cadê o Talibã?

Russo 💣

Eu odeio hospital.

Cheiro de coisa morta disfarçado de limpeza.

Gente tossindo, chorando, morrendo em silêncio.

E eu aqui… jogado nessa cama com um tiro na perna e o morro pegando fogo.

Ficar parado é castigo pra quem nasceu pra agir.

Cada segundo deitado aqui é tipo um grito abafado dentro da minha cabeça.

Cadê o Talibã, porra?

Não apareceu corpo, não teve enterro, não teve vela, não teve nada.

Só o caos depois da operação.

Só o sumiço.

E esse vazio de não saber se ele tá vivo ou morto.

A porta abriu devagar.

Perfume bom. Suave.

Clara.

Veio com passo leve, uma bolsinha de lado, e aquele olhar que mistura força com cuidado.

É estranho… nunca achei que me pegaria olhando assim pra alguém.

Mas depois daquele dia que ela me viu na maca sangrando e não largou da minha mão…

…sei lá. Mudou alguma coisa.

— Trouxe pão de queijo. Sei que cê odeia comida de hospital. — ela disse, botando a embalagem na mesinha.

— O que eu odeio é tá aqui. — rosnei, impaciente. — Quero voltar logo.

— Com esse machucado aí? Vai botar o fuzil no andador?

— Zoa não. Eu tô a um passo de quebrar essa porra de perna de novo só pra sair daqui.

Ela riu de leve. Aquela risada que acalma.

Me olhou com aqueles olhos castanhos escuros que sempre parecem saber mais do que falam.

— Tu tem que ter calma, Russo.

— Não sei o que é isso. Ainda mais agora.

— O Alanzin tá segurando as pontas. tava revoltado mais agora se acalmou

— Eu confio nele. Mas e o Talibã? Tu acredita que ele morreu?

Ela abaixou o olhar. Silêncio.

Respirou fundo.

— Eu não sei. E isso é o que mais machuca. A Helô tá mal, mas não perdeu a fé.

— E tu?

— Eu… tô tentando manter a cabeça no lugar.

— Mesmo com tua vó no hospital por causa de mim? — perguntei, mais baixo.

Clara me olhou firme.

— Tu não causou isso. Minha vó é teimosa. Se apegou ao preconceito e não soube lidar. Mas sou eu que escolho com quem fico, Russo.

— Mesmo sendo um cara fodido como eu?

— Mesmo. Porque tu tem algo que ela nunca vai entender. Tu é leal. Tu sente de verdade.

Fiquei quieto.

Ela se aproximou devagar, sentou na beirada da cama e pegou minha mão.

— Tu acha que eu ia vir aqui todo dia se tu fosse só mais um?

— Talvez. Tu é boazinha demais.

— Não confunde cuidado com fraqueza.

Sorri. Aquilo bateu.

Ela era suave, mas firme.

Jeito doce com fala afiada.

E, mesmo sem me dar conta, eu tava começando a contar com ela, tava tão bom a gente morando juntos, tô morrendo de saudades de acordar todo dia com ela do meu lado.

— Promete que vai cuidar da tua perna direitinho?_ela pediu, quase num sussurro.

— Só se tu continuar vindo aqui.

— Eu vim pra te ver, Russo. Não pelo pão de queijo.

— Então chega mais. Fica um pouco _falei dando espaço na maca

Ela se inclinou, encostou a testa na minha.

O mundo lá fora podia tá desabando, o Talibã sumido, a guerra esquentando…

Mas ali, por uns minutos, era só eu e ela.

O toque dela na minha mão.

O cheiro do cabelo.

A presença que acalmava o monstro dentro de mim.

Ainda vou levantar dessa cama.

Ainda vou cobrar esse tiro.

Ainda vou encontrar o Talibã — vivo ou morto.

Mas agora, com Clara aqui, minha mente consegue respirar.

Mesmo que por pouco tempo.

Tenente Silva ☠️

Favela do Alemão.

Terra onde a lei não entra.

E quando entra, sai no caixão.

Desde a operação em que aquele maldito do Talibã foi alvejado… ou melhor, supostamente alvejado.

Porque até agora, corpo não apareceu.

E na minha experiência, quando não aparece corpo... é porque o desgraçado ainda respira.

E se ele respira, ele ainda é um perigo.

Talibã era mais que um líder de facção. Era símbolo.

Esses moleques do morro matam e morrem por ele como se fosse Deus.

E pra piorar, tem dois pitbulls dele ainda soltos: Russo e Alanzin.

O Russo, ferido. Tiro na perna. Internado.

Mas o Alanzin…

Esse voltou do inferno como se tivesse feito pacto.

Frio, calculista, bom de tiro, covarde o bastante pra matar meu amigo pelas costas…

E agora?

Agora tá segurando o morro com uma frieza que me incomoda.

Nenhum movimento brusco. Nenhum erro. Nenhuma pista.

Eu tentei de tudo.

Acordei vagabundo na porrada.

Apertei tiazinha que vendia quentinha pra eles.

Chamei ex-mula pra conversar.

Nada.

Silêncio absoluto.

Todos os que restaram na tropa do Talibã são fiéis até o osso, até tentei contanto mais só recebi não é de quebra um esculacho desses vagabundos

os moradores quando descem pra pista e eu enterrogo olham no meu olho e preferem cuspir no chão do que falar o nome dele.

— “Desculpa, doutor. Mas aqui, quem fala… morre.”

Esses desgraçados juram lealdade como se fossem militares.

Mas eu sei que tem brecha.

Sempre tem.

Eu quero um. Um só.

Um informante.

Um que fale.

Um que abra o bico.

Já deixei o recado:

cinquenta mil no bolso e proteção garantida pra quem me contar o paradeiro do Talibã.

Mas até agora… nem fantasma apareceu.

Enquanto isso, a imprensa me cobra resultado.

Os chefes me pressionam.

E a favela?

Faz protesto, chora, grita. Como se aquele marginal fosse herói.

Eu olho pra entrada do morro da viatura e vejo uma fortaleza feita de sangue, medo e idolatria.

Tudo isso por causa de um nome: Talibã.

Mas deixa ele voltar.

Se tiver vivo, uma hora aparece.

E se aparecer…

Eu vou terminar o que comecei.

E quanto ao Alanzin…

Aquele eu pego de outro jeito.

Já fiz um mapeamento dos pontos de droga reabertos.

Tem uma mulher rondando o batalhão tentando tirar informação.

Talvez esteja ligada a ele.

Tudo é suposição, mas eu não sou burro.

Se ele tá mexendo no tabuleiro…

É porque tem algo grande vindo por aí.

E eu vou estar esperando.

Porque no meu mundo, quem erra uma vez, não erra de novo.

Não quando o Silva tá na cola.

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Comments

Mary Regi

Mary Regi

ja comecei a ler dia 29/07 2025 ja extou gostando muito mais Autora diz se o Talibã ta morto ou vivo pra ficar melhor kkkkkkk👏👏👏👏👏 pelo segundo livro 0

2025-07-30

1

Mary Regi

Mary Regi

ja comecei a ler dia 29/07 2025 ja extou gostando muito mais Autora diz se o Talibã ta morto ou vivo pra ficar melhor kkkkkkk👏👏👏👏👏 pelo segundo livro 0

2025-07-30

0

Lanne Souza

Lanne Souza

eu n parei pra lé esse tempo todo pra por fim ele dsta morto não mesmo

2025-07-30

0

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