Depois do Caos: Segunda Temporada

Depois do Caos: Segunda Temporada

Entre o céu e o limite

Alanzin 💥

O sol já tava alto quando eu voltei pro barraco.

O rádio ainda chiava. Vozes desesperadas. Gritos. Políciais contendo o protesto na entrada do morro

Mas minha cabeça, diferente de ontem... tava fria.

Abri a janela, olhei lá pra baixo.

A fumaça dos pneus queimados ainda subia.

Gente chorando por familiares que haviam perdido no confronto e Gente gritando por justiça

Mas isso... isso não ia levar a nada.

Meus dedos tamborilavam o vidro.

Talibã sumiu.

Mas se ele tiver vivo... ele vai voltar.

E se ele voltar e encontrar esse morro em desordem, cheio de mídia, caveirão, boca travada e morador desesperado...

Ele vai ficar puto.

E com razão.

Puxei o rádio, firme:

— “Quebra o protesto.”

Silêncio do outro lado.

Ninguém esperava isso de mim.

— “É isso mesmo que cês ouviram. Desce lá e manda geral recuar. Agora. Antes que vire campo de guerra. Favela já deu o recado. Agora é hora de esfriar.”

O Sabiá respondeu: — “Mas chefe… o povo tá inflamado. Tão cobrando justiça, tão querendo saber...”

— “E vão saber quando for a hora. Por enquanto, o que eles tão fazendo é botando holofote onde devia ter sombra. Favela não pode ser vitrine, irmão. Tem que ser blindada. Discreta. Letal. Entendeu?”

Silêncio. Depois, só um: — “Entendido.”

Desliguei. Respirei fundo.

Essa guerra não ia ser ganha no grito. Ia ser no silêncio.

Peguei o telefone, liguei pro Moleque da Nova Brasília: — “Tô te mandando uns homens. A partir de hoje, a boca volta a funcionar normal. Nada de chamar atenção. Só no sapatinho. Quem não tiver disciplina vai rodar.”

Depois liguei pro Catatau, lá da Grota: — “Reforça a segurança da carga. Se tiver rota vazando, me avisa. Tô fechando o cerco.”

E fui um por um. Cada ponta. Cada canto.

Reorganizando tudo.

Montando o exército em silêncio.

Sem fogos. Sem revolta. Sem vaidade.

Liguei pra Rebeca.

Uma amiga da antiga. Da época que eu fazia uns corres pela pista.

Bonita, sagaz, dessas que sabe entrar na mente do homem sem ele perceber.

— Alô, Beca?

— Oi, Alan. Finalmente me ligou.

— Tô precisando do teu talento.

— Que tipo de talento? — ela riu, voz cheia de veneno.

— Tem um polícia, Tenente Silva, BOPE. Você deve conhecer.

— Hum… o branquelo que tava dando entrevista hoje?

— Esse mesmo. Quero que tu se aproxime. Nada óbvio. Vai com calma. Sorri, puxa assunto, ganha confiança.

— E aí?

— Quero saber se ele viu mesmo o corpo do Talibã. Ou se tá mentindo.

— E se ele não cair na minha?

— Aí tu faz ele cair. Usa o que cê tem. Mas sem levantar suspeita nenhuma. Isso é entre eu e tu. Nem respira esse plano com ninguém, ouviu?

— Fechou, Alanzin.

— E mais uma coisa…

— Fala.

— Se ele confiar em tu, tenta descobrir o que eles queriam queimando nossas bocas e Quais nomes eles tão mirando.

Desliguei.

Sabia que podia contar com ela.

Rebeca não era só bonita — era fria, como tinha que ser.

Voltei pro barraco da laje. Sentei, puxei um cigarro, liguei a TV.

E lá tava o filho da puta do Silva, na coletiva de imprensa, com cara de vitória.

"O chefe conhecido como Talibã foi neutralizado. Não há dúvidas quanto à morte. O corpo ainda está sendo periciado, mas a favela pode respirar aliviada. O tráfico perdeu um monstro."

Monstro?

Ele que era o demônio fardado.

Tirei foto da TV e mandei no grupo da quebrada:

“Cadê o corpo então? Mostra a prova. A favela quer a verdade, a polícia não cansa de nos forjar"

Mas no fundo…

No fundo eu sentia.

O Talibã não morreu.

O olhar dele naquela última troca, o movimento rápido quando caiu, a fumaça…

Algo ali não fechava

A favela precisa rodar.

Se o chefe aparecer e tiver tudo desorganizado, ele vai cortar a cabeça de geral.

Aqui é favela, porra.

Aqui é guerra.

Mas também é disciplina.

Desliguei a tv

Respirei fundo.

Acendi outro cigarro.

Enquanto eu tiver vivo, a favela vai ter lei.

E enquanto a dúvida existir, o Talibã vai ser uma lenda.

Mas eu juro…

Se ele tiver mesmo morto...

O Silva vai pagar com a alma.

Peguei a pistola, botei na cintura, olhei no espelho.

A favela não precisa de herói. Precisa de cérebro.

E hoje, o meu tava gelado.

Helô 🌸

O celular tremia na minha mão fazia tempo, mas eu não conseguia nem olhar.

Desde que disseram que o Talibã tinha sido baleado e desaparecido, parece que o mundo parou.

Não chovia, não fazia sol.

O tempo simplesmente travou.

Eu não comia direito.

Não dormia direito.

E toda hora minha cabeça voltava pra última vez que a gente se viu...

O jeito que ele me olhou...

Como se soubesse que ia ser a última.

Meu pai achava que eu tava ficando louca.

A Clara tentava me confortar, mas também tava destruída com o Russo baleado no hospital

E eu? Eu era só um corpo respirando.

Mas mesmo no meio de toda essa dor,

uma coisa não me saía da cabeça: não teve corpo.

E se não teve corpo...

Ele pode estar vivo.

Vesti minha blusa branca, joguei o cabelo num coque malfeito, e desci o morro.

Sem maquiagem.

Sem celular.

Só com minha fé quebrada nas mãos.

A igreja era pequena, simples, escondida num bequinho entre a Laje Alta e a 14.

Entrei.

O silêncio ali dentro doía mais que os gritos lá fora.

Fui direto pro altar.

Me ajoelhei com força, como se quisesse afundar o joelho no chão,

como se a dor física apagasse a do coração.

— Deus... eu sei que eu sou cheia de erro. Eu sei que o Talibã também é...

Mas ele tem coração.

Ele me ama.

Ele cuidava da favela, sempre ajudava os moradores

Ele cuidava de mim.

As lágrimas desciam, quentes, grossas, sem controle.

— Se ele tiver vivo, me dá um sinal... qualquer coisa. Um sonho. Um cheiro. Um arrepio.

Mas se ele tiver morrido...

Por favor, me ajuda a aceitar.

Porque sem ele... eu não sei viver.

Me encolhi ali no altar.

Chorando igual criança.

Pensando em tudo.

Nas nossas fotos.

Na nossa primeira vez.

No sorriso dele torto.

No “presta atenção na tua caminhada, mulher” que ele sempre soltava rindo.

A música do meu fone ainda ecoava na minha mente, como se tivesse tocando ali, na igreja:

"A distância entre a gente me fez entender

Que se um dia eu fui feliz, foi com você..."

Chorei mais.

A saudade era como uma faca afiada direto no coração.

Mas a esperança ainda respirava.

E enquanto ela respirasse...

Eu ia continuar vindo aqui.

De joelho.

De alma.

De fé.

Porque se tem uma coisa que inimigo nenhum consegue matar…

É o amor de verdade.

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Comments

Lismara De jesus Souza

Lismara De jesus Souza

quanto não saiu o segundo eu vou voltar a ler sobre o tubarão apaixonado aqui kkkkkk

2025-07-30

1

Lismara De jesus Souza

Lismara De jesus Souza

aiiiiiiiiii meu deus meu marido 😭😭😭

2025-07-30

2

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

tô sofrendo aqui junto com a helo e com o alanzinho 😭😢

2025-08-15

1

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