A chuva castigava a cidade quando Erik e Salma surgiram no velho bar, encharcados mas com sorrisos calorosos. Jane correu para abraçá-los.
— Não acredito! — disse, rindo e apertando os dois. — Parece que o mundo virou de cabeça pra baixo e vocês continuam os mesmos.
— Diferente de você, que virou bartender — provocou Erik, pegando o copo que Jane já servia.
— Cuidado com o que diz, ou coloco laxante nessa bebida — rebateu ela, arrancando gargalhadas.
Eles se sentaram à mesa, o clima oscilando entre a saudade e a alegria forçada.
— Sabe… às vezes sinto como se aquilo nunca tivesse acontecido — disse Salma, girando o copo. — Que fomos só um sonho mal contado da Força Aérea.
— Um sonho que terminou com o príncipe e seus robôs chutando nossas bundas pra fora da base — ironizou Erik.
Jane riu, mas logo ficou séria.
— Foi injusto. Lutamos, sangramos… e fomos descartados.
— Como um caça velho — completou Erik.
Por um segundo, o silêncio se fez. Então Jane quebrou, erguendo o copo:
— Ao esquadrão que não deveria ter acabado!
— E aos motores que não explodiram! — riu Erik.
— E ao nosso grito de guerra — disse Salma, já erguendo o copo.
Em uníssono:
— “Que venham os céus… nós já os dominamos!”
As risadas preencheram o bar, até que Erik, de repente, ficou sério:
— Aliás… Jane… os Wild Aces estão recrutando.
— Quê? — Jane arregalou os olhos.
Salma confirmou com a cabeça:
— Amanhã. Campo de provas de Delta Ridge. Todos contra Mathew, o líder deles. Quem conseguir abatê-lo… entra.
— Todos… contra um? — Jane franziu o cenho.
— E não subestime — disse Erik. — Mathew é frio, metódico… não erra.
Jane respirou fundo. O sangue começou a pulsar diferente.
— Então… vamos voar de novo?
Erik e Salma sorriram.
— Como nos velhos tempos.
Delta Ridge era um mar de poeira e vento cortante. Mais de uma dúzia de pilotos ajustavam seus caças.
No centro, como uma estátua, Mathew observava. Alto, postura impecável, cabelos escuros e olhos gélidos, vestia o uniforme impecável dos Wild Aces.
— Atenção! — sua voz cortou o ar como lâmina.
Os candidatos se alinharam.
Mathew caminhou lentamente pela linha, olhando um a um. Parou diante de Jane.
— Nome?
— Jane… me chamam de Ace.
Ele a fitou por um segundo a mais que o necessário.
— Hm. Veremos se merece esse nome.
Continuou, até parar no centro.
— O teste é simples: todos vocês… contra mim. Se me derrubarem, entram. Se forem derrubados… sumam da minha frente.
Olhou o grupo com desprezo frio.
— Só os melhores merecem voar conosco.
Sem mais palavras, virou-se e entrou em seu caça negro, que rugiu vivo como uma fera acordando.
Jane trocou olhares com Erik e Salma.
— Prontos? — sussurrou.
— Sempre — respondeu Erik.
— Até o inferno — completou Salma, sorrindo.
Os motores rugiram e os caças alçaram voo, cortando o céu nublado.
Assim que todos se posicionaram, Mathew falou no rádio, com voz fria:
— Comecem… se tiverem coragem.
E como um raio, ele mergulhou com um Split-S perfeito, abrindo a formação e forçando a dispersão.
— Aqui é o Maverick! Indo pra cima dele! — gritou um candidato, disparando.
— Erro número um… previsível demais — disse Mathew, girando em um "barrel roll" e abatendo-o com um disparo virtual certeiro.
— Alvo abatido.
Outro tentou atacá-lo de frente.
— Erro número dois… nunca ataque em linha reta — Mathew girou de lado, desviando, e o eliminou.
— Alvo abatido.
Jane, em formação com Erik e Salma, assistia enquanto Mathew caçava cada um, como uma águia abatendo pombos.
— Ele tá nos estudando… e ensinando — murmurou Jane.
Mathew seguiu, metódico:
— Outro erro… voar em formação fechada sem cobertura.
Derrubou dois pilotos que tentavam flanquear juntos.
— Alvos abatidos.
— Droga! — gritou Erik. — O cara é um monstro!
Salma puxou o manche, subindo:
— Ele é uma máquina!
Jane mordeu o lábio, pensando.
Restavam seis.
Dois tentaram atacá-lo simultaneamente em um "pinça".
Mathew subiu em um Immelmann Turn, passou por cima e derrubou ambos com um único movimento.
— Erro clássico… esquecer a terceira dimensão.
— Alvos abatidos.
Só restavam Jane, Erik, Salma e mais um.
O último, desesperado, mergulhou direto sobre Mathew.
— E o erro final… o desespero.
Mathew desacelerou bruscamente, fez um giro negativo, e abateu-o sem esforço.
— Alvo abatido.
Agora só eles três.
Jane respirou fundo.
— É a nossa vez.
Mathew falou no rádio:
— Vocês chegaram até aqui… Não decepcionem.
Jane sorriu de canto.
— Então tá… Erik, Salma… ouçam bem: vamos atrair ele para aquelas montanhas. Façam exatamente o que eu disser.
— Tá maluca? — disse Erik.
— Confia — respondeu Jane.
Eles mergulharam em direção à cadeia rochosa. Mathew os seguiu, silencioso, como um predador.
— Tentam se esconder… — disse ele no rádio, quase entediado.
Jane respirou fundo.
— Ao meu sinal, todos desacelerem e subam em ângulo. Ele vai ultrapassar. Quando passar… disparamos juntos.
— Isso é suicida! — gritou Salma.
— Ou brilhante — respondeu Jane. — Prontos?…
Mathew se aproximava rápido, já preparando o disparo.
— AGORA!
Jane puxou bruscamente o manche para cima, desacelerando, quase parando no ar com uma "Cobra de Pugachev". Erik e Salma fizeram o mesmo, em perfeita sincronia.
Mathew, pego de surpresa, ultrapassou os três.
Jane gritou:
— FOGO!
Os três travaram as miras e dispararam.
— TCHUFT! Alvo abatido!
Silêncio.
Então, a voz fria, mas agora com um tom diferente:
— Coordenação… ousadia… precisão…
Jane prendeu a respiração.
— Parabéns. Os três… são Wild Aces.
No cockpit, Jane, Erik e Salma se olharam e explodiram em gritos de comemoração.
— CONSEGUIMOS! — berrou Erik.
— Como nos velhos tempos! — gritou Salma.
— Eu disse! — exclamou Jane.
Eles pousaram juntos. Ao descerem, Mathew os esperava, braços cruzados, rosto austero.
Aproximou-se, olhando-os um a um.
— O céu não pertence aos impulsivos… mas aos que ousam com precisão.
Estendeu a mão para Jane.
Ela apertou firme.
— Sempre fui boa com ousadia.
Mathew então olhou para os três:
— Bem-vindos aos Wild Aces.
Jane virou-se para Erik e Salma, ergueu a mão e, juntos, disseram com orgulho:
— “Que venham os céus… nós já os dominamos!”
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Atualizado até capítulo 68
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