Capítulo 05

...Romeu Souza...

O som da porta do carro se fechando ecoou mais alto do que deveria e olhe que se tem uma coisa que cuido de verdade é deste carro.

Solto o ar devagar, girando a chave na ignição. O motor ligou, mas não arranquei de imediato. Fico aqui com as mãos firmes no volante e os olhos perdidos no retrovisor, onde posso ver a fachada iluminada da casa. Algumas vozes ainda vem do jardim, gargalhadas soltas, uma vida de uma família verdadeira feliz.

Vida que não é a minha.

Aurora.

O seu nome queima em minha mente como um chamado silencioso.

Passo a mão no rosto, frustrado.

O que eu estou fazendo? O que diabos estou sentindo?

Ela é jovem. Nova demais.

Criada entre livros e regras, filha de um advogado respeitado, sobrinha de mais dois advogados, também muito respeitados, cercada de proteção por todos os lados.

E eu? Um policial endurecido pela rua, pelas tragédias que vi e vivi. Não fui feito para algo puro e delicado com ela.

E eu sei disso. Sempre soube.

Mas então... por que diabos não consigo simplesmente ir embora por dentro também?

Porque Aurora não é só delicadeza. Ela tem algo nos olhos que me desafia, mesmo sem perceber. Um tipo de força silenciosa, firme. Uma coragem sutil que não vem de experiência, mas de essência.

Ela é o oposto de tudo que eu procurei. E exatamente tudo que eu não sabia que precisava.

Aperto os olhos fechados e recosto a cabeça no banco, lembrando da última troca de olhares, da voz dela dizendo "Boa noite" como se estivesse tentando esconder que também sente algo.

Não a toquei. Não beijei. Não ousei.

E mesmo assim, sinto que aquele foi o momento mais íntimo que tive em anos.

Pego o celular, abro o WhatsApp. A conversa com Alessandro está no topo. Poderia escrever algo, perguntar por ela, inventar qualquer desculpa para vê-la de novo.

Mas não escrevo.

Bloqueio a tela, jogo o celular no banco do passageiro e finalmente coloco o carro em movimento.

As rodas giram na rua vazia, mas minha mente ficou lá — no jardim daquela casa, no banco de madeira, no silêncio entre Aurora e eu.

E no fundo, bem fundo, eu sei que não estou fugindo dela.

Estou apenas adiando o inevitável.

O clique das chaves ecoa pelo apartamento escuro. Empurro a porta com o ombro, entro e a fecho com um leve estalo. O silêncio aqui dentro é quase absoluto, interrompido apenas pelo barulho abafado da cidade ao longe, atrás das janelas fechadas.

Jogo as chaves na bancada da cozinha, tiro a carteira do bolso de trás e largo junto. Solto um suspiro pesado, como se só aqui, nesse espaço vazio, eu pudesse enfim baixar a guarda.

Sem acender a luz principal, vou até a sala, tirando a camisa enquanto ando revelando meu corpo marcado — por músculos e pelas cicatrizes de anos na polícia. Abaixo-me para abrir a porta da varanda, deixando o ar frio da madrugada invadir o ambiente abafado.

Acendo um cigarro — hábito antigo que já prometi abandonar, mas que às vezes volta quando a cabeça lateja de pensamentos.

Aurora.

O nome dela parece ecoar no silêncio como se tivesse vida própria.

Me recosto no batente da porta da varanda, olhando as luzes da cidade lá embaixo. Não sou um cara de grandes paixões. Já tive relacionamentos, alguns intensos, outros mornos. Nenhum duradouro. Nenhum que tenha deixado marcas que não desaparecem com o tempo.

Mas agora… uma garota de vinte e um anos, que conheci numa noite aleatória, está cavando um espaço dentro de mim que nem eu sabia que existia.

"Ela é jovem demais", repito mentalmente, como um mantra.

Mas também penso: "Ela é tudo o que há de mais sincero."

Aurora não usa de artifícios. Não flerta por diversão. É provocadora e mesmo assim — ou justamente por isso — tenha desarmado tudo em mim.

Apago o cigarro pela metade, irritado com meu próprio estado. Passo as mãos no rosto, depois no cabelo. Estou exausto, mas sei que não conseguirei dormir.

Vou até o banheiro, ligo o chuveiro quente e entro sem pensar duas vezes. Deixo a água cair pelos ombros, pelos olhos fechados. A água escorre como se tentasse levar junto o desejo que eu tento conter.

Mas infelizmente não leva. Só aumenta.

Eu quero Aurora!

Mas não só pelo corpo dela. Quero ouvir mais a voz dela. Quero vê-la franzir o cenho quando discorda de mim. Quero provocar aqueles silêncios carregados de significado.

E isso, para mim, é infinitamente mais perigoso do que só querer uma noite.

A água quente cai como uma cortina espessa, escorrendo lentamente pelos meus ombros largos e pelas minhas costas. Estou com as mãos apoiadas nos azulejos à frente, a cabeça baixa, os olhos fechados.

O vapor envolve o ambiente, mas não é suficiente para apagar a imagem que queima dentro de mim.

Aurora.

O jeito que os cabelos dela caíam quando o coque se desfazia. O modo como os lábios se comprimiam quando ela estava desconfortável, como se segurasse algo que não queria mostrar. Os olhos… inocentes, mas atentos. Cheios de uma intensidade que ela mesma não parecia entender.

Encosto a testa na parede úmida.

Eu não deveria pensar nela desse jeito. Mas penso. Sempre.

Dois malditos anos pensando nessa sereia!

F*dendo outras pensando nela.

Me sinto um cafajeste por isso, nunca tr*nsei com uma mulher pensando em outra, mas a p*rra dessa sereia dominou meus pensamentos e quando vejo já estou pensando nela.

Tento conter o pensamento. Tento focar no trabalho, no cheiro do sabonete, em qualquer coisa que não seja o que senti ao vê-la naquela noite — com aquele vestido colado, a pele exposta, o rubor no rosto quando eu a provocava.

Aquela tensão… aquilo é real.

Minha respiração fica mais pesada.

Minha mão deslizou lentamente pelo meu próprio corpo, guiada por um instinto que eu já não quero mais controlar. Não é só desejo físico. É a forma como ela me faz sentir vivo. Confuso. Humano.

É isso que me consome.

Fecho os olhos com força, deixando o desejo transbordar. Cada pensamento nela é como gasolina no fogo que queima dentro de mim. A forma como ela me olhou antes de nos despedirmos… como se estivesse tão próxima de ceder quanto eu de me perder.

O nome dela escapou em um sussurro rouco entre meus lábios:

— Aurora…

Meu corpo respondeu, forte, urgente, mas meu peito aperta ao mesmo tempo. Como se o desejo viesse carregado de algo mais fundo. Algo que eu nunca associei a momentos assim.

Quando o prazer me tomou, foi com os olhos ainda fechados e a mente completamente tomada por ela. Só ela.

E quando termina, fico aqui respirando fundo.

O coração disparado.

O peito cheio.

E o maldito vazio ainda aqui.

Não é só físico. Nunca foi.

Maldita sereia!

Nem lembro a última vez que bati uma p*nheta pensando em alguém.

Desligo o chuveiro e me apoio mais uma vez na parede. Tenho consciência de que estou cruzando uma linha da qual talvez não consiga voltar.

Aurora entrou em mim. E agora... eu não sei mais como tirá-la daqui.

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Comments

Helena Barbosa

Helena Barbosa

simplesmente meu caro, não dá p tirar

2025-07-18

4

Leandra Carla De Oliveira

Leandra Carla De Oliveira

Autora estou com palpitação com esse capítulo, mulher vc nos faz ter cada pensamento 🥵🥵🥵.
Autora não demora para o primeiro beijo do casal estou juntando ponto para te dar um café.

2025-07-18

1

Tatiene Silva

Tatiene Silva

a eu no banheiro com esse ébano 🫣🫢

2025-07-23

1

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