Capítulo 3 — Pulso acelerado

A madrugada chegou abafada. Lá fora, o vento quente fazia as folhas baterem nas janelas como dedos impacientes. O apartamento, no entanto, permanecia quieto. Lily rolava na cama, os lençóis embolados, o sono leve demais para levá-la.

Um som baixo, quase imperceptível, quebrou o silêncio. Algo entre um suspiro e um gemido abafado. Lily sentou-se devagar, o coração batendo mais rápido. Ajustou o aparelho auditivo e prendeu a respiração.

Havia outro som.

O som de alguém tentando respirar — falhando.

Saiu do quarto com passos leves, os pés descalços contra o chão frio. A luz da sala estava apagada, mas uma faixa fraca escapava pela porta entreaberta do quarto de Kai.

Ela empurrou devagar.

Kai estava encolhido no canto da cama, os joelhos puxados contra o peito. O rosto molhado de suor, o peito arfando como se o ar estivesse em falta. As mãos tremiam. Os olhos estavam fechados, mas se moviam sob as pálpebras, como se fugissem de algo invisível.

Lily hesitou. Depois se aproximou, ajoelhando-se ao lado da cama. Tocou o ombro dele com cuidado.

Kai se sobressaltou. Abriu os olhos, perdidos. Por um segundo, parecia não reconhecê-la. As pupilas dilatadas, a respiração descompassada. Os dedos apertando os lençóis com força.

Ela ergueu as mãos rapidamente e gesticulou com calma:

“Você está seguro.”

“Está tudo bem agora.”

Ele piscou várias vezes, como se voltasse para o presente. Os olhos, antes em frenesi, encontraram os dela. E foi ali que o medo desabou. Não o medo de algo externo. Mas o medo de ser visto.

Lily sentou-se ao lado dele, com calma, sem dizer nada. Apenas ficou ali, presente.

Kai passou as mãos no rosto, tentando conter o tremor.

— Foi só um ataque... acontece às vezes — murmurou, a voz rouca de quem quase se afogou por dentro.

Ela pegou o bloco de post-its na mesinha de cabeceira e escreveu:

“Pesadelos?”

Ele assentiu.

Depois olhou para ela como se tivesse vergonha de tê-la deixado ver aquilo. De ser frágil. Mas ela não desviou o olhar. Nem julgou. Pegou outro post-it:

“Ficar sozinho é pior.”

Ele leu. Depois esticou o braço devagar e segurou a mão dela — quente, pesada, pedindo por algo que ele não sabia nomear. E Lily não recuou.

Deitou-se ao lado dele na cama estreita. Ficaram em silêncio. Não um silêncio desconfortável. Mas um silêncio carregado de presença. De cuidado.

Kai virou-se para o lado, os olhos ainda abertos.

— Eu nunca sei como desligar... minha cabeça, minha música... tudo parece alto demais — disse, baixo, quase para ele mesmo.

Lily estendeu a mão e encostou no peito dele, acima do coração. O toque era leve, mas firme.

Ele cobriu a mão dela com a sua.

Não disseram mais nada.

Ficaram assim até o ritmo da respiração dele desacelerar. Até o peso da noite diminuir. Até, enfim, o sono vencer.

E quando o sol começou a tocar a janela com seus primeiros fios dourados, Lily ainda estava lá — os olhos abertos, o coração em alerta.

Kai dormia. Calmo.

E ela, sem perceber, também estava diferente.

Porque às vezes, o que acorda a gente... é o que o outro esconde no escuro.

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Comments

Nakayn _2007

Nakayn _2007

Posso dizer que esse livro é vida? Está me dando muitas emoções.

2025-08-03

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 — Primeiro encontro, silêncio quebrado
2 Capítulo 2 — A primeira noite
3 Capítulo 3 — Pulso acelerado
4 Capítulo 4 — O som de estar perto
5 Capítulo 5 — Silêncio em falta
6 Capítulo 6 — Um gosto que não sai
7 Capítulo 7 — Entre olhares e batidas
8 Capítulo 8 — Dois Silêncios, Uma Faísca
9 Capítulo 9 — Corações em Disputa
10 Capítulo 10 – Entre o Som e o Silêncio
11 Capítulo 11 – Sem Batida Certa
12 Capítulo 12 — A cidade inteira entre nós
13 Capítulo 13 – Olhos que não mentem
14 Capítulo 14 – O silêncio que diz tudo
15 Capítulo 15 – A cidade e seus encontros
16 Capítulo 16 – Confissões Noturnas
17 Capítulo 17 – Amanhecer em chamas
18 Capítulo 18 – Amanhecer em chamas
19 Capítulo 19 – Luzes, exposição e sombras inesperadas
20 Capítulo 20 – Atrás dos Olhos Dela
21 Capítulo 21 — Entre Luzes e Sombras
22 Capítulo 22— O Símbolo do Nosso Silêncio
23 Capítulo 23— Notas Entre Nós
24 Capítulo 24 — Refúgio Entre Montanhas
25 Capítulo 25 — Encontro na Trilha
26 Capítulo 26 — Quando a Obsessão Se Torna Visível
27 Capítulo 27 — Proteção em Alerta
28 Capítulo 28 — Ecos do Centro
29 Capítulo 29— Tempestade e Silêncio
30 Capítulo 30 — Entre Toques e Silêncios
31 Capítulo 31— Manhã de Silêncios e Toques
32 Capítulo 32— Ensinando a Tocar e a Intimidade Crescente
Capítulos

Atualizado até capítulo 32

1
Capítulo 1 — Primeiro encontro, silêncio quebrado
2
Capítulo 2 — A primeira noite
3
Capítulo 3 — Pulso acelerado
4
Capítulo 4 — O som de estar perto
5
Capítulo 5 — Silêncio em falta
6
Capítulo 6 — Um gosto que não sai
7
Capítulo 7 — Entre olhares e batidas
8
Capítulo 8 — Dois Silêncios, Uma Faísca
9
Capítulo 9 — Corações em Disputa
10
Capítulo 10 – Entre o Som e o Silêncio
11
Capítulo 11 – Sem Batida Certa
12
Capítulo 12 — A cidade inteira entre nós
13
Capítulo 13 – Olhos que não mentem
14
Capítulo 14 – O silêncio que diz tudo
15
Capítulo 15 – A cidade e seus encontros
16
Capítulo 16 – Confissões Noturnas
17
Capítulo 17 – Amanhecer em chamas
18
Capítulo 18 – Amanhecer em chamas
19
Capítulo 19 – Luzes, exposição e sombras inesperadas
20
Capítulo 20 – Atrás dos Olhos Dela
21
Capítulo 21 — Entre Luzes e Sombras
22
Capítulo 22— O Símbolo do Nosso Silêncio
23
Capítulo 23— Notas Entre Nós
24
Capítulo 24 — Refúgio Entre Montanhas
25
Capítulo 25 — Encontro na Trilha
26
Capítulo 26 — Quando a Obsessão Se Torna Visível
27
Capítulo 27 — Proteção em Alerta
28
Capítulo 28 — Ecos do Centro
29
Capítulo 29— Tempestade e Silêncio
30
Capítulo 30 — Entre Toques e Silêncios
31
Capítulo 31— Manhã de Silêncios e Toques
32
Capítulo 32— Ensinando a Tocar e a Intimidade Crescente

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