Capítulo 3

Lua

Eu tenho uma ótima memória, na verdade, tenho memória fotográfica. Quando eu tinha cinco anos meus pais decidiram acampar com toda a família.

Mas a ideia de acampar da minha mãe sempre foi diferente da do meu pai. Ele queria barracas e sacos de dormir já ela levava o trailer para ter o conforto de uma cama, televisão, geladeira e um fogão simples além de um pequeno banheiro.

Era só mais uma semana no meio do mato com fogueiras, marshmallow torrados e histórias de terror até que meu dia virou uma das histórias de terror que meus familiares contavam.

Eu estava brincando com a minha bola de futebol favorita, meu pai me deu uma bola rosa, amava aquela bola e acabei chutando-a para longe. A bola desceu uma pequena ribanceira.

Eu era uma criança aventureira e não tive medo de me afastar dos meus pais para ir pegar minha bola, afinal não estava muito longe deles.

Assim que desci avistei minha bola, ela estava aos pés de um senhor de idade. Ele sorriu para mim, pegou a bola e a esticou em um gesto que me sugeriu que iria entregar minha bola.

Mesmo com medo queria minha bola de volta. Desci devagar e quando toquei com as duas mãos na bola o homem segurou minhas mãos com força.

— Ei, garotinha linda, quer comer doces? Tenho doces logo ali. — ele aponta para um lado onde só vejo mato alto.

— Não! Quero apenas minha bolinha.

Respondi e tentei puxar a mão para longe dele, mas ele se abaixou, pegou uma pedra e acertou minha cabeça. Doeu tanto, não consegui manter meus olhos abertos, eu piscava lentamente me senti sendo arrastada.

Com minhas lentas piscadas eu via céu, via árvores e às vezes mato alto. Até que algo aconteceu, tenho certeza que vi cães grandes, um branco muito grande e um preto um pouco menor.

Mas tinha algo diferente nesses cães enormes, eles não se pareciam com os que eu tenho na minha casa. Fechei meus olhos de vez e quando os abri novamente me vi nas costas do cão branco e depois eu estava no chão com meus pais chorando à minha volta.

Me levaram para o hospital, depois que fiquei consciente contei para os meus pais e para o senhor policial o que tinha acontecido, mas ninguém acreditou em mim.

Ouvi a médica falar para os meus pais que provavelmente eu havia caído e batido forte a cabeça em alguma pedra e que depois devo ter caminhado desnorteada procurando por eles até que cai onde me encontraram.

Me senti péssima, ninguém acreditava em mim. Meus pais deveriam acreditar em mim, ninguém acreditou.

Cresci com isso na cabeça e meus pais por anos desistiram de acampar por causa do meu acidente.

Dez anos depois…

— Lua, tem certeza que quer isso de presente de aniversário de quinze anos? — minha mãe perguntou preocupada.

— Não fazemos isso há dez anos por minha culpa! Sinto que vocês tem vontade de acampar, então sim, mamãe, eu quero acampar no meu aniversário. — dou uma resposta convicta.

— Laura, nossa filha quer acampar, então vamos acampar. — meu pai fala alegre.

Seguimos com os preparativos para acampar, minha mãe alugou um trailer já que o que tínhamos ela vendeu. Meu pai pega as barracas a muito tempo guardadas e os sacos de dormir.

Eu faço uma pequena mochila com poucas roupas já que iremos passar o final de semana apenas.

Chegando lá olho tudo à minha volta, gosto da natureza desde criança. Mas estou ansiosa para ir até o outro lado ver se encontro a criatura que me salvou do meu captor.

— Lua, por que está olhando tanto para a trilha? — minha mãe pergunta.

— Mãe, vou andar um pouco, quero esticar as pernas. Três horas no carro acaba com qualquer um.

— Não vá para longe, vou preparar o almoço.

Dou um sorriso para a minha mãe enquanto meu pai está distraído brigando com a barraca que não fica do jeito que ele quer. Assim que meus pais não conseguem mais me ver corro até a beirada da pista.

Fico ali olhando para a floresta do outro lado da pista, o lugar que vi a criatura que me salvou pela última vez. Sem olhar para os lados eu coloco um pé na pista, sou puxada bruscamente para trás quando um carro passa por mim quase me atropelando.

— Lua, você está ficando maluca? — minha prima, Drica, fala com a mão no peito — A tia sempre te ensinou a olhar para os dois lados antes de atravessar a rua… o que deu em você?

— Como me achou? O que está fazendo aqui?

— A família toda está chegando para comemorar seu aniversário acampando. A tia me falou que você pegou a trilha e quando eu estava quase chegando em você começou a correr igual doida para o lado errado da trilha, eu apenas te segui.

Drica e eu somos melhores amigas, temos a mesma idade e nascemos no mesmo dia, ela pela manhã e eu a noite.

— Eu só… — olho para o outro lado da pista — Só pensei ter visto algo. Vamos, minha mãe disse que iria fazer o almoço, ela odeia atrasos.

— Isso é verdade. Vamos logo.

Ela segura minha mão e me puxa de volta para o acampamento. Eu não queria ir, precisava entrar naquela mata para encontrar a minha criatura heróica, mas naquele momento eu não podia.

Assim como não acreditaram em mim quando criança, iriam achar loucura descobrir que só fiz tudo isso para encontrar e olhar de perto o que se parecia com um cão, só que não era um.

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Comments

Marli Santos

Marli Santos

como certeza o perseu viu ela , atração dela tá falando mais alto

2025-08-30

2

vilma assis

vilma assis

será que ele sentiu o cheiro 👃 dela 🤔

2025-08-31

0

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