Capítulo 2

Alya

Tenho uma família perfeita. Amo meus pais incondicionalmente, amo minha irmã caçula, mas tenho que confessar: minha razão de viver é meu gêmeo, Perseu. Desde o nosso nascimento, nossa mãe conta que não dormíamos separados.

Ela conta que até tentava colocar cada um num berço, mas chorávamos demais e só ficávamos calados coladinhos um no outro. Acho que mesmo em bolsas gestacionais separadas nosso vínculo já era forte demais.

Temos uma conexão tão intensa que nossos lobos se transformaram no mesmo dia quando tínhamos seis anos de idade. Gostamos muito de correr pela floresta, mas hoje algo terrível aconteceu: Perseu matou um humano pela primeira vez.

Sei que foi para salvar uma linda garotinha de cabelos negros e lisos com uma linda franjinha. Sua pele de bonequinha de porcelana e seus lábios vermelhos me fizeram lembrar a Branca de neve, uma história infantil que nossa mãe contava para nós.

Meu irmão mordeu e arrancou um pedaço do pescoço do velho humano e ficou assistindo ele estrebuchar e morrer. Depois levamos a menina para a beirada da pista e ficamos ali observando até que alguns humanos a encontraram chamando-a de Lua.

— “Vamos, Zephyr…” — puxo meu irmão que está rosnando e dando passos para frente ao ver os humanos pegarem a menina Lua — “O que pensa que vai fazer?”

Seguro ele pelo rabo com o meu focinho e puxo para dentro da mata. Sem muita escolha meu irmão começa a correr em direção a cabana da nossa bisavó e eu tento acompanhá-lo o que se torna difícil já que a cada dia que passa ele está ficando cada vez mais rápido.

— “O que aconteceu lá atrás, Zephyr?”

— “Nada! Volte para casa.” — ele rosna e acelera.

— “Não! Precisamos conversar, você matou um humano.”

Ele corre cada vez mais rápido e eu acabo tropeçando tentando acompanhá-lo e com isso dou algumas cambalhotas e paro ao bater em uma árvore. Não desisto e volto a correr.

Quando chegamos na velha casa da nossa bisavó, meu irmão já estava lá dentro na sua forma humana abotoando sua bermuda. Ele se joga no sofá com as mãos no rosto e eu vou até o quarto para voltar a forma humana e vestir uma roupa.

— Agora vai me contar o que aconteceu lá na floresta, Perseu? — pergunto ajustando o vestido no meu corpo.

— Aconteceu o que você viu! Não conte para os nossos pais, por favor. — meu irmão responde com o semblante carregado de sentimentos confusos.

— Mas… e a menina? Você parecia querer ficar com ela.

— Eu ainda quero! — ele quase grita — Quero cuidar, quero protegê-la, quero ser seu abrigo mais seguro… ela tinha cheiro de florais e frutados. Era doce, único, irresistível e sedutor. — ele confessa.

Essa não. Será que é o que eu estou pensando? A Deusa da Lua seria capaz de dar uma Luna humana para o meu irmão?

— Irmão, isso quer dizer que… — ele corta a minha fala.

— Alya, vamos esquecer esse dia, ok?

Ficamos nos encarando por um tempo até que decidimos ir para casa. Sei que era o certo contar para os meus pais, mas eu não poderia trair meu irmão, meu melhor amigo.

Os dias começaram a virar semanas e as semanas viraram meses, não tivemos mais notícias da pequena humana apesar do meu irmão ir todos os dias até a beira da estrada onde a deixamos só para tentar vê-la novamente.

Nosso aniversário de dezesseis anos chegou e com ele a nossa primeira temporada da bruma. Meu irmão se isolou na velha cabana da nossa bisavó e eu corri para a mata, corri para o mais longe que eu consegui.

Assim como meu irmão, eu não queria me entregar para qualquer um só porque nosso corpo exigia isso. Quero que seja com alguém especial e que vai ficar ao meu lado, vai querer ter filhotes comigo e um lar.

E por isso corri feito uma louca na minha forma de loba até chegar a exaustão. Caí na grama ao lado de um lago, minha respiração estava tão descontrolada que eu sentia meus pulmões queimarem.

Assim que voltei a respirar normalmente senti o cheiro dele: forte e masculino, aroma fumegante, como fogo sobre pedras… me deixou mais quente.

— “Vá embora.” — rosnei mostrando todos os meus dentes assim que fiquei de pé encarando o enorme lobo de pelagem avermelhada que se aproximava de mim.

— “Como posso ir embora depois de sentir esse cheiro maravilhoso vindo de você? Além do picante cheiro do seu cio, é claro.” — sua tranquilidade me irrita.

— “Está mentindo, não está sentindo nada além do cheiro que a bruma exala de mim. Vou avisar pela última vez: vá embora.” — ele deita onde está e curva o focinho num sorriso.

— “Seu cheiro…” — ele funga com vontade para o meu lado — “Você cheira a uma mistura atraente de frutas silvestres e mel… além dessa leve picância tentadora. ”

Merda. Está tudo piorando, meu corpo está incontrolável, preciso fugir para longe desse macho que está claramente também na bruma. Me viro para correr e ele avisa:

— “Se fizer isso só vai tornar tudo mais divertido para mim. Tem certeza que quer ser caçada pelo futuro Alfa da alcateia Neblina Sombria?” — tem uma risada no final da sua fala. Sem me virar para ele pergunto:

— “Como se chama, futuro Alfa da alcateia Neblina Sombria? Quero saber qual nome devo riscar na terra ao lado do seu corpo quando eu acabar com você.” — me viro devagar mostrando os dentes para ele mais uma vez.

— “No momento sou Nahual, mas pode me chamar de Zhaos. Será que você conseguirá mesmo o que quer? Estou apenas esperando você avançar.”

Ele se aproxima de mim sem medo, sua figura enorme cobre a minha, mas eu não abaixo minha cabeça e continuo encarando o futuro Alfa da alcateia Neblina Sombria.

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Comments

Marli Santos

Marli Santos

hum e agora ela vai resistir acho que não kkk

2025-08-30

1

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