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Daniel jogou a caneta sobre a mesa, os números já não fazendo sentido há horas. O uísque havia acabado, mas a voz do pai ainda ecoava em sua cabeça.

Ele saiu do escritório com passos firmes, os sapatos ecoando no corredor vazio. Não sabia para onde ia – só precisava se mover, fugir daquela sensação de aprisionamento que nem as grades nas janelas conseguiam explicar.

Foi então que o cheiro de maconha e o som baixo de jazz o guiaram até a varanda dos fundos.

Luca estava lá, reclinado em uma chaise longue, o cigarro de maconha pendurado entre os dedos, a camisa completamente aberta. A lua pintava seu torso musculoso de prata, destacando cada cicatriz, cada marca de uma vida que Daniel mal conseguia imaginar.

— *Não consegue dormir, princesa?* — Luca perguntou sem virar-se, soprando a fumaça para o céu noturno.

Daniel encostou na balaustrada, cruzando os braços. — *Pensando em como arruinar sua operação inteira.*

Luca riu, baixo, e estendeu o baseado para ele. — *Tenta.*

Daniel hesitou, mas pegou. Não era como se tivesse algo a perder. A fumaça queimou sua garganta, mas ele não tossiu – engoliu o desconforto como sempre fizera com tudo na vida.

— *Você é pior do que eu pensava* — Daniel disse, devolvendo o cigarro.

— *Ah, mas você pensou em mim?* — Luca sorriu, os olhos meio fechados.

Daniel ignorou a provocação. — *Por que você fez tudo isso? Me sequestrou, me trouxe pra cá... não foi só por causa do meu pai.*

Luca ficou em silêncio por um momento, observando as estrelas.

— *Vi você uma vez.* — Ele finalmente falou. — *Naquela merda de lanchonete perto da delegacia. Você tava com um hambúrguer frio e um livro de matemática. Seu pai passou de carro com seus capangas, nem olhou pra você.*

Daniel congelou. Ele se lembrava daquele dia.

— *E daí?*

— *Daí nada.* Luca encostou a cabeça no encosto, olhando para ele. — *Só pensei... esse aqui é tão fodido quanto eu.*

O vento noturno passou entre eles, carregando segredos que nenhum dos dois queria admitir.

Daniel sentiu algo dentro dele se rachar.

— *Eu odeio você* — ele disse, mas faltou convicção.

Luca esmagou o baseado no cinzeiro e levantou-se, invadindo o espaço de Daniel com aquele jeito predatório que tanto o irritava.

— *Mentiroso.*

E antes que Daniel pudesse responder, Luca o empurrou contra a balaustrada, seus corpos colados, o calor da pele do mafioso queimando através da camisa fina de Daniel.

— *Você não me odeia* — Luca sussurrou, os lábios quase tocando os dele. — *Você se odeia por querer isso.*

Daniel prendeu a respiração. Luca estava errado.

Ele estava certo demai que merda

Daniel desceu, esfregando os olhos inchados. A noite tinha sido longa - entre os números que não fechavam e a lembrança do corpo quente de Luca contra o seu na varanda, ele mal havia dormido.

A mesa de mármore estava posta com frutas frescas, pães crocantes e uma chaleira fumegante. Luca, vestido impecavelmente de preto, lia o jornal com uma mão enquanto comia um figo com a outra.

— *Dormiu bem, princesa?* — perguntou sem levantar os olhos, a voz rouca de sono.

Daniel caiu na cadeira em frente, pegando uma xícara vazia. — *Que tal você ir pra—*

— *Ah ah ah* — Luca interrompeu, finalmente olhando para ele com um sorriso perigoso. — *Bom dia primeiro.*

Daniel revirou os olhos. — *Bom dia, seu merda. Agora me passa o café.*

Luca riu, satisfeito, e empurrou a cafeteira de prata em sua direção.

— *Hoje você vem comigo* — anunciou, mordendo outro figo. O suco vermelho escorreu pelo seu queixo como sangue. — *Verificar os armazéns no porto.*

Daniel congelou com a xícara no ar. — *Armazéns de quê?*

Luca limpou o queixo com o dedo e depois lambeu-o lentamente, mantendo contato visual. — *De brinquedos, claro. O que mais um garoto mau como eu faria?*

— *Puta que pariu* — Daniel resmungou, esfregando o rosto. — *Eu não vou ajudar a—*

— *Você já está ajudando* — Luca cortou, levantando-se. Seu terno caía perfeitamente sobre seus ombros largos. — *Agora bebe seu café e vem. Temos um dia cheio.*

O carro preto já esperava na entrada quando saíram. Marco, o capanga de sempre, estava ao volante.

— *Patrão* — acenou, antes de lançar um olhar desconfiado a Daniel. — *Ele vai junto?*

Luca abriu a porta ele mesmo. — *Problema, Marco?*

O tom fez o capanga engolir seco. — *Nenhum, patrão.*

A viagem até o porto foi silenciosa, com Luca apontando ocasionalmente territórios rivais ou locais de interesse. Daniel fingiu desinteresse, mas registrou cada informação - não sabia se para usá-las contra Luca ou para impressioná-lo.

O primeiro armazém era discreto, escondido entre containers de carga legítima. Dois homens armados ficaram em alerta quando o carro parou, mas relaxaram ao reconhecer Luca.

— *Bianchi* — cumprimentou um deles, abrindo o portão.

Luca passou sem responder, com Daniel em seus calcanhares. O interior era gelado, iluminado por luzes fluorescentes. Caixas e mais caixas empilhadas até o teto.

— *O que tem aqui?* — Daniel perguntou antes de poder se conter.

Luca sorriu e abriu a caixa mais próxima com um chute. Metais reluzentes refletiram a luz fraca - pistolas, rifles, munição.

— *Meu parque de diversões* — respondeu, pegando uma Glock e verificando o carregador com movimentos experientes. — *Quer experimentar?*

Daniel sentiu a boca secar. — *Você é insano.*

— *Foi o que meu psiquiatra disse* — Luca riu, devolvendo a arma à caixa. — *Mas não respondeu minha pergunta.*

Ele se aproximou, reduzindo a distância entre eles.

— *Quer aprender a atirar, Daniel?* — sussurrou, os olhos escuros ardendo. — *Ou prefere continuar só olhando?*

O desafio naquela voz fez algo dentro de Daniel estremecer. Ele engoliu seco.

— *Eu não sou seu cachorrinho pra você treinar.*

Luca riu e deu as costas, andando em direção à próxima pilha de caixas.

— *Não, você é muito mais divertido que isso.*

E quando Luca olhou para trás, com aquele sorriso que prometia perigo

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