04

Capítulo 4 — O Barulho de Dentro
O estacionamento do Fórum estava quase deserto. Só os pingos grossos da chuva preenchiam o ar, respingando nos capôs dos carros como dedos impacientes. Rafael seguiu Caio até um sedan preto, discreto e limpo demais para um carro velho, caro demais para um novo qualquer. Caio destravou as portas com um toque, e Rafael entrou com cuidado. O interior cheirava a couro e alguma coisa amadeirada, que agora ele reconhecia como o perfume de Caio — sutil, frio, persistente. Nenhum dos dois falou ao ligar o carro. O som suave do motor tomou conta do silêncio. A chuva tamborilava no vidro, e Rafael olhava pela janela como se o mundo lá fora fosse mais fácil de entender do que o homem ao seu lado.
caio ferraz
caio ferraz
— Endereço? — Caio perguntou, com os olhos na estrada.
Rafael disse, e Caio assentiu, girando o volante com uma calma que não combinava com o mundo correndo lá fora. Durante alguns minutos, só existiam o som dos limpadores e o asfalto molhado. E, mesmo assim, o silêncio não era desconfortável. Era... denso. Cheio de coisas não ditas.
Rafael lins
Rafael lins
— Você ouve música? — Rafael perguntou, de repente.
caio ferraz
caio ferraz
Caio ergueu uma sobrancelha. — Quando estou sozinho, sim.
Rafael lins
Rafael lins
— E agora?
caio ferraz
caio ferraz
— Agora... não sei o que caberia aqui.
Rafael sorriu, meio sem jeito. Abriu a boca para dizer algo, mas o rádio acendeu sozinho. Uma estação aleatória começou a tocar uma música lenta, antiga, cheia de cordas e sussurros. E nenhum dos dois teve coragem de desligar. Durante o refrão, uma curva apertada obrigou Caio a tirar a mão do volante por um segundo e apoiá-la instintivamente no encosto do banco de Rafael, para fazer o movimento com mais precisão. O toque foi leve. Nada demais. Mas Rafael prendeu o ar. O braço de Caio atrás de si, a mão firme e quente passando tão perto de sua nuca, da sua pele. Quando a curva terminou, a mão demorou um segundo a mais do que o necessário para voltar ao volante. Um segundo longo o suficiente. Rafael virou o rosto devagar. Olhou para ele. Caio mantinha os olhos fixos na rua, como se nada tivesse acontecido. Mas seu maxilar estava tenso. Muito tenso.
Rafael lins
Rafael lins
— A música é bonita — Rafael disse, só para quebrar o que não sabia nomear.
caio ferraz
caio ferraz
— É — Caio respondeu. E pela primeira vez, sua voz pareceu diferente. Menos controlada. Um pouco mais baixa. Quase falhada.
Chegaram ao destino dez minutos depois. Rafael não quis sair. Não imediatamente. Mas sabia que devia.
Rafael lins
Rafael lins
— Obrigado pela carona — ele disse, abrindo a porta.
caio ferraz
caio ferraz
Caio assentiu. Mas antes que Rafael saísse, sua voz o chamou de volta. — Rafael.
Ele parou. Virou-se. Caio estava com a mão ainda no volante, mas os olhos, pela primeira vez, estavam... desarmados.
caio ferraz
caio ferraz
— Eu não sou uma pessoa fácil — disse. A frase veio solta, sem razão, como um aviso, ou um pedido de desculpas por algo que ainda não havia feito.
Rafael lins
Rafael lins
Rafael sorriu, apenas um pouco. — Eu também não.
Fechou a porta devagar, e correu pela calçada molhada. Não olhou para trás. Mas sentiu. Sentiu os olhos de Caio ainda ali, por alguns segundos a mais. E naquele instante, soube: alguma coisa tinha mudado. Algo silencioso, sutil e perigoso estava crescendo. Não do lado de fora. Mas dentro. Onde os barulhos são mais altos — e ninguém escuta.
Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!