Sienna e Talia estavam sentadas na área externa de uma cafeteria próxima à Vila Serpente, aguardando os amigos Nina e Rocco.
— E aí, Sie... como estão as coisas com o Vincent? — Talia perguntou, fingindo casualidade.
— Ah… — Sienna hesitou, tentando disfarçar — vamos sair amanhã.
— Você não parece muito animada. O que é estranho…
— Mas é claro que estou! Só tô... ansiosa — respondeu rápido demais.
Talia sabia que a amiga estava mentindo, mas não insistiria sobre o assunto.
Logo depois, Rocco e Nina chegaram.
— Alguém cala a boca da Nina, por favor? Não aguento mais ouvir sobre o Nicolás — resmungou Rocco, bem-humorado.
— Não é culpa minha se ele é tão bonito — respondeu Nina, com um sorrisinho.
Sienna a encarou, incomodada. Só Talia e Rocco perceberam.
— Mas não sei o que fazer para ele me notar. — Nina continuou, sonhadora.
— Tenta falar com ele hoje a noite. — sugeriu Talia, lançando um olhar discreto para Sienna.
— Hoje à noite? O que tem hoje?
— Você não sabe? — Rocco se animou — Lorenzo desafiou o Nicolás para uma corrida. Deve ser alguma aposta entre eles.
— Ah... entendi. Não me interessa mesmo assim — disse Sienna, dando de ombros.
— Estarei lá torcendo e gritando para Nicolás. — Nina soa apaixonada — Que roupa acham que eu devia usar para chamar atenção dele?
A garota falava empolgada, enquanto os amigos escutavam. Mas Sienna estava distante. Havia algo incômodo. Não só por Nina gostar de Nicolás — mas porque ela mesma não entendia mais como se sentia com relação ao Vincent.
O ar do Inferno Strip era uma mistura pulsante de gasolina, adrenalina e música eletrônica. A multidão vibrava — vozes, risos, apostas, motores roncando.
Sienna observava tudo de braços cruzados, encostada em um carro. Talia estava ao lado. Rocco mexia no celular. Nina? Desfilava.
Literalmente.
Vestia um vestido preto colado ao corpo como tinta, curtíssimo, com um decote escancarado. Chamava atenção de todos — menos de Nicolás, que ajustava os retrovisores do carro ao lado de Lorenzo.
— Tá vendo isso? — murmurou Sienna para Talia, sem disfarçar o desgosto.
— Ela tá praticamente jogando o peito no volante. — Talia respondeu com sarcasmo.
— Acha que ele vai cair nessa?
Talia deu de ombros.
— Nicolás não parece o tipo que se distrai com glitter.
Rocco riu.
— Mas o Lorenzo já está quase babando.
Talia fingiu não se importar, mas o incômodo foi real.
Sienna desviou o olhar de Nina, irritada, e fixou em Nicolás. Havia algo hipnotizante na forma como ele testava os pedais, concentrado, quase imperturbável. Mesmo à distância, ela conseguia sentir o magnetismo dele.
Um magnetismo silencioso e irritante.
E odiava aquilo.
Mais ainda odiava admitir que Nina também percebia.
Logo, os carros se alinharam. Nicolás em um Camaro preto, Lorenzo em um Dodge cinza.
A multidão se agitou. Alguém contou em voz alta:
— Três… dois… um!
Os motores rugiram como feras soltas. Pneus chiaram, o asfalto foi engolido pela fumaça. Sienna segurou a respiração, o coração acelerado.
Foi uma corrida insana. Curvas, raspões milimétricos, velocidade absurda. A cada ultrapassagem, a multidão gritava.
E então… cruzaram a linha juntos.
Silêncio por um segundo.
Depois, gritos:
— EMPATE!
Sienna arregalou os olhos. Ninguém empatava com Lorenzo. Ninguém.
Nicolás havia conseguido.
Lorenzo saiu do carro primeiro, rindo. Nicolás tirou o capacete e desceu com calma.
Os dois se encararam, suados, ofegantes, adrenalina pura.
E aí, do nada… bateram as mãos num “toca aí”, cúmplices.
Sienna ficou sem reação.
— Que porra… — murmurou.
Talia deu um gole na bebida, indiferente.
E enquanto Nina caminhava sensualmente na direção de Nicolás, Sienna ficou ali, paralisada. Sentia algo estranho no peito.
Ciúmes? Irritação? Confusão?
Talvez tudo junto.
Sienna se afastou da pista assim que viu Nina se aproximar de Nicolás. O vestido justo, o sorriso provocador, a postura exageradamente sensual. Era impossível não perceber a intenção.
Ela não suportava aquilo.
— Vou pegar algo pra beber. — disse, se virando para Talia e Rocco sem esperar resposta.
Caminhou entre os carros, ignorando os olhares, ignorando o próprio coração acelerado. Não era ciúmes. Não podia ser.
Ou podia?
Pediu qualquer bebida só para ocupar as mãos. Sentia o estômago revirando, o peito comprimido. A imagem de Nina se aproximando de Nicolás rodava na mente como um filme repetido.
Por que aquilo a afetava tanto?
Respirou fundo.
— Idiota. — sussurrou para si mesma.
Ela sabia se defender. Sabia esconder sentimentos. Mas com Nicolás era diferente. Era como se ele arrancasse dela todas as reações que ela não queria sentir.
O bar do Inferno Strip estava mais cheio do que de costume naquela noite. Luzes vermelhas e douradas piscavam no ritmo da música grave, e o cheiro de gasolina misturado ao perfume de couro criava um clima quase sufocante.
Sienna estava sentada sozinha no balcão, girando o canudo dentro do copo com a bebida já quase derretida. Vestia uma blusa preta de alcinhas e jeans escuro, o cabelo preso em um coque bagunçado.
— Posso te pagar outra? — disse uma voz familiar às suas costas.
Ela não precisou se virar para saber quem era. O sorriso preguiçoso de Vincent sempre chegava antes dele.
— Não precisa — respondeu sem muita animação.
Vincent se sentou ao lado, próximo demais, como se o espaço pessoal dela fosse uma sugestão e não uma barreira.
— Está sozinha?
— Estou.
Ele sorriu de canto, confiante.
— Então vem comigo. Lá em casa. Só nós dois.
Sienna o olhou com calma, mas por dentro seu estômago se revirou. O cheiro do álcool na respiração dele, o jeito como falava com uma falsa doçura... algo nela gritava que não estava certo.
— Não, Vincent. Eu... não quero. Não tô pronta pra esse tipo de coisa.
Ele se inclinou, voz mais baixa, insistente:
— A gente já se conhece há anos, Sienna. Sempre disse que gostava de mim. Tá na hora de parar de fugir.
Ela respirou fundo e desviou o olhar.
— Eu só quero ir devagar. É pedir demais?
Vincent ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, deu um sorrisinho torto.
— Tá bom. Devagar então.
Antes de sair, puxou o queixo dela e a beijou.
Lento demais.
Longo demais.
Quando se afastou, sussurrou:
— Até amanhã, no nosso encontro rainha.
E saiu.
Sienna ficou ali, sozinha, encarando o copo vazio como se ele tivesse todas as respostas que ela não conseguia dar a si mesma.
Ela havia saído do Inferno Strip antes da festa acabar.
A brisa da madrugada dançava entre os cabelos soltos de Sienna enquanto ela olhava para o céu estrelado do terraço da Villa Serpente. Havia passado as últimas horas evitando pensar no beijo com Vincent — sem sucesso. E pior: evitando pensar no olhar que sentiu sobre si do outro lado do bar. Um olhar que queimava mais que qualquer toque.
Ela ouviu passos atrás de si. Sabia quem era.
— Você vai me odiar por isso — disse Talia, parando ao lado dela com os braços cruzados.
— Por que está aqui?
— Porque você é minha amiga. E porque você precisa parar com isso.
Sienna franziu o cenho, confusa.
— Parar com o quê?
— Com o Vincent.
Sienna virou de frente, tensa.
— Ah não. Lá vem você de novo. Vai dizer o quê agora? Que ele é o diabo disfarçado?
Talia respirou fundo, tentando conter a irritação.
— Não é piada, Sienna. Eu sou irmã dele. Eu conheço ele. Sei como ele trata as garotas quando consegue o que quer. E sei quando ele está forçando uma situação. Eu vi como você ficou desconfortável no bar hoje.
Sienna arregalou os olhos.
— Estava me vigiando?
— Cuidando. É diferente. E não sou só eu. Lorenzo e Nicolás também viram.
— Nicolás? — O nome escapou dos lábios de Sienna antes que ela pudesse controlar.
Talia estreitou os olhos, cruzando os braços de novo.
— É. Ele. E nem vem fingir que não importa.
Sienna deu um passo à frente, ferida e irritada.
— Quer saber, Talia? Você vive dizendo que me apoia, mas sempre tenta se meter. Se você quer ficar com quem quiser, ótimo. Eu nunca me meti quando você saiu por aí ficando com ninguém. Mas eu? Mal olho pro Vincent e você já quer cortar minha cabeça?
— Isso é diferente.
— Por que seria?! — gritou Sienna. — Só porque ele é seu irmão? Eu sempre apoiei você e o Lorenzo.
— Porque eu sei do que ele é capaz, Sienna! Porque eu me importo com você de verdade!
As duas ficaram em silêncio, respirando forte. A tensão entre elas era quase física.
Sienna desviou o olhar, a voz saindo mais fraca:
— Eu não sei mais o que sinto por ele…
Talia suavizou o semblante.
— E por Nicolás?
Sienna ficou muda.
Olhou de volta para o céu, como se as estrelas pudessem lhe dar uma resposta. Mas tudo o que encontrou foi confusão.
— Ele... ele fica na minha cabeça. Quando não tá por perto, eu penso nele. Quando tá perto... é pior ainda. Parece que ele me vê por dentro. E eu odeio isso. Odeio porque não faz sentido.
— Faz, sim — Talia disse mais baixo. — Você só ainda não quer aceitar.
Sienna não respondeu. Apenas ficou ali, com os olhos marejados e o coração em guerra.
Porque tudo estava desmoronando por dentro.
E ela ainda não sabia onde se segurar.
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Atualizado até capítulo 60
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