Kai acordou com o quarto mergulhado numa luz suave, filtrada pelas cortinas. O sol já subia no céu de Seul, espalhando tons dourados pelas paredes, mas ele não se mexeu. Não ainda.
Lily ainda estava ali.
Dormia encolhida ao lado dele, a cabeça repousando no travesseiro, os cabelos loiros espalhados como fios de seda sobre os lençóis. Seu corpo pequeno contrastava com o dele, mais largo, forte, mas não havia desconforto entre eles. Apenas uma paz estranha. Nova.
Kai virou o rosto devagar, tentando entender por que ainda sentia o peito leve. Não era assim que as manhãs costumavam começar.
Até então, acordar era uma luta.
Com o caos na cabeça, o suor no corpo, o vazio no peito.
Mas ali estava ela — alguém que viu seu pior e ficou.
Ele se sentou devagar na cama, os pés tocando o chão. Passou as mãos no rosto, sentindo a leveza do sono ainda presa nas pálpebras, e depois olhou para trás, conferindo se ela ainda dormia.
Lily abriu os olhos naquele instante. Lentamente. Como se já estivesse acordada fazia tempo, apenas em silêncio.
Kai sorriu, pequeno, quase sem jeito.
Ela se sentou também, ajeitando o aparelho auditivo atrás da orelha, e pegou seu bloquinho. Com uma caneta curta e gasta, rabiscou uma frase e estendeu para ele:
“Melhor?”
— Melhor — respondeu, com sinceridade crua. — Obrigado por ontem.
Lily assentiu, os olhos nos dele por tempo suficiente para fazer o coração dele apertar de novo — agora de outro jeito. Depois se levantou, caminhando até a cozinha.
Kai a seguiu.
Enquanto ela colocava água para ferver, ele abriu a geladeira e tirou dois potes de iogurte. Silêncio preenchia o ambiente, mas não era incômodo. Era... confortável. Como se os ruídos do mundo ficassem do lado de fora daquela porta.
Ela pegou duas canecas. Ele abriu uma barrinha de cereal e a partiu ao meio, oferecendo um pedaço a ela.
Lily aceitou com um leve sorriso.
— Você faz isso sempre? — perguntou ele, encostado no balcão. — Acordar depois de uma noite assim como se fosse só mais uma terça-feira?
Ela escreveu:
“Ficar.”
“Não fugir.”
Kai leu devagar. Depois colocou o post-it de lado e a encarou, mais sério.
— Eu não estou acostumado com isso.
Ela respondeu com um olhar que dizia “eu percebi”.
Houve uma pausa.
Lily foi até a janela da sala e a abriu. A brisa da manhã entrou, leve, movimentando as cortinas. Kai se aproximou, ficando ao lado dela. Lá embaixo, a cidade começava a acordar. Carros, buzinas, sons que ela não ouvia da mesma forma — mas que, naquele momento, pareciam distantes demais para importar.
Kai virou o rosto em sua direção.
— Você me escuta?
Ela franziu a testa.
— Quero dizer... você me escuta quando falo?
Ela escreveu:
“Não tudo. Mas escuto o que importa.”
O peito dele se apertou. Havia algo naquela frase que o desarmava por completo.
Ele queria tocá-la.
Queria dizer algo mais.
Mas tudo o que fez foi deixar os dedos roçarem levemente os dela no parapeito da janela.
E Lily não os afastou.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 32
Comments