Os dias seguintes foram um borrão. Acordava cedo, ia para o café, sorria para estranhos, servia mesas e fingia normalidade. Mas por dentro… por dentro eu estava em chamas.
Desde aquela noite — desde a mensagem escrita na janela — eu sabia que algo havia mudado. Não apenas no mundo ao meu redor, mas dentro de mim. Como se uma parte esquecida da minha alma tivesse despertado.
E Tyler... ele não reapareceu.
Não ligou. Não voltou ao café. Não deixou rastros. Mas mesmo ausente, ele era presença constante em minha mente. À noite, eu sonhava com ele. Sonhos estranhos, intensos. Às vezes vívidos demais. Eu o via cercado por sombras, os olhos brilhando como se carregassem todo o peso de um passado que ninguém mais conhecia. E eu estava ali, no meio da escuridão, com ele. Sempre com ele.
Na quarta noite, eu acordei sobressaltada, o coração disparado. Um sussurro tinha me tirado do sono. Um sussurro... que dizia meu nome.
“Alice…”
Sentei na cama, o quarto mergulhado no escuro. O relógio piscava 03:03. O ar estava gelado, denso, como se algo invisível preenchesse o espaço. Foi quando senti.
Um toque. Leve. Frio. No meu pulso.
Girei a cabeça, rapidamente. Nada ali. Mas eu juro por tudo que há de real: alguém — ou algo — me tocou. E pior... me chamou.
Na manhã seguinte, fui trabalhar como um zumbi. Clara me olhou preocupada, perguntando se eu estava doente, mas não tinha como explicar o que se passava comigo. Nem eu mesma entendia.
Depois do expediente, sentei no beco atrás do café, onde às vezes fumava escondida, mesmo sem gostar do gosto. Estava ali, de costas para o mundo, tentando entender onde eu tinha me metido, quando ouvi passos. Silenciosos. Controlados.
Não precisei me virar para saber quem era. Senti.
— Você demorou — falei, sem olhar.
— Eu precisava ter certeza de que você estava pronta — a voz dele veio suave, como um trovão abafado.
Tyler se sentou ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas era como se mil palavras fossem ditas só pela presença dele.
— O que está acontecendo comigo? — perguntei, encarando a parede à frente. — Desde que você apareceu, eu não sou mais a mesma.
Ele olhou para mim, e seus olhos tinham aquele brilho escuro de sempre, mas havia também algo mais... algo vulnerável.
— Você nunca foi a mesma. Só não sabia.
— Eu quero respostas, Tyler.
Ele suspirou.
— Algumas respostas mudam tudo. Você está preparada pra isso?
Me virei pra ele. Meu coração disparava, e eu mal conseguia respirar. Mas eu não podia mais viver na ignorância.
— Estou. Me diga.
Ele estendeu a mão, os dedos frios tocando os meus com uma delicadeza quase dolorosa.
— Então segure firme, Alice. Porque a verdade... é muito mais escura do que você imagina.
E naquele toque, algo passou dele para mim. Um calor gélido. Uma onda de lembranças que não eram minhas. Um pressentimento... de que o meu passado não era o que eu pensava.
E foi aí que a escuridão me escolheu.
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Atualizado até capítulo 30
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