Era quarta-feira, e Aurora decidira surpreender Levi no trabalho com um almoço leve — uma das marmitas que ele adorava, feita por ela mesma. Nada muito elaborado, apenas o cuidado em cada detalhe. Pão de fermentação natural, salada fresca, frango grelhado com molho cítrico, e a sobremesa favorita dele: brigadeiro gourmet com raspas de limão.
Ela sabia que ele estava sob pressão com a nova campanha da empresa, então pequenas gentilezas como essa eram sua maneira de apoiá-lo. Mostrar que, além de noiva, era companheira. Parceira.
Passou antes na gráfica onde estavam os convites do casamento. Ao vê-los prontos, sentiu o coração acelerar. A tipografia dourada sobre o papel branco-fosco, os nomes entrelaçados, a data marcada com firmeza. O nome dela e de Levi, impressos como promessa.
Ela mal podia esperar para entregar aquele convite aos poucos amigos que ainda restavam — mesmo depois de tanto tempo afastada. Mesmo com as cicatrizes que Levi jurava ajudá-la a curar.
Chegando à empresa, avisou discretamente à recepção. Aurora sempre foi discreta com as aparições por lá. Nunca quis parecer invasiva, mesmo sendo noiva do diretor de criação mais cobiçado da agência.
Foi então que ouviu, sem querer, um dos funcionários ao telefone:
— Sim, doutora, o Levi ficou bem abalado, sim... Ele nem dormiu ontem. Ninguém esperava que ela voltasse assim... Sim, a Yasmin… foi um choque.
Aurora parou. Por um instante, sentiu o mundo girar em silêncio. Yasmin? O nome ecoou dentro dela como um fantasma que jamais conheceu — mas que já ouvira demais.
Ela sabia quem era Yasmin. A ex. A mulher que desapareceu da vida de Levi no momento mais frágil. A que ele quase nunca mencionava, apenas com olhares duros e voz tensa. Aquela que, segundo ele, o ensinou a nunca mais depender de ninguém. A única que o havia deixado quebrado.
Aurora piscou, tentando recuperar o ar. A mão apertou com força a alça da bolsa térmica. Sentiu o suor escorrer pelas costas, mesmo no ambiente climatizado.
Tentou ignorar. Talvez fosse apenas uma coincidência. Ou alguém com o mesmo nome. Ou alguma história mal contada que não a dizia respeito. Talvez…
— Aurora? — Levi apareceu subitamente ao fim do corredor, ainda com a pasta na mão e a expressão exausta. — O que você tá fazendo aqui?
Ela forçou um sorriso, disfarçando o tremor leve nos dedos.
— Quis te fazer uma surpresa… Trouxe seu almoço.
Levi hesitou. Um segundo apenas. Mas para ela foi como um silêncio de horas. Ele engoliu em seco, aproximando-se rápido e pegando a marmita da mão dela como se quisesse esconder algo.
— Obrigado, meu amor. Você é incrível, sério. Só… só me pegou no meio de uma loucura aqui. A gente conversa em casa, tá?
Ela assentiu, mas os olhos buscavam respostas que ele não ofereceu.
Não houve beijo. Nem toque. Apenas um sorriso cansado e um agradecimento automático. Ele parecia distante. E, pela primeira vez em muito tempo, Aurora sentiu o calor do amor queimar de forma diferente.
Naquela noite, Levi demorou mais do que o normal para chegar em casa. Disse que teve uma reunião de última hora. Estava tenso, com olheiras profundas e o olhar perdido.
— Tá tudo bem? — ela perguntou, sentando-se ao lado dele no sofá.
Levi passou as mãos pelos cabelos, respirando fundo.
— Eu só… Recebi uma notícia hoje. Uma coisa do passado. Nada demais. Mas mexeu comigo.
Ela esperou que ele dissesse mais. Que a incluísse. Que dividisse a dor. Mas ele não fez.
— Se quiser conversar, eu tô aqui — ela disse suavemente.
Ele assentiu. E ficou em silêncio.
Aurora não insistiu. Mas algo dentro dela, silenciosamente, se partiu.
E naquela noite, enquanto Levi dormia ao seu lado, ela ficou acordada por horas, olhando para o teto, sentindo que uma presença invisível havia invadido sua casa. Seu relacionamento. Sua paz.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
bete 💗
que homem sem noção porque não conta logo
muita maldade
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-15
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