O tribunal estava lotado. Jornalistas se espremiam nas primeiras fileiras, câmeras piscando como lâminas afiadas sob a luz fria. O caso do ano. Um magnata acusado de corrupção ativa, fraudes fiscais e envolvimento com milícias urbanas. Todos queriam ver sangue — e duas mulheres estavam prestes a derramá-lo, cada uma com a sua lâmina.
Carmilla Castilho entrou primeiro. Vestia um tailleur preto que moldava suas curvas com perfeição cirúrgica, saltos escarlates cravando o mármore como garras. Carregava uma pasta sob o braço, mas o que realmente chamava atenção era o olhar: felino, arrogante, hipnotizante. Quando caminhava, o mundo parecia abrir espaço por medo — ou desejo.
E então, a porta do outro lado se abriu. Greta Alercest entrou. O mesmo porte elegante, porém mais contido, austero, com um paletó grafite e a camisa branca abotoada até o último botão. O coque preso com perfeição militar, os lábios pintados de um vinho profundo. Quando os olhos delas se encontraram, por um segundo o ar rarefez. O passado rugiu no silêncio.
Cinco anos de ódio comprimido. Cinco anos de feridas que nunca fecharam.
O juiz pigarreou, mas nenhum dos dois lados pareceu notar. Carmilla ajeitou os óculos de leitura e caminhou até a mesa da defesa. Greta, para a promotoria. Duas rainhas armando seus tronos.
O juiz anunciou as partes, mas Carmilla se inclinou para frente, como quem lança uma flecha:
— Que surpresa desagradável, Alercest. Achei que tinha aprendido a perder na faculdade.
Greta não piscou. Apenas abriu um sorriso que não chegava aos olhos, um sorriso de predador.
— Castilho. Sempre com essa língua afiada… — Ela pausou, deixando a ponta do sarcasmo cortar. — Não sabia que Milão não te ensinou nada sobre elegância.
Carmilla arqueou uma sobrancelha, lenta, venenosa.
— Elegância é vencer, querida. E nisso eu sempre fui melhor que você.
Greta se aproximou até as duas ficarem separadas apenas pela bancada. A voz dela desceu, um sussurro carregado de veneno e algo mais… quente.
— Vamos ver se continua com essa confiança quando eu rasgar sua tese diante da imprensa.
O juiz bateu o martelo, chamando à ordem. A sessão começou. Mas para elas, aquilo era mais do que um julgamento: era um campo de batalha íntimo, uma guerra com cheiro de desejo e pólvora.
Carmilla levantou-se para a abertura da defesa. A voz dela ecoou pelo salão, firme, deliciosa como um veneno envolto em seda:
— Excelência, senhores jurados… hoje verão como a verdade pode ser bela — quando não está manchada pela incompetência da acusação.
Greta cruzou as pernas devagar, sem tirar os olhos dela, e respondeu assim que teve a palavra:
— Ou talvez descubram que alguns advogados vivem de encobrir monstros… e acabam se tornando um deles.
As câmeras captaram cada centelha. Jornalistas anotavam como se assistissem a um duelo mortal. Mas só elas sabiam: isso não era só justiça. Era pessoal. Era íntimo.
Quando Carmilla voltou para a mesa, Greta se inclinou levemente, falando baixo só para ela ouvir:
— Ainda joga sujo, não é?
Carmilla sorriu, devorando-a com os olhos.
— Só quando vale a pena da minha atenção.
Greta sentiu o corpo reagir antes mesmo da mente. Raiva e algo proibido queimaram na mesma chama. A guerra estava só começando.
As horas seguintes no tribunal foram um espetáculo digno de guerra. Cada argumento era uma lâmina afiada. Cada objeção, um golpe certeiro.
Carmilla dominava a sala com a mesma elegância de quem desfila sobre cinzas. Sua voz cortava o ar com precisão:
— Meu cliente é vítima de uma acusação frágil, sem sustentação probatória suficiente para condenação. A promotoria... — ela lançou um olhar afiado para a mulher à frente — ...segue insistindo em construir castelos sobre areia.
Risadinhas discretas ecoaram entre os jornalistas. Greta manteve a postura rígida, mas sob a mesa as mãos estavam cerradas. Ela sabia: Carmilla estava virando a narrativa. O júri parecia hipnotizado pelo magnetismo daquela advogada que não conhecia a palavra “derrota”.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Ana Faneco
Já amandoooo
2025-08-22
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