Os dias no castelo começaram a se desenrolar em uma rotina insustentável. Kaori mantinha sua postura de serva obediente, mas a cada dia sentia o peso da missão que carregava. A frieza dos corredores, a pompa das cortesãs e a arrogância dos cavaleiros eram apenas máscaras que encobriam a podridão por trás das paredes douradas.
O príncipe Arven continuava a cruzar seu caminho. Não com frequência, mas o suficiente para deixar uma impressão. Às vezes ele passava rapidamente por ela nos jardins ou nas estufas, onde ela estava a trabalhar, sempre oferecendo um olhar atento, quase como se soubesse algo que ela não queria que ele soubesse.
Kaori sentia um desconforto crescente em sua presença. Ele não era o tirano que ela esperava, mas sua linhagem, sua mãe, sua realeza, tudo isso ainda representava a causa de sua dor. Como ela poderia vingar sua família se seu coração começava a se encher de dúvidas?
Na manhã de seu quarto dia, ela foi chamada aos salões reais. Um dos generais de Lysandra, o imponente General Corvan, queria falar com ela. Kaori sentiu o estômago revirar ao ouvir o nome dele. Ele havia sido responsável pela morte de tantos de seu povo, o homem que comandou a invasão em sua vila.
Ela foi conduzida até o grande salão onde Corvan a aguardava, com sua figura rígida e olhar severo. Ao seu lado, o príncipe Arven, em seu traje formal, parecia distante, mas os olhos dele estavam fixos nela.
— “Esta é Aya, a nova criada das estufas,” disse Corvan, sem se dar ao trabalho de ser cordial. Kaori inclinou a cabeça em respeito, mantendo os olhos baixos.
— “Ela tem boa mão com as plantas,” disse Arven, interrompendo, e Kaori sentiu um leve frio na espinha com a gentileza inesperada.
— “Sim, sim, bem. Então é isso, a menina com as mãos habilidosas,” disse Corvan, olhando para ela de cima a baixo. “Tenho uma tarefa para você. Não a recuse. Vamos ver se é tão competente quanto dizem.”
A tensão no ar era palpável. Kaori sabia que havia algo mais por trás daquela solicitação. Um novo desafio, talvez um teste disfarçado. Mas sem opções, ela se inclinou um pouco mais e respondeu.
— “Como desejar, senhor.”
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A tarefa que Corvan lhe deu parecia simples à primeira vista: entregar uma carta confidencial à comandante das tropas reais, Lady Estella, uma mulher de grande influência, mas também de grande perigo. Kaori sabia que esse era mais um movimento no jogo político que acontecia nos corredores do castelo.
Ela se dirigiu rapidamente aos aposentos de Estella. O corredor estava deserto, silencioso. Quando chegou à porta, uma sensação estranha a percorreu. Estella era conhecida por sua inteligência e crueldade. Havia rumores de que ela sabia de todos os segredos do reino — inclusive, alguns sobre o próprio príncipe Arven.
Ao entrar, Kaori foi recebida por Estella com um sorriso enigmático, como se soubesse exatamente quem ela era.
— “Você tem algo para mim, garota?” — a comandante perguntou, já estendendo a mão para pegar a carta.
Kaori entregou a carta e, por um breve momento, seus olhares se encontraram. Estella tinha a mesma astúcia que o príncipe, mas algo mais sombrio. Kaori sentiu um calafrio.
— “Muito bem. Agora vá.” — Estella disse com uma risada baixa, como se soubesse o peso da missão de Kaori.
— “Apenas lembre-se de que a realeza não é a única coisa que mantém o castelo de pé, Aya. Há forças muito mais poderosas entre essas paredes.”
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Na noite seguinte, Kaori foi chamada novamente ao salão. Desta vez, Arven estava sozinho.
— “Aya.” Ele disse, sua voz suave, mas com algo que Kaori não podia ler.
Ela o encarou por um momento, antes de desviar o olhar, sentindo uma crescente tensão.
— “Você... parece cansada,” disse ele, com um tom que ela não soubera identificar. Não era preocupação. Não era curiosidade. Mas algo que poderia ser mais perigoso do que ambos imaginavam.
— “Não é nada, senhor,” Kaori respondeu rapidamente. Mas não pôde esconder o nervosismo em sua voz.
— “Você não precisa me chamar de senhor.” Ele sorriu levemente, mas Kaori viu uma sombra de algo mais por trás de seu olhar — algo que ela não poderia compreender ainda.
Eles ficaram em silêncio por um tempo. O peso de tudo o que estava acontecendo pairava no ar. Kaori sentia as emoções se acumulando dentro dela, sem poder demonstrá-las. Não podia se permitir. Não enquanto estivesse tão perto de sua vingança.
Mas Arven parecia saber. Mesmo sem saber de sua missão. Mesmo sem entender o que estava em jogo. Ele olhou para ela mais uma vez, e Kaori soube que havia algo maior acontecendo ali — algo que ela não podia controlar.
Ele falou finalmente, baixinho:
— “Não sei quem você é, Aya. Mas há algo em seus olhos... Como se você carregasse um fardo que ninguém mais pode ver.”
Kaori não respondeu. Ela não podia. Porque se respondesse, poderia se perder.
O príncipe saiu, deixando-a sozinha na sala.
Ela olhou pela janela, para o vasto castelo, para a vida que ela deixara para trás. O silêncio era profundo. Mas sabia que os verdadeiros perigos estavam apenas começando.
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Fim do Capítulo 4
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Atualizado até capítulo 30
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