Greta respirou fundo, preparando a cartada final. Esperou Carmilla concluir a defesa, como quem deixa a cobra se enrolar antes de decepar a cabeça.
Quando se levantou, o silêncio foi absoluto. Seus saltos soaram firmes sobre o mármore enquanto ela caminhava até o centro.
— Excelência, a defesa pintou um quadro bonito... mas eu não trabalho com ilusões. Trabalho com fatos.
Ergueu um tablet, e as telas do tribunal se acenderam. O vídeo começou a rodar.
As imagens eram claras: o cliente de Carmilla, tão arrogante até então, surgia em um restaurante luxuoso, reunido com dois homens procurados por crimes brutais. Conversas gravadas mostravam negociação de contratos fraudulentos e subornos milionários.
Um murmúrio percorreu o salão como um incêndio. Os flashes dispararam, jornalistas se remexeram. O juiz franziu o cenho.
Carmilla permaneceu sentada. Imóvel. Apenas um leve sorriso curvou seus lábios, como quem saboreia o veneno antes de contra-atacar.
Greta pousou o tablet, triunfante.
— Senhores, esta é a diferença entre retórica e realidade. — O olhar dela encontrou o de Carmilla, cortante. — A promotoria não joga com palavras... joga com provas.
A sessão quase terminou ali, com a condenação para regime fechado. Quase.
Carmilla se levantou devagar, passos felinos até a tribuna. Sua voz soou baixa, mas carregada de um poder hipnótico:
— Excelência, reconheço a gravidade da prova apresentada. Mas há algo que não foi dito... e que muda todo o quadro.
Silêncio. Olhares fixos. Até Greta, que sempre mantinha o sangue frio, sentiu o coração acelerar.
Carmilla abriu sua pasta com um gesto calculado e exibiu um documento selado com timbre federal.
— Aqui está o acordo de colaboração premiada assinado ontem à noite. — Cada palavra saiu como um golpe cirúrgico. — Meu cliente entregou nomes, contas e operações criminosas envolvendo... — fez uma pausa teatral, os olhos cravados em Greta — pessoas que esta promotoria conhece muito bem.
O salão explodiu em murmúrios. O juiz pediu silêncio, mas a bomba já havia detonado.
Ela continuou, com um sorriso cruel:
— Diante da relevância da colaboração e do risco iminente à integridade do colaborador, solicitamos regime semiaberto e redução da pena.
O juiz ponderou. E concedeu. O cliente de Carmilla não sairia ileso, mas também não apodreceria na prisão.
Quando o martelo bateu, Carmilla voltou para a mesa como quem retorna do campo de batalha com a cabeça do inimigo. Greta a acompanhou com os olhos, o estômago queimando de raiva… e outra coisa que odiava admitir: admiração perversa.
Enquanto recolhia seus papéis, Carmilla se inclinou discretamente para ela, o hálito quente roçando sua pele.
— Você é boa, Greta. Mas eu sempre jogo um nível abaixo do inferno.
Greta fechou os olhos por um segundo, controlando o impulso de cravar as unhas na mesa.
— Isso não acabou. — A voz saiu baixa, rouca.
Carmilla sorriu, os lábios quase tocando o ouvido dela.
— Querida... isso só começou.
...(...)...
A cidade estava molhada de chuva quando Greta empurrou a porta do bar. O ambiente era envolto em penumbra, iluminado apenas por lâmpadas âmbar pendendo como pecados prestes a cair. Jazz antigo preenchia o ar, abafando as conversas dispersas. Ela precisava de um copo. Talvez dois. Qualquer coisa para digerir a sensação amarga da tarde — e o gosto venenoso do sorriso de Carmilla.
Só uma derrota parcial. Mas aquela mulher tinha um jeito de transformar tudo em guerra pessoal… e, pior, em algo que queimava por dentro.
Greta levava o copo aos lábios quando sentiu o perfume. Aquele perfume. Notas amadeiradas misturadas com especiarias, tão forte que pareceu cravar no corpo dela como uma marca invisível.
— Que coincidência... — a voz veio suave, carregada de ironia.
Greta ergueu os olhos. E lá estava ela. Carmilla, impecável, envolta em um vestido preto que grudava no corpo como uma segunda pele, os cabelos soltos caindo como seda. Um sorriso lento, predador, desenhando os lábios.
— Ou perseguição? — Greta rebateu, cruzando as pernas com controle calculado.
Carmilla não pediu permissão; apenas sentou-se à frente, como se o lugar tivesse sido reservado para ela desde sempre. Apoiou os cotovelos na mesa, os olhos fixos em Greta com um brilho insolente.
— Você tem mania de achar que tudo gira ao seu redor, querida.
— Quando alguém entra no mesmo bar que eu, na mesma noite em que destruiu meu caso... é um pouco suspeito.
— Destruiu? — Carmilla soltou uma risada baixa, rouca, que fez Greta estremecer por dentro. — Você quase conseguiu me encurralar. Foi excitante.
Greta arqueou uma sobrancelha.
— Excitante não é a palavra que eu usaria.
— Então qual seria? — Carmilla se inclinou, aproximando-se. O decote discreto revelava apenas o suficiente para distrair qualquer racionalidade. — Porque eu vi o jeito que seus olhos brilhavam quando eu falava. Não era só raiva.
Greta mordeu o interior da boca para não responder. Sabia que Carmilla adorava esse jogo, adorava provocar.
— Você tem uma imaginação fértil demais para uma advogada. — Greta rebateu, girando o copo entre os dedos.
— Eu prefiro chamar de... percepção. — Carmilla estendeu a mão, pegou o copo de Greta sem pedir e levou aos lábios, bebendo um gole lento. — Uísque. Forte. Gosto disso em você.
Greta quase riu.
— Se está tentando me intimidar, vai ter que fazer melhor.
Carmilla colocou o copo de volta, os olhos cravados nos dela, e sorriu de um jeito que fez o ar rarear.
— Intimidar? Oh, Greta... isso seria fácil demais. Eu quero outra coisa.
O silêncio entre as duas ficou denso, carregado, como se qualquer movimento pudesse incendiar o lugar. Greta sentiu o corpo reagir de um jeito que odiava admitir.
— E o que você quer? — perguntou, a voz mais baixa do que pretendia.
Carmilla inclinou a cabeça, um sorriso felino brincando nos lábios.
— Descobrir até onde vai essa raiva que você sente por mim. Porque, sinceramente... — ela passou a língua pelos lábios, devagar — eu tenho minhas suspeitas de que ela sabe dançar com outras coisas.
Antes que Greta pudesse responder, Carmilla se levantou. Pegou a bolsa, ajustou o vestido e olhou para ela por cima do ombro.
— Vejo você no tribunal, querida.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Ana Faneco
Camila essa mulher é um inferno de gostosa 😋 Greta não vai resistir amandoooo
2025-08-22
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