Sangue Antigo

O toque de Tyler ainda queimava em minha pele horas depois. Não era uma queimadura de verdade… era algo mais profundo. Como se a memória do momento tivesse sido tatuada dentro de mim.

Voltei pra casa sem saber como cheguei lá. Cada passo parecia fora do tempo, como se o mundo tivesse perdido o ritmo. A rua, os postes, os prédios… tudo estava mergulhado em um silêncio estranho, opressivo.

E dentro de mim, algo se movia. Algo antigo.

Eu não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos, flashes me invadiam — imagens que não eram minhas. Sangue escorrendo por pedras negras. Um círculo de símbolos escritos em línguas que eu não conhecia. E no centro… uma mulher. De olhos dourados. De pele pálida e cabelos como a noite.

Ela gritava meu nome.

“Alice…”

Quando abri os olhos, já era de manhã. O céu estava acinzentado, como se o dia também tivesse acordado com medo. Eu me levantei, sentindo o corpo pesado. Um espelho no corredor chamou minha atenção. Eu estava… diferente. Não sei explicar como, mas meus olhos pareciam mais escuros. Mais profundos.

No café, tudo parecia normal — como se o mundo estivesse em negação. Como se ninguém soubesse que havia algo de errado comigo. Clara tentou puxar assunto, mas eu mal ouvi. Estava absorvida demais naquela sensação constante de que não pertencia mais àquele lugar.

E então ele apareceu de novo.

Tyler.

Como sempre, ele entrou como se fosse o dono do tempo. Roupas escuras, olhar calmo, mas cheio de tempestades. Sentou-se na mesma mesa da primeira vez e me chamou com um leve movimento de cabeça.

Eu fui.

— Dormiu bem? — ele perguntou, com um sorriso carregado de ironia.

— Você sabe que não — respondi, cruzando os braços.

Ele assentiu, como se esperasse aquela resposta.

— Está começando. Você está lembrando.

— Lembrando do quê, Tyler? Do que está dentro de mim?

Ele olhou pela janela por um segundo, como se medisse suas palavras com cuidado. Depois voltou o olhar pra mim, sério.

— Alice… você carrega um sangue antigo. Um poder que ficou adormecido por anos. Mas agora, ele está acordando.

Senti meu estômago revirar.

— Poder? Eu? Você tá brincando, né?

Ele se inclinou sobre a mesa, os olhos cravados nos meus.

— Eu não brinco, Alice. Nunca brinco.

Engoli em seco. A cabeça girava.

— Isso tem a ver com meus pais?

Ele hesitou por um segundo. E aí soube: tinha.

— A morte deles não foi um acidente, foi?

Tyler desviou o olhar por um momento, e quando voltou a me encarar, havia um traço de dor ali.

— Não. Eles foram mortos por causa do que você é.

O mundo pareceu tremer sob meus pés. Eu queria gritar, chorar, fugir… mas tudo o que consegui fazer foi sussurrar:

— O que… o que eu sou?

Ele estendeu a mão por cima da mesa e tocou minha pele com a ponta dos dedos. Os olhos dele brilharam de leve, e pela primeira vez, eu vi.

Vi a mulher dos sonhos, vi sangue, vi escuridão… e vi a mim mesma. No meio de tudo isso.

— Você é descendente de um antigo pacto — ele disse baixinho. — E está sendo caçada por isso.

Senti meu corpo gelar. Minha vida inteira tinha sido uma mentira. Meu passado… uma peça mal contada de uma história muito maior.

E agora, eu estava no centro dela.

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