A noite estava perfeita para correr. Ar seco, pista limpa, motores prontos. O clima do Inferno Strip era familiar — aquele tipo de caos que ele dominava com os olhos fechados. Mas o que Nicolás não contava era com a distração em forma de vestido colado.
Nina desfilava com um vestido colado, rebolando como uma dançarina barata, rindo alto — uma tentativa óbvia de chamar atenção.
Ele ignorava.
Porém, sentia outros olhos sobre ele — os dela.
Sienna estava encostada em um Mustang azul, braços cruzados, observando como se quisesse explodi-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.
Ela era um problema. Do tipo que ele não queria — nem conseguia — resolver.
— Tá pronto ou vai mijar nas calças? — Lorenzo apareceu, batendo a mão no ombro dele.
Nicolás sorriu de canto.
— Você que devia se preocupar com o freio. Parece que seu carro tá velho.
— Velho, mas te deixa comendo poeira.
Ambos riram e foram para seus carros.
Lorenzo havia desafiado Nicolás para uma corrida, queria ver o quanto ele era bom com o carro para situações de fuga.
No volante, Nicolás sentia-se em casa. A vibração do motor debaixo das mãos, a concentração total.O mundo lá fora seguia regras. Ali, só existia instinto.
A velocidade o acalmava.
— Três… dois… um!
O grito rasgou o ar. Ele pisou fundo.
A pista voava, as curvas vinham como lâminas, a disputa era apertada. Lorenzo forçou por dentro. Nicolás respondeu por fora. Emparelhados, duelando até o último segundo.
Linha de chegada.
Empate.
O público explodiu em gritos. Nicolás saiu do carro devagar, sentindo a respiração acelerar. Encontrou Lorenzo na frente, rindo como um idiota.
Se encararam por um momento. Orgulho. Respeito.
Nenhum dos dois precisava dizer em voz alta. A corrida tinha selado um pacto entre eles.
“Toca aí.” A palma da mão encontrou a de Lorenzo num gesto rápido e cúmplice.
— Boa corrida. — Lorenzo disse.
— Igualmente. — Nicolás respondeu.
E então… sentiu o olhar dela outra vez.
Sienna.
Do outro lado, imóvel. Os olhos dela estavam cravados nele. Com raiva. Ou desejo. Ou os dois.
Mas o que veio foi Nina, se aproximando com a expressão faminta.
Nicolás a ignorou. Só pensava em Sienna.
— Nicolás! — Nina disse com a voz mais doce que conseguiu forçar. — Você foi incrível.
Ele nem olhou.
— Valeu. — respondeu seco, passando a toalha no rosto suado.
Ela se aproximou ainda mais, colando o corpo ao dele.
— Sério, foi… sexy. A forma como você dirige… — ela encostou a mão no braço dele, lentamente.
Nicolás a encarou por um segundo, expressão neutra.
— Tá precisando de alguma coisa?
Ela deu uma risadinha.
— Talvez de você.
Ele deu um passo para o lado, afastando-se.
— Tenta outro. Esse tipo de joguinho não funciona comigo.
Nina piscou, surpresa com a rejeição.
— Você nem tenta ser gentil, né?
— Não costumo fingir interesse onde não existe. — respondeu e virou as costas.
Nina ficou parada ali, com o orgulho ferido e o vestido provocante servindo apenas como frustração.
Nicolás mal tinha se afastado de Nina quando sentiu os olhos de Sienna nele. Ela voltou do nada, segurando uma bebida, o rosto tenso.
— E aí, gostou do showzinho dela? — disparou antes mesmo de se conter.
— Se está falando da Nina, não assisti. — ele respondeu, calmo, mas com o olhar cravado nela. — Mas da parte que envolvia carros, sim. Foi interessante.
Sienna bufou.
— Interessante? Aposto que ficou louco pra dar carona pra ela depois.
Ele se aproximou um passo.
— E se eu quisesse dar carona pra você?
Ela engasgou com a própria respiração, surpresa.
— Eu jamais entraria no seu carro.
— Pena. Porque é o único lugar onde você realmente estaria segura.
O clima entre os dois ficou carregado. Tenso. Quente.
Até que Talia apareceu por trás de Sienna e interrompeu o momento:
— Tudo certo por aqui?
Sienna desviou o olhar.
— Tudo ótimo. — respondeu seca, antes de se afastar.
Nicolás ficou parado, observando. E pela primeira vez em muito tempo, sorriu.
Nicolás não era muito fã de bebidas, no geral. Mas estava se permitindo provar por insistência de Lorenzo.
Passou o olho pelo bar da Strip, até notar Sienna, sentada sozinha.
Entre sombras e fumaça, Nicolás observava tudo em silêncio. Recostado contra uma pilastra, copo intacto na mão, olhos fixos em cada gesto.
A forma como o cara se aproximou. O modo como ela recuou ligeiramente no banco. O desconforto nos olhos dela, mesmo quando tentava manter a pose. Nicolás viu tudo. Sentiu tudo.
Mas foi quando Vincent se inclinou e a beijou que os dedos de Nicolás se fecharam com tanta força no copo que quase o estilhaçou.
— Quem é esse? — rosnou baixo, sem tirar os olhos da cena.
Lorenzo, ao lado dele, apenas olhou de canto e respondeu:
— Vincent Greco. Irmão da Talia.
Nicolás cerrou a mandíbula.
— E o que ele tá fazendo beijando a Sienna?
Lorenzo deu um sorriso breve, quase sarcástico.
— Ela sempre disse que gostava dele. Desde pequena, parece. Um crush antigo. Mas…
— Mas? — Nicolás apertou.
— Mas ele é um idiota. — Lorenzo respondeu, tomando um gole da própria bebida. — Do tipo que quebra o que toca.
— Por quê?
Lorenzo apenas olhou para ele, olhos sombrios, e soltou:
— Você vai ver.
Nicolás manteve o olhar fixo em Sienna, que agora estava sozinha outra vez no balcão. O coração dele apertou no peito, mas ele disfarçou, como sempre fazia. Porque não podia. Porque não devia. Porque o motivo de estar ali... era outro.
Mas mesmo assim... algo nele já começava a queimar.
Depois da multidão se dispersar e os carros começarem a sair da Strip, Lorenzo e Nicolás se sentaram no capô de um dos veículos, olhando o céu noturno.
— Você sabe que a Nina tá te querendo, né? — Lorenzo comentou, casual, abrindo uma lata de energético.
Nicolás nem desviou o olhar.
— E eu não tô querendo ela.
Lorenzo riu.
— Tá… direto assim. Nem um mínimo de interesse?
— Zero. — Nicolás respondeu. — Não tô procurando ninguém.
Lorenzo ergue uma sobrancelha, malicioso.
— Nem a Sienna?
Nicolás travou. Um segundo de silêncio a mais do que deveria. Mas respondeu rápido:
— Ela me odeia.
— Isso não foi um “não”, irmão. — Lorenzo provocou, divertido.
Nicolás desviou o olhar e jogou uma chave para o alto.
— Você anda muito entediado, Lorenzo.
— E você anda muito obcecado por uma garota que diz te odiar.
Nicolás não respondeu.
Mas o sorriso contido nos lábios dele entregava mais do que qualquer palavra.
Lorenzo deu outro gole no energético e bateu com a lata contra a de Nicolás, como se brindasse a vitória — ou empate — da corrida.
— Você tá mesmo ferrado com essa garota. — ele disse, encarando o irmão de aliança com aquele sorrisinho cínico no canto da boca.
Nicolás passou a mão nos cabelos, sem responder.
— A forma como você olhou pra ela quando ela apareceu com aquele copo na mão… Quase amassou o volante, Esposito.
— Você tá vendo demais, Lorenzo. — ele resmungou, de olhos fixos no céu.
— E você está sentindo demais. — Lorenzo provocou. — Eu reconheço esse tipo de raiva disfarçada. Você quer ela, mas não sabe se corre ou se foge.
Nicolás soltou um suspiro abafado, cansado.
— Ela me odeia, Lorenzo.
— Isso é só uma forma mais dramática de dizer que ela te quer e não sabe como lidar.
Nicolás balançou a cabeça com um sorriso torto e então, com a voz baixa, comentou:
— E a Talia? Já percebeu o jeito que ela te olha?
Lorenzo ergueu as sobrancelhas, surpreso pela mudança de assunto.
— Talia?
— Finge que não viu. Mas ela presta atenção em você o tempo todo. Até quando tá com raiva.
Lorenzo fez uma careta e apoiou os cotovelos nos joelhos.
— Não quero a Talia.
— É bonita. Esperta. E sabe atirar. — Nicolás completou, provocando do jeito que Lorenzo fazia com ele.
— E é complicada. — Lorenzo respondeu com naturalidade. — Além disso, tem olhos só pra brigar comigo. Não rola.
— Igual a Sienna comigo?
— Exatamente igual. — Lorenzo sorriu. — Só que no seu caso, o problema é que você não quer fugir disso.
Silêncio.
Nicolás ficou sério, encarando a frente.
Lorenzo então concluiu:
— Eu não quero a Talia. Mas você quer a Sienna. E isso vai te destruir... ou te mudar. Vai depender de como ela te toca primeiro — no coração ou na pele.
Nicolás continuou calado.
Mas o silêncio dele... era uma confissão.
Lorenzo cruzou os braços e ficou em silêncio por um momento, encarando a pista vazia onde os motores já haviam se calado. O vento noturno bagunçava seus cabelos, e o brilho dos postes da Strip criava sombras longas e dançantes atrás deles.
— Só pra constar... — Lorenzo disse, quebrando o silêncio. — Se você decidir parar de fugir e encarar isso de frente… eu apoio vocês dois.
Nicolás virou o rosto devagar, surpreso com a sinceridade na voz do amigo.
— Você o quê?
— Apoio. — Lorenzo repetiu, firme. — Eu vejo como você olha pra ela. E também vejo como ela reage quando você está por perto. Não é só ódio, cara. Aquilo tem outra coisa por trás. Você a desafia. Ela te tira do eixo. Talvez seja exatamente o que vocês dois precisam.
Nicolás riu sem humor, balançando a cabeça.
— Isso não vai acontecer, Lorenzo.
— Por quê? — Lorenzo arqueou a sobrancelha. — Medo?
— Não. — Nicolás respondeu seco. Depois, a voz saiu mais baixa. — Eu sei por que estou aqui. E não é pra me apaixonar.
Lorenzo ficou em silêncio por alguns segundos, observando Nicolás.
— A vingança. — ele murmurou, como se a palavra tivesse peso.
Nicolás apenas assentiu com um leve movimento de cabeça, sem dizer mais nada.
Lorenzo suspirou e se levantou.
— Só não espere perder tudo pra perceber que amar também pode ser parte do plano. Mesmo quando o plano era se vingar.
Nicolás ficou ali, sozinho por um momento, encarando o horizonte distante da Strip.
Seu coração batia pesado — um lembrete cruel de que, às vezes, o maior inimigo da missão… era o que ela despertava.
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Atualizado até capítulo 60
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