A manhã passou como um borrão para Rafael. Documentos, anotações, orientações soltas. Mas nada ficou tão gravado quanto aquele olhar. Caio Ferraz. O advogado criminalista que parecia andar com o mundo às costas — e mesmo assim, não se curvar diante dele.
Ao meio-dia, o refeitório do Fórum estava menos cheio do que ele imaginava. Pegou um prato simples, arroz, frango, alguma salada esquecida no canto. Procurou um lugar para sentar, e encontrou vários. Mas seus olhos pararam em um específico.
Caio estava ali. Sozinho. Lendo algo no celular, uma garrafa de água pela metade ao lado do prato quase intocado.
Rafael hesitou. Podia ir para o outro lado do salão. Mas não foi.
Rafael lins
— Posso? — perguntou, indicando o lugar à frente
Caio levantou os olhos por um segundo. Depois fez um gesto quase imperceptível com a mão, como se dissesse faça o que quiser.
Rafael se sentou. Começou a comer em silêncio, sentindo o peso de não dizer nada. Mas a curiosidade era mais forte que o bom senso.
Rafael lins
— Você sempre almoça sozinho? — arriscou
caio ferraz
Caio não levantou os olhos do celular.
— Sempre que posso.
Rafael lins
— Não gosta de gente?
caio ferraz
— Gosto de silêncio
Rafael lins
Rafael deu um meio sorriso.
— E agora está me tolerando por quê?
Pela primeira vez, Caio o encarou de verdade. Os olhos por trás das lentes tinham uma calma que incomodava. Como se pudessem atravessar camadas.
caio ferraz
— Porque você perguntou. E porque não tenta parecer algo que não é.
Aquilo pegou Rafael desprevenido. Engoliu em seco
Rafael lins
— Isso é bom ou ruim?
caio ferraz
— Ainda estou decidindo.
O silêncio voltou, mas dessa vez... mais leve. Como se algo se assentasse entre os dois, invisível. Um acordo tácito: vamos ver até onde isso vai.
Caio voltou ao celular. Rafael voltou ao prato. Mas os dois sabiam — mesmo sem admitir — que aquela era a primeira de muitas mesas divididas.
E que a distância entre eles estava diminuindo
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