O despertador soou às cinco da manhã, como um ritual implacável que eu nunca conseguia ignorar. Paris ainda dormia sob um céu escuro, e as ruas vazias pareciam respirar silêncio, como se o mundo estivesse esperando para despertar. Eu, no entanto, não podia me dar ao luxo de descansar. Havia muito a fazer.
Levantei-me devagar, caminhando até a cozinha moderna do meu apartamento, onde o aroma do café recém-passado começava a preencher o ar. O silêncio da manhã era interrompido apenas pelo som do meu coração acelerado, pulsando com a responsabilidade que eu carregava.
Minha vida era dividida entre os corredores do império empresarial da minha família e o quarto silencioso onde minha filha ainda dormia. Desde que minha esposa se foi, tudo mudou. A dor, a solidão, a necessidade de ser forte, para ela, para mim mesmo.
Enquanto revisava os relatórios financeiros no tablet, o telefone tocou, cortando meu foco. A voz da minha secretária, sempre profissional, me trouxe uma notícia que eu já esperava:
— Senhor Sébastien, só para lembrar que amanhã está marcada a entrevista com a candidata a babá para a senhorita Malia.
Fechei os olhos por um instante e soltei um suspiro pesado.
— Outra babá? — perguntei, a voz carregada de cansaço. — Sinceramente, não aguento mais essas entrevistas. Parece que toda babá que aparece está mais interessada em mim do que no emprego. Talvez seja porque sou um solteiro cobiçado. O mundo inteiro quer um pedaço disso — disse, meio brincando, meio sério.
Ela riu, um som leve que contrastava com o peso da minha rotina.
—Só mais essa senhor .
Coloquei o telefone de lado e olhei pela janela. A cidade começava a ganhar vida, as luzes dos postes dando lugar ao brilho natural do amanhecer. Paris era linda, cheia de promessas e sombras. E eu vivia entre essas sombras, tentando proteger o que me restava.
Cuidar da Malia era minha prioridade absoluta. A perda da minha esposa me deixou com um vazio que eu tentava preencher com disciplina e amor rigoroso. Minha filha era meu mundo, minha razão de viver. Eu queria o melhor para ela, e isso significava encontrar alguém que pudesse ajudá-la enquanto eu enfrentava o peso dos negócios e da solidão.
Mas confiar não era fácil. Minha família era tradicional, exigente e esperava que eu mantivesse tudo sob controle. Eu não podia permitir deslizes. Cada decisão era medida, cada gesto calculado.
Enquanto preparava o café da manhã para mim e minha filha, os pensamentos se amontoavam. Lembrei das reuniões, dos contratos, das negociações que me aguardavam. Mas o pensamento que mais me ocupava era a chegada dessa babá. Quem seria essa mulher? Conseguiria ela entender o que minha filha precisava? Ou seria mais uma distração, mais um problema?
Paris guardava segredos, como eu guardava os meus. E, pela primeira vez em muito tempo, havia uma esperança tímida de que algo inesperado pudesse acontecer.
Ainda assim, mantinha os olhos bem abertos. No meu mundo, confiança era uma moeda rara. E eu não estava disposto a perder nada do que tinha, especialmente não minha filha.
O relógio marcou sete e meia quando ouvi os passos leves de Malia no corredor. Ela apareceu com aqueles olhos grandes e azuis, ainda sonolenta, mas iluminando o meu dia com sua presença.
— Bom dia, papai — disse ela, com a voz ainda rouca de sono.
Sorri, sentindo o calor que só ela sabia trazer.
— Bom dia, meu amor. Preparada para mais um dia?
Ela assentiu, abrindo um sorriso tímido. Para ela, eu era um gigante protetor, o homem que enfrentava o mundo para mantê-la segura.
E eu faria isso, custasse o que custasse.
Sébastien Lacroix
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Atualizado até capítulo 76
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