Nicolás Reyes foi treinado para matar.
Desde cedo, aprendeu a obedecer ordens e a silenciar emoções com a mesma frieza com que puxava um gatilho. Herdeiro do Cartel Del Sol, ele era o filho do medo — moldado em aço, criado para liderar, destinado a destruir.
Nunca amou. Nunca confiou. Nunca hesitou.
A Colômbia o viu crescer como lenda — mas foi o luto que o empurrou para o mundo.
E então... encontrou Sienna.
Ela era caos. Ela era ruído onde só havia cálculo.
Ela era o primeiro erro que ele não teve coragem de corrigir.
E agora, pela primeira vez, Nicolás não sabia se conseguiria matar — sem antes ser destruído por dentro.
…
Nicolás Reyes jamais imaginou que um dia faria negócios com a família Alfieri.
Único filho da família Reyes, criado para ser uma máquina de matar — frio, calculista, silencioso.
Não podia prever que sua vida mudaria para sempre ao se infiltrar nos Estados Unidos como um suposto parente distante da máfia italiana Esposito.
Ele e Lorenzo Alfieri haviam firmado um acordo.
Uma vingança em troca de um traidor.
E a primeira etapa do plano exigia que Lorenzo o apresentasse à nova realidade em que operariam — o submundo dos herdeiros da máfia.
Estavam agora no Inferno Strip.
Corridas ilegais.
Noite, luzes de néon, motores roncando, cheiro de gasolina e fumaça queimando o ar.
Era a primeira vez que Nicolás observava aquele lugar de verdade. Havia estado ali com Lorenzo no dia anterior, mas não prestou atenção. Hoje, tudo era análise.
Apesar de estar infiltrado, não demonstrava tensão — seu olhar frio percorria o local com avaliação calculada. Ele estava ao lado de Lorenzo, que parecia em casa no meio das motos reluzentes, carros turbinados e jovens gritando empolgados.
— Bem-vindo ao Inferno Strip, Esposito. — Lorenzo disse com um sorriso de canto, usando o sobrenome falso dele. — Aqui é onde os filhos da máfia quebram as regras… entre eles mesmos.
Nicolás não respondeu. Apenas observava.
Até que seu olhar se fixou em uma figura. Uma garota caminhava até o carro mais estilizado da noite — vermelho, reluzente.
Cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo alto, macacão de corrida colada ao corpo, expressão confiante.
Ela girou as chaves no dedo, subiu no capô e anunciou com voz firme:
— Próxima corrida: eu contra qualquer um que tenha coragem!
— Sienna tá impossível hoje — comentou um dos rapazes perto deles.
Nicolás arqueou uma sobrancelha.
— Sério que vão deixar ela correr?
Lorenzo se virou lentamente, mas Sienna já tinha escutado.
— Ela tem nome, machista de merda — ela rebateu, olhando diretamente para Nicolás. — E já que você duvidou, por que não entra na pista comigo e leva uma surra?
Um murmúrio se espalhou pela multidão. Nicolás cruzou os braços, sem se abalar.
— Eu não corro com quem precisa provar algo o tempo todo.
— Ótimo — ela respondeu, descendo do carro e caminhando até ele, o dedo em riste. — Assim sobra espaço pra eu mostrar como se corre de verdade.
Ele manteve a calma, mas os olhos cinzentos cintilavam de leve.
— Boa sorte, princesa.
— Vai precisar mais que sorte pra engolir o resultado, Esposito.
Ela deu as costas e entrou no carro, deixando o ambiente em chamas. Lorenzo soltou uma risada abafada.
— Você acabou de se tornar inimigo da pessoa errada.
Nicolás franziu o cenho, desconfiado.
— Quem é ela?
Lorenzo apenas sorriu, sem responder.
A corrida foi brutal.
Sienna dominava o volante com ferocidade e estilo. Nicolás, que assistia da arquibancada improvisada, não conseguia tirar os olhos dela. Ela cortava curvas com precisão milimétrica, ignorando os limites como se tivesse nascido para aquilo.
Quando cruzou a linha de chegada em primeiro, deixando todos para trás — inclusive o filho de um chefão italiano com um ego do tamanho da pista — a multidão explodiu.
Sienna saltou do carro como se nada tivesse acontecido, tirou o capacete com um giro elegante e olhou diretamente para Nicolás. Não disse nada. Apenas sorriu com escárnio e piscou.
Ele franziu o cenho. Pela primeira vez em muito tempo, se sentiu provocado de verdade.
— Impressionante, né? — Lorenzo disse, surgindo ao lado dele.
Nicolás assentiu com um som gutural.
— Quem diabos é essa garota?
Lorenzo deu um tapinha nas costas dele.
— Minha irmã mais nova.
Nicolás virou lentamente para ele, os olhos arregalados por um segundo.
— O quê?
— Sienna Alfieri — Lorenzo completou, com um sorriso divertido. — Agora imagina o inferno que você arrumou para si.
Nicolás olhou de volta para Sienna, que agora falava com algumas pessoas, ainda radiante pela vitória.
Ele não disse nada, mas pela primeira vez em muito tempo… sentiu o coração acelerar.
Ela chamava atenção.
Nicolás manteve os olhos fixos na garota de cabelos ruivos vibrantes, que se destacavam como chamas sob as luzes do Inferno Strip. O vermelho dos fios era tão ousado quanto o jeito com que ela dirigia, falava… e desafiava.
Sienna estava cercada por um pequeno grupo, rindo com as amigas, ainda com a adrenalina da corrida percorrendo o sangue. O macacão de corrida aberto até a cintura revelava uma blusa colada no corpo — não pela provocação, mas por pura praticidade. Mesmo assim, chamava atenção. E Nicolás não conseguia desviar os olhos.
— Você não disse que tinha uma irmã — comentou, num tom seco, tentando disfarçar a surpresa.
— Você nunca perguntou — respondeu Lorenzo, com um riso contido. — E preferi evitar. Ela é bonita demais e você tem exatamente a cara do tipo que ela gosta.
Nicolás estreitou os olhos.
— Não me interessa.
— Claro que não — Lorenzo respondeu, irônico. — Só ficou encarando ela o tempo inteiro.
Antes que Nicolás respondesse, viu Sienna se aproximando com um copo de energético na mão e o olhar afiado como uma navalha.
Nicolás a observava sem dizer uma palavra, a mandíbula marcada contraída — não pelo desconforto, mas pela frustração de ter subestimado alguém que claramente não aceitava ser colocada em segundo plano.
Sienna se aproximou com passos lentos, mas determinados. Alguns fios do seu rabo de cavalo escapando pelo rosto ainda levemente suado da corrida.
Ela parou ao lado de Lorenzo, que apenas suspirou e cruzou os braços, antecipando a faísca que sabia que viria.
— Nicolás — disse Lorenzo, fazendo um gesto com a mão. — Essa é minha irmã mais nova, Sienna.
Sienna sorriu com ironia, inclinando levemente a cabeça para o lado.
— E eu sabia que você tinha amigos idiotas, irmão. Mas não esperava que fosse um idiota machista.
Lorenzo quase engasgou com a bebida.
— Sienna…
Nicolás manteve o olhar preso nela, impassível. Seus olhos castanho-acinzentados encontraram os dela como lâminas silenciosas, mas afiadas.
— Então, ‘Esposito’ — ela disse, fazendo aspas no ar com os dedos —, o que achou do desempenho de alguém que “não deveria correr”?
Ele respirou fundo. Manteve a postura firme, mas sua voz saiu mais rouca do que o normal.
— Admito que você surpreende.
Ela arqueou uma sobrancelha, desafiadora.
— Esperava o quê? Que eu batesse o carro tentando passar marcha?
— Talvez que errasse a curva mais fechada — ele respondeu, com um leve sorriso de canto. — Mas você foi precisa. Controlada.
— E rápida — ela completou, sorrindo com superioridade. — Obrigada pelo reconhecimento. Vindo de alguém tão… contido, quase soa como elogio.
— Eu apenas comentei que duvidava da vitória — respondeu, com calma gélida. — Não foi pessoal. Poderia ter sido qualquer um.
— Mas não era qualquer um — ela rebateu sem hesitar. — Era eu. Uma garota. E você achou engraçado duvidar. Azar o seu.
— E sorte a sua que eu estava errado — ele respondeu, o canto da boca erguendo-se ligeiramente. — Você dirige bem.
— Eu sou boa em tudo o que faço — ela disse, encarando-o de volta, os olhos castanhos faiscando. — Mas duvido que você esteja preparado para lidar com isso.
Lorenzo observava a troca como quem assistia a uma bomba sendo armada.
— Vocês dois juntos vão dar trabalho — murmurou para si mesmo.
Sienna se virou para o irmão.
— Me avisa se o seu amigo parar de falar como se estivesse numa entrevista de emprego.
— Me avisa se ela parar de tentar provar que é melhor que todo mundo — Nicolás rebateu, sem pensar.
Sienna virou o rosto devagar, um riso baixo escapando de seus lábios.
— Não tô tentando provar nada. Eu sou melhor.
Por um momento, o silêncio entre os dois pareceu suspender o ar ao redor. O desafio era nítido, mas havia algo mais naquela troca — como duas feras se estudando antes de um embate, com a adrenalina de quem não sabe se vai lutar... ou ceder.
Lorenzo limpou a garganta.
— Ótimo. Maravilha. Agora que terminaram de medir egos, que tal socializar como adultos normais?
Sienna soltou uma risada seca, deu dois tapinhas no ombro do irmão e lançou mais um olhar de canto para Nicolás.
— Não garanto conseguir ser normal perto de gente como ele.
E antes que ele pudesse retrucar, ela virou as costas e foi embora, deixando para trás apenas o rastro do perfume, do sarcasmo — e a promessa de que aquele não seria o último embate entre eles.
Nicolás a seguiu com o olhar, sem dizer uma palavra. Mas Lorenzo notou: ele estava sorrindo.
Um sorriso sutil, contido… e perigoso.
Lorenzo deu uma palmada leve no peito do amigo.
— Boa sorte, irmão. Você acabou de declarar guerra à rainha do Inferno Strip.
Nicolás não respondeu. O que sentia não era exatamente raiva… Era algo mais perigoso.
Interesse.
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Atualizado até capítulo 60
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