Pesadelos e Novos Começos

Rafael

Acordei com o coração batendo descompassado, a respiração irregular, e o corpo ensopado de suor, ainda podia ouvir os gritos, ainda podia sentir o cheiro de sangue no ar, a missão voltava a mim, implacável, como se estivesse acontecendo agora. Corpos estendidos no chão, olhares vazios, rostos de pessoas que eu jurava proteger e que haviam morrido por minha falha. Cada detalhe do massacre estava gravado na minha mente, se recusando a se apagar, aquelas imagens queimavam meus olhos mesmo com os meus olhos fechados, assim que abri lhei para o relógio: 4h da manhã um frio cortante percorreu minha espinha.

— Três horas de sono, um luxo que não posso me dar. — murmurei em voz baixa, enviando uma mensagem rápida para mim mesmo como se pudesse organizar meus pensamentos por texto.

Levantei-me, sentindo o chão frio sob meus pés, o apartamento silencioso parecia absorver minha fúria e minha exaustão, vesti minhas roupas de treino e saí. O ar da madrugada era gelado, cortante, uma sensação de alerta permanente, as ruas do Upper East Side estavam desertas, silenciosas, quase respeitosas diante da minha raiva e do meu cansaço. Corri, sentindo cada músculo protestar e cada respiração se misturar ao frio intenso, era como se cada passo ajudasse a arrancar o pesadelo que me agarrava, mas, no fundo, eu sabia que não haveria alívio completo.

De volta ao prédio, fui direto para a academia Meus punhos acertaram o saco de boxe com violência, e cada golpe carregava não só a raiva do pesadelo, mas a frustração de dias, semanas e meses de tensão acumulada, corri na esteira, depois no tapete, sentindo o corpo arder, e por alguns minutos, a dor física parecia mais suportável do que a dor na mente o treino era um ritual, uma tentativa de me reconectar com algo que não fosse horror.

Quando finalmente terminei, cansado, mas mais centrado, notei algo estranho no corredor do meu prédio. Caixas empilhadas, móveis novos, pequenos detalhes que gritavam feminilidade e bom gosto. Alguém estava se mudando para o apartamento ao lado, uma garota, pelas cores suaves e pelos objetos delicados, um detalhe sem importância? Talvez, mas algo dentro de mim registrou cada item, cada movimento. Voltei para meu apartamento, tomei um banho rápido e vesti o uniforme para o trabalho, o humor continuava ruim, carregado de tensão e raiva contida cheguei à delegacia e, como esperado, meu chefe me chamou, preparei-me para uma bronca. O plantão anterior tinha sido um desastre, meu ataque de raiva quase colocou a equipe inteira em risco meu histórico impecável não pesava tanto quanto aquele momento.

— Rafael, sente-se — disse ele, sério, olhos fixos nos meus. — Você vai ficar afastado das operações de risco.

— Não posso — disse, a voz firme, mas carregada de frustração. — Estou seguindo uma pista crucial sobre um carregamento de drogas.

Ele suspirou, já sabendo que qualquer argumento meu não mudaria a decisão dele.

— Sua única opção agora é ouvir — disse. — Você fará terapia ou terá que se aposentar.

Revirei os olhos, lembrando das inúmeras vezes em que tentara conversas inúteis, exercícios mentais que nunca tinham efeito.

— Já fiz terapia, chefe — retruquei.

— Faça de novo então, vá na consulta — respondeu ele, firme. — Faça o tratamento, traga o laudo. Enquanto isso, trabalho administrativo, patrulha de rotina, nada de operações grandes. Me prove que você está apto a trabalhar ou então a aposentadoria te espera, estamos entendido?

— Entendido, senhor — murmurei, tentando não explodir.

Ele me entregou o endereço da clínica no caminho, meus pensamentos eram uma mistura de raiva e cansaço. Mais uma sessão inútil, pensei, sempre a mesma ladainha, mas eu precisava cumprir, eu precisava mostrar controle, mesmo quando meu cérebro insistia em me torturar com lembranças que não deveriam existir.

Cheguei à clínica que fica em um shopping, um lugar moderno, frio e impessoal, cheio de relógios e paredes brancas. Sentei-me diante do psicólogo e, antes que pudesse falar, ele me olhou com aquela expressão que parecia dizer “não há solução fácil para você” e bem dito e feito assim que ele analisou a minha ficha, e me escutou pelos longos quarenta minutos ele disse:

— Rafael, não vou conseguir ajudá-lo — disse ele, sério.

— Você tem que me ajudar — respondi, sentindo o estresse se transformar em frustração pura. — Preciso sair dessa antes que algo pior aconteça.

— Vou ter que encaminhá-lo a um psiquiatra — disse, finalmente.

— E qual é a diferença? — perguntei, impaciente.

— Psicólogos trabalham com técnicas, conversas, apoio emocional, Psiquiatras lidam com traumas mais profundos, podem prescrever tratamentos. A profissional que vou indicar é jovem, mas uma das melhores no ramo, talento excepcional marcarei sua consulta em breve.

— Tudo bem — murmurei, resignado.

Saí da clínica e caminhei até o estacionamento, mesmo sendo cinco da tarde o lugar estava escuro, silencioso e bom cheio de carros para todo lado, mas cada passo ecoava no concreto, e o frio parecia intensificar a sensação de alerta. Foi então que meu coração deu um salto o meu carro, meu orgulho, meu refúgio, estava sendo vandalizado, uma mulher com uma lata de spray em mãos, pichava insultos, desenhos grotescos e palavras de ódio sobre meu carro.

— Ei! — gritei, correndo até ela. — Solta o spray!

Segurei seu braço, ela exalava cheiro de álcool misturado com perfume forte, e seus olhos vermelhos fixaram-se em mim com uma mistura de desafio e raiva.

— Me larga, eu preciso dar uma lição nesse traidor — gritou, rindo de forma nervosa e alta, mas sem se mover.

Senti o sangue subir a raiva se misturava com a incredulidade o meu carro? Meu símbolo de controle, cuidado e disciplina.

— Solta o spray — disse novamente, firme. — Agora.

Ela me olhou com desdém, o riso nervoso tremendo, o cheiro de álcool ainda forte, o braço tenso, pronto para resistir, mas havia algo mais um traço de ousadia que me fez arquear uma sobrancelha.

— Porquê você tá pichando o meu carro — murmurei, cada palavra carregada de tensão.

Ela respirou fundo, o cheiro de álcool e perfume se misturando, e sorriu de forma torta, meus sentidos estavam alerta, minha mente girando entre o choque, a raiva e uma estranha curiosidade.

— Que besteira você tá falando esse cara e do maldito do meu namorado. — Ela disse cheia de ousadia.

Em anos de profissão eu nunca tinha encontrado uma mulher tão bela e tão louca ao mesmo tempo.

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Comments

Tiezzy

Tiezzy

Uau 😍😍

2025-08-31

0

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