O portão de ferro se abriu devagar, revelando a imponente fachada da mansão Ferraz. Aurora observava em silêncio pela janela do carro, o coração apertado entre a ansiedade e o cansaço. As colunas de mármore, o jardim impecavelmente podado, o brilho do sol refletindo nos vidros — tudo ali parecia frio, ensaiado, distante.
E, ainda assim, havia algo diferente. Algo sutil. Não era acolhimento, ainda. Mas também não era desprezo.
Ao descer do carro, foi recebida por Marina Ferraz, a matriarca da família, uma mulher de elegância discreta e olhar analítico.
— Aurora, bem-vinda. Sei que não é fácil para você estar aqui. Mas agradecemos por aceitar esse arranjo, mesmo em circunstâncias tão... inesperadas.
Aurora assentiu com um sorriso educado.
— Obrigada pela recepção, senhora Ferraz.
— Me chame de Marina. E, por favor, sinta-se à vontade. Essa será sua casa agora.
Aurora atravessou os corredores acompanhada por Marina, passando por salões amplos e silenciosos. A mansão era muito mais do que luxuosa — era organizada, quase solene. A ausência de Enzo pairava no ar, como uma presença invisível que todos evitavam nomear.
— Você ficará no quarto ao lado do Enzo. — Marina explicou, com uma calma que soava ensaiada. — Não é uma exigência. Mas… talvez facilite quando precisar visitá-lo.
Aurora apenas assentiu. Não havia mais espaço para protestos.
Ao entrar no quarto reservado para ela, se surpreendeu. O ambiente era amplo, com móveis claros e delicados, cortinas de linho e uma cama cuidadosamente arrumada. Sobre a cômoda, um buquê de rosas brancas — frescas. Um gesto pequeno, mas que dizia mais do que todas as palavras educadas que ouvira até agora.
Ela pousou a mala e respirou fundo. Pela primeira vez em semanas, não sentia medo do amanhã. Ainda era tudo estranho, incerto, mas diferente.
No mesmo momento, do outro lado da cidade, Levi se preparava para dar uma notícia que muitos julgariam repentina.
Diante de uma mesa cercada por velhos amigos, colegas de trabalho e alguns familiares que mal viam Aurora como parte da vida dele, Levi ergueu sua taça com um sorriso forçado.
— Eu queria agradecer a presença de todos vocês aqui hoje. Tenho algo importante pra anunciar. Algo… inesperado, mas necessário.
Yasmin, ao lado dele, segurava sua mão com força. Usava um vestido claro, sutilmente elegante. E no dedo… um anel.
O mesmo anel que Aurora havia escolhido com Levi meses atrás, quando ainda faziam planos de vida juntos.
— Eu e Yasmin vamos nos casar — anunciou ele. — Antes que pensem qualquer coisa… sim, sabemos que é repentino. Mas diante da condição dela, decidimos viver esse momento com intensidade. A vida é curta. E eu… não posso deixá-la partir sem cumprir os sonhos que um dia ela teve.
Alguns convidados se entreolharam. Outros sorriram, constrangidos.
Yasmin, por sua vez, abaixou a cabeça em uma expressão bem ensaiada de fragilidade.
— Ela merece isso — completou Levi, olhando para os presentes como quem implora por compreensão. — E eu… só estou tentando fazer a coisa certa.
Aplausos tímidos seguiram o anúncio.
Entre brindes vazios e palavras ocas, Levi sorriu, sem perceber que naquele momento selava não um compromisso de amor, mas a assinatura final de sua covardia.
Na mansão Ferraz, Aurora caminhava pelos jardins. O céu começava a mudar de cor, tingido pelo pôr do sol. Os galhos das árvores balançavam levemente com o vento e, por um instante, ela se permitiu fechar os olhos.
Estava sozinha. Sim.
Desamparada? Não mais.
Lá dentro, em algum quarto isolado do segundo andar, o homem que logo seria seu marido permanecia inconsciente. Mas a casa não era hostil. Os criados a tratavam com educação. Um dos irmãos de Enzo — Matteo, o mais jovem — havia cruzado com ela no corredor mais cedo e lhe oferecido um sorriso genuíno e um chocolate.
Pequenos gestos. Mas, para quem vinha do abandono e da humilhação, significavam tudo.
No fundo, Aurora sabia que seu casamento não seria sobre amor. Não no começo. Talvez nunca. Mas era, ao menos, um passo longe da dor.
Um passo rumo a si mesma.
Ela apenas não sabia que, naquele mesmo instante, a mulher que roubara seu passado estava prestes a tentar roubar também o seu nome.
E que Levi… um dia perceberia o quanto perdeu.
Tarde demais.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
bete 💗
estou adorando espero que ela se reerga ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-15
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