Máfia do Pecado

Máfia do Pecado

1

A chuva caía em grossas cortinas sobre a cidade, lavando o sangue das ruas, mas não os pecados. Luca Bianchi observava pelo vidro embaçado do carro, os dedos tamborilando no volante. O cheiro de cigarro e couro enchia o interior da BMW preta, mas nem isso conseguia disfarçar o ferro do sangue que ainda grudava em suas mãos.

— *Você tem certeza que é aqui?* — Ele não tirou os olhos do prédio abandonado, um velho armazém que desbotava sob a névoa da noite.

— *Sim, patrão.* — O capanga ao seu lado, Marco, ajustou a gola do casaco. — *O moleque tá lá dentro. Filho do detetive Almeida, como você pediu.*

Luca sorriu, lento, calculista. — *Perfeito.*

Ele saiu do carro, a chuva batendo em seu sobretudo como pequenas agulhas. Os passos ecoaram no asfalto molhado enquanto se aproximava do armazém, a pistola enfiada na cintura, um peso familiar. A porta rangeu ao ser aberta, revelando um interior úmido e escuro, iluminado apenas por uma lanterna fraca.

E lá estava ele.

Amarrado a uma cadeira, com o olho inchado e o lábio sangrando, Daniel Almeida ergueu o rosto com um misto de desafio e medo. Seus pulsos estavam vermelhos de tanto se debater, a camisa rasgada revelando hematomas que fizeram Luca sentir algo estranho no peito.

— *Você… você é o Luca — A voz de Daniel era áspera, mas surpreendentemente firme para alguém em sua posição.

Luca se aproximou, os sapatos de couro fazendo pouco barulho no chão de concreto. Ele se inclinou, segurando o queixo do jovem entre os dedos, forçando-o a encará-lo.

— *E você é o filhinho do detetive que não sabe quando parar de mexer onde não deve.* — O italiano deixou as palavras caírem como facas, estudando cada reação no rosto de Daniel.

O jovem engoliu seco, mas não baixou os olhos. — *Meu pai vai te matar.*

Luca riu, um som rouco e perigoso. — *Tolo. Seu pai não vai fazer nada, porque agora você é meu.*

Daniel cerrou os punhos, os músculos tensos. — *O que você quer? Dinheiro?*

Luca escorregou os dedos pela jugular do jovem, sentindo o pulso acelerado sob a pele quente. — *Algo muito mais interessante.*

O silêncio que se seguiu foi cortado apenas pela chuva lá fora. Marco tossiu, deslocando o peso de um pé para o outro. Luca ignorou o desconforto do subordinado, concentrado apenas na presença daquele garoto que, sem saber, já pertencia a ele.

— *Você não vai me matar?* — Daniel perguntou, a voz um sussurro rouco.

Luca sorriu, escuro, possessivo. — *Oh, querido… matar seria um desperdício.*

E então, puxou a faca do coldre, vendo os olhos de Daniel se arregalarem. Mas em vez de cravar a lâmina na carne, ele cortou as cordas que prendiam seus pulsos.

— *Levanta.* — Ordenou.

Daniel hesitou, esfregando os punhos doloridos. — *Por que você está me soltando?*

Luca se inclinou, até que seus lábios quase tocassem a orelha do jovem, e sussurrou:

— *Porque agora você vai escolher ficar.*

E no fundo, ambos sabiam que não era uma escolha. Era um destino.

— *Você tá maluco se acha que eu vou escolher ficar com você* — cuspiu, o sangue do lábio rachado escorrendo em um fio fino.

Luca riu, baixo, como se aquilo fosse apenas uma piada. — *Você não tem escolha, Daniel. Mas não se preocupe… Vai gostar do que eu tenho pra te oferecer.*

Marco abriu a porta do armazém, e o vento gelado entrou, fazendo Daniel estremecer. Ele olhou para a escuridão lá fora, calculando se conseguiria correr. Mas antes que pudesse pensar em um plano, Luca puxou ele pelo braço, com uma força que deixou claro: não era um convite. Era uma ordem.

— *Anda. O carro tá lá fora.*

Daniel resistiu, encarando o mafioso com ódio nos olhos. — *Você pegou o filho errado.*

Luca parou, a expressão endurecendo. — *O quê?*

— *Meu pai não liga pra mim* — Daniel riu, um som amargo. — *Ele nunca ligou. Se você quiser usar isso contra ele, esquece. Ele não vai negociar.*

Por um segundo, algo passou no olhar de Luca—dúvida, talvez. Mas então ele apertou os dedos no braço de Daniel, puxando-o para perto.

— *Não importa

E antes que Daniel pudesse responder, Luca o empurrou para fora, em direção ao carro. A chuva o atingiu como um soco, molhando seu rosto já machucado. Marco abriu a porta traseira, e Daniel foi jogado dentro, o cheiro de couro e tabaco enchendo seus pulmões. Luca entrou ao seu lado, fechando a porta com um baque.

— *Para a mansão* — ordenou Luca ao motorista.

O carro acelerou, deixando o armazém para trás. Daniel olhou pela janela, os prédios da cidade passando como fantasmas na névoa. Ele devia estar em casa agora. Ou melhor, no apartamento vazio onde morava sozinho desde que o pai decidiu que ele era um "problema" a ser ignorado.

— *Seu pai é um homem orgulhoso* — Luca quebrou o silêncio, acendendo um cigarro. — *Ele vai negociar. Todo homem tem um ponto fraco.*

Daniel olhou para ele, os dentes cerrados. — *O ponto fraco dele não sou eu.*

Luca sorriu, soprando a fumaça lentamente. — *Veremos.*

Foi então que o celular de Luca tocou. Ele tirou o aparelho do bolso, olhou para a tela e ergueu uma sobrancelha.

— *Fala.*

A voz do detetive Almeida ecoou no carro, áspera e sem emoção:

— * Solta meu filho.*

Daniel sentiu o coração acelerar, mas não de esperança—de raiva. *Agora* o velho se importava?

Luca olhou para Daniel, como se estivesse lendo seus pensamentos. — *Ah, detetive, que surpresa. Tá preocupado com o garoto?*

— *Não faça isso* — o detetive respondeu, ignorando a provocação. — *Ele não tem nada a ver com nossos problemas.*

Luca riu. — *Todo mundo tem a ver com meus problemas quando eu quiser.*

— *O que você quer?* — a voz do detetive estava tensa.

Luca puxou Daniel para perto, segurando o telefone entre eles. — *Diz, Daniel. O que será que seu pai está disposto a dar por você?*

Daniel engoliu seco, sentindo o calor do corpo de Luca contra o seu. Ele olhou para o telefone e, com uma voz que não tremia, respondeu:

— *Nada. Ele não dá a mínima.*

Silêncio.

Então, o detetive Almeida soltou um suspiro. — *Bianchi… você sequestrou o filho errado.*

E a ligação caiu.

Luca ficou imóvel, os dedos apertando o telefone. O carro continuou avançando pela estrada, a chuva batendo no teto como um tambor distante.

Daniel sorriu, sem humor. — *Eu avisei.*

Luca virou-se para ele, os olhos escuros como a noite lá fora. E então, devagar, ele ergueu a mão e passou o polegar pelo lábio sangrento de Daniel.

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