medalha, só cheiro de mofo e prejuízo, graças à minha mãe, a maravilhosa doutora Margaret eu consegui outro apartamento às pressas, ela encontrou um lugar no Upper East Side, e eu aceitei, não era hora de frescura enquanto a mudança e o contrato estavam sendo preparada eu fiquei em um hotel. Até aí, dá para dizer que era apenas uma sequência de pequenos infernos, mas a vida, sempre criativa, decidiu adicionar drama e eu, que tenho senso de humor ácido, até achei engraçado no começo até que não foi mais.nEu jurava que, apesar de tudo, o final da semana seria melhor porque eu tinha um namorado e não qualquer namorado: Mark, o jornalista brilhante, charmoso e mais velho, claro. O tipo de homem que sua mãe aprovaria porque “é estável, querido, sério” a gente se conheceu na faculdade, ele foi visitar um amigo no meu setor e parecia coisa de filme: amizade que virou paixão. E nos últimos meses, ele vinha dando sinais de casamento, sabe aquelas indiretas sobre filhos, casa no campo, “já pensou no seu vestido de noiva”? Pois é. Eu estava pronta para receber um anel. Mas na sexta-feira eu decidi fazer uma surpresa, ingênua que sou, fui até o estúdio dele. Entrei sorridente, leve, pensando em saltar nos braços dele e o que eu encontro? Meu namorado de “vida privada” aos beijos com a garota do tempo dentro do camarim dele a garota do tempo A versão barata de uma previsão ruim. Naquele momento, eu considerei um escândalo digno de novela mexicana, socos, tapas, talvez um “como você ousa?" Mas não eu, a psiquiatra séria, a mulher respeitada, apenas virei as costas e fingi que não vi nada, engoli como quem engole um comprimido sem água: doloroso, amargo, entalado. No sábado, a cereja do bolo, consulta marcada para receber resultados de exames, eu vinha sentindo desmaios frequentes, dores de cabeça que me faziam querer arrancar o próprio cérebro, pensei: enxaqueca, estresse, talvez anemia, nada demais. Sentei-me diante do médico, um sujeito de meia-idade com óculos grossos, ele abriu a pasta com a calma de quem vai anunciar que sua pizza atrasou, não que sua vida acabou.

— Senhorita Reynolds os exames confirmaram um tumor no cérebro.

Eu soltei uma risada curta. — Tumor? O senhor tem certeza que está lendo o resultado certo?

Ele me olhou por cima dos óculos. — Tenho! O tumor está pressionando a região que controla as emoções. É por isso que você está sorrindo ao receber essa notícia.

Minha risada morreu.

— Então é benigno? Pode operar?

Ele suspirou. — O tumor está em um local muito arriscado, uma cirurgia seria fatal.

— E o que eu posso fazer, então?

— Apenas cuidados paliativos, vou pedir mais exames, mas sem tratamento, você teria, no máximo, seis meses de vida.

Seis meses, meio ano, duzentos e poucos dias.

Eu levantei como se o chão estivesse em chamas. — Eu não vou fazer exame nenhum nem tratamento.

— Doutora Reynolds... — ele começou.

— Obrigada, doutor, foi esclarecedor. — Sorri de novo, porque era tudo o que eu conseguia fazer. — Tenha um bom dia.

Saí do consultório como quem sai de um filme ruim o mundo, até então caótico, de repente ficou sem graça. O que eu fiz? Talvez pelo choque, talvez porque sou boa em autossabotagem: eu fui beber, dois dias sem dormir, hotéis baratos, bares com cheiro de fritura, boates cheias de gente suada, engoli vodka, tequila, cerveja qualquer coisa que fizesse meu cérebro calar.

Na segunda-feira, eu estava destruída e brava, brava com Deus, com Mark, com minha cabeça defeituosa. Para variar, meu celular vibrou: mensagem da minha mãe. “O novo apartamento já está pronto, suas coisas estão organizadas no apartamento 505”

Respirei fundo, tomei um banho gelado e pensei: ótimo. Tenho seis meses, um apartamento novo e um namorado traidor perfeito. Mas eu não sou do tipo que chora no travesseiro, não eu sou do tipo que pega o celular, olha a localização do namorado e descobre que ele está em um shopping, como se nada tivesse acontecido a raiva subiu como um foguete.

— Se eu vou morrer, alguém vai comigo, seu filho da puta.

Segui o desgraçado pelo shopping, observando como eu fui ficar com esse homem ridículo.

— Sua namorada está desaparecida desde sexta, e você não me manda uma mensagem, seu filho da mãe.

Aí veio a epifania, entrei em uma loja, comprei um spray de tinta e um martelo sim, um martelo não sei se eu pretendia destruir o carro dele ou a cara dele, mas eu estava decidida.

Desci para o estacionamento quase vazio procurei o carro como quem caça tesouro, quando finalmente encontrei, sorri com a satisfação de uma vilã de desenho animado e comecei a trabalhar.

“TRAIDOR.”

“TE ODEIO.”

Desenhos obscenos, palavrões criativos, um verdadeiro mural de ódio estava quase poético, eu já estava pronta para a obra-prima, quando uma mão firme agarrou meu pulso.

Virei-me assustada e dei de cara com um homem alto, olhos claros, expressão de poucos amigos, aquele tipo de cara que parecia ter saído direto de uma revista.

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Comments

Irene Corrêa

Irene Corrêa

rindo 😂😂🤣😂, de início gostando kkkk

2025-09-12

0

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