Assim que desci do carro e encarei a fachada daquela casa enorme, meu estômago revirou. Era como se cada passo até a porta pesasse toneladas. O lugar exalava poder, silêncio e uma frieza que me fez apertar o casaco com força, como se fosse uma armadura. Eu sabia que estava entrando num mundo que não era meu.
Toquei a campainha e esperei, com o coração batendo forte. Quando a porta se abriu, dei de cara com ele — **Sébastien Lacroix**. Alto, imponente, o terno escuro alinhado e o olhar duro. Seu nome era conhecido, especialmente entre quem, como eu, servia clientes importantes no bar onde trabalhei. Mas ao vivo... ele era ainda mais intimidador.
— Você é Elisa Silva? — perguntou, direto, como se cada palavra fosse medida.
— Sim, senhor Lacroix — respondi, tentando manter a voz firme, mesmo sentindo a tensão percorrer cada parte do meu corpo.
Ele deu um passo para o lado, me permitindo entrar. Seus olhos me seguiram de forma fria, como se analisasse minha alma. Andei com calma, tentando manter a postura. Não sorri, não me encolhi. Estava ali para tentar algo diferente, e isso exigia coragem.
A sala onde ele me conduziu era elegante, minimalista, fria como ele. Tudo impecavelmente arrumado, o tipo de lugar onde qualquer desvio chamaria atenção. Sentei onde ele indicou, mantendo as mãos cruzadas no colo.
— Seu currículo diz que você trabalhou em um bar. Nenhuma experiência com crianças? — ele foi direto, sem rodeios.
Respirei fundo. Era a parte mais difícil. A verdade, nua e crua.
— Não, senhor. Nunca cuidei de crianças profissionalmente — respondi, olhando nos olhos dele. — Mas estou disposta a aprender. Preciso desse emprego. Não apenas pelo salário, mas... por tudo. Quero recomeçar.
Ele não demonstrou reação. Só continuou me observando, como se tentasse entender se eu estava mentindo ou só sendo idiota.
— Já cuidou de alguém? Criança, idoso, animal de estimação? — insistiu.
— Não, senhor. Só de mim mesma — respondi, com um sorriso discreto, tentando aliviar o clima. Não funcionou.
Houve um silêncio incômodo depois da resposta. E mesmo assim, não me deixei vacilar. Eu sabia o que tinha vindo fazer ali.
Observei a forma como ele me olhava. Não era como os homens do bar — nem como os que me entrevistaram em empregos comuns. Ele não buscava sedução, nem carisma. Ele analisava. Media. Julgava. E, por mais estranho que fosse, parecia confuso com a forma como eu me portava.
Talvez esperasse que eu viesse com decote, maquiagem pesada, rindo sem parar. Mas eu não estava ali para isso. Eu usava uma calça jeans escura, uma blusa simples de manga comprida, sem maquiagem carregada, sem perfume forte. Diferente das mulheres que provavelmente se ofereciam mais do que se apresentavam.
Vi quando o olhar dele baixou por um segundo, não de forma vulgar, mas como se notasse minha diferença. Como se não soubesse exatamente como me encaixar no padrão dele — ou se isso era bom ou ruim.
— A babá da minha filha precisa ser firme, responsável. Alguém que consiga lidar com situações difíceis — disse, voltando ao tom frio.
— Eu entendo — respondi sem hesitar.
Fiquei imaginando como era essa filha. O que a tornava tão “difícil”. Mas não perguntei. Não era hora. Apenas assenti com seriedade, tentando transmitir o máximo de segurança que eu podia naquele momento.
— Será um período experimental — ele concluiu. — Se não estiver à altura, será dispensada.
Aquelas palavras me acertaram como um soco, mas não deixei transparecer. Respirei fundo, levantei o queixo.
— Entendido.
Ele se levantou primeiro. A entrevista tinha acabado. Nenhum sorriso. Nenhuma despedida calorosa. Só um leve aceno com a cabeça. Caminhei até a porta sentindo o peso do ar ao meu redor. Sabia que ele ainda me observava mesmo de costas.
Ao sair, o ar frio da manhã me atingiu com força. Só então percebi que estava suando.
Caminhei de volta até o táxi com passos firmes. Meu coração ainda acelerado, mas havia algo diferente agora. Uma mistura estranha de alívio, medo e... esperança.
Eu não sabia se ia durar, se daria conta, ou se ele me demitiria na primeira semana. Mas eu tinha sido honesta. Tinha enfrentado aquele olhar duro sem abaixar a cabeça.
E de algum modo, isso já me fazia sentir mais forte.
Talvez fosse o começo de algo novo.
Talvez minha última chance.
mansão Lacroix
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Atualizado até capítulo 76
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