A chuva caía em grossas cortinas sobre a cidade, lavando o sangue das ruas, mas não os pecados. Luca Bianchi observava pelo vidro embaçado do carro, os dedos tamborilando no volante. O cheiro de cigarro e couro enchia o interior da BMW preta, mas nem isso conseguia disfarçar o ferro do sangue que ainda grudava em suas mãos.
— *Você tem certeza que é aqui?* — Ele não tirou os olhos do prédio abandonado, um velho armazém que desbotava sob a névoa da noite.
— *Sim, patrão.* — O capanga ao seu lado, Marco, ajustou a gola do casaco. — *O moleque tá lá dentro. Filho do detetive Almeida, como você pediu.*
Luca sorriu, lento, calculista. — *Perfeito.*
Ele saiu do carro, a chuva batendo em seu sobretudo como pequenas agulhas. Os passos ecoaram no asfalto molhado enquanto se aproximava do armazém, a pistola enfiada na cintura, um peso familiar. A porta rangeu ao ser aberta, revelando um interior úmido e escuro, iluminado apenas por uma lanterna fraca.
E lá estava ele.
Amarrado a uma cadeira, com o olho inchado e o lábio sangrando, Daniel Almeida ergueu o rosto com um misto de desafio e medo. Seus pulsos estavam vermelhos de tanto se debater, a camisa rasgada revelando hematomas que fizeram Luca sentir algo estranho no peito.
— *Você… você é o Luca — A voz de Daniel era áspera, mas surpreendentemente firme para alguém em sua posição.
Luca se aproximou, os sapatos de couro fazendo pouco barulho no chão de concreto. Ele se inclinou, segurando o queixo do jovem entre os dedos, forçando-o a encará-lo.
— *E você é o filhinho do detetive que não sabe quando parar de mexer onde não deve.* — O italiano deixou as palavras caírem como facas, estudando cada reação no rosto de Daniel.
O jovem engoliu seco, mas não baixou os olhos. — *Meu pai vai te matar.*
Luca riu, um som rouco e perigoso. — *Tolo. Seu pai não vai fazer nada, porque agora você é meu.*
Daniel cerrou os punhos, os músculos tensos. — *O que você quer? Dinheiro?*
Luca escorregou os dedos pela jugular do jovem, sentindo o pulso acelerado sob a pele quente. — *Algo muito mais interessante.*
O silêncio que se seguiu foi cortado apenas pela chuva lá fora. Marco tossiu, deslocando o peso de um pé para o outro. Luca ignorou o desconforto do subordinado, concentrado apenas na presença daquele garoto que, sem saber, já pertencia a ele.
— *Você não vai me matar?* — Daniel perguntou, a voz um sussurro rouco.
Luca sorriu, escuro, possessivo. — *Oh, querido… matar seria um desperdício.*
E então, puxou a faca do coldre, vendo os olhos de Daniel se arregalarem. Mas em vez de cravar a lâmina na carne, ele cortou as cordas que prendiam seus pulsos.
— *Levanta.* — Ordenou.
Daniel hesitou, esfregando os punhos doloridos. — *Por que você está me soltando?*
Luca se inclinou, até que seus lábios quase tocassem a orelha do jovem, e sussurrou:
— *Porque agora você vai escolher ficar.*
E no fundo, ambos sabiam que não era uma escolha. Era um destino.
— *Você tá maluco se acha que eu vou escolher ficar com você* — cuspiu, o sangue do lábio rachado escorrendo em um fio fino.
Luca riu, baixo, como se aquilo fosse apenas uma piada. — *Você não tem escolha, Daniel. Mas não se preocupe… Vai gostar do que eu tenho pra te oferecer.*
Marco abriu a porta do armazém, e o vento gelado entrou, fazendo Daniel estremecer. Ele olhou para a escuridão lá fora, calculando se conseguiria correr. Mas antes que pudesse pensar em um plano, Luca puxou ele pelo braço, com uma força que deixou claro: não era um convite. Era uma ordem.
— *Anda. O carro tá lá fora.*
Daniel resistiu, encarando o mafioso com ódio nos olhos. — *Você pegou o filho errado.*
Luca parou, a expressão endurecendo. — *O quê?*
— *Meu pai não liga pra mim* — Daniel riu, um som amargo. — *Ele nunca ligou. Se você quiser usar isso contra ele, esquece. Ele não vai negociar.*
Por um segundo, algo passou no olhar de Luca—dúvida, talvez. Mas então ele apertou os dedos no braço de Daniel, puxando-o para perto.
— *Não importa
E antes que Daniel pudesse responder, Luca o empurrou para fora, em direção ao carro. A chuva o atingiu como um soco, molhando seu rosto já machucado. Marco abriu a porta traseira, e Daniel foi jogado dentro, o cheiro de couro e tabaco enchendo seus pulmões. Luca entrou ao seu lado, fechando a porta com um baque.
— *Para a mansão* — ordenou Luca ao motorista.
O carro acelerou, deixando o armazém para trás. Daniel olhou pela janela, os prédios da cidade passando como fantasmas na névoa. Ele devia estar em casa agora. Ou melhor, no apartamento vazio onde morava sozinho desde que o pai decidiu que ele era um "problema" a ser ignorado.
— *Seu pai é um homem orgulhoso* — Luca quebrou o silêncio, acendendo um cigarro. — *Ele vai negociar. Todo homem tem um ponto fraco.*
Daniel olhou para ele, os dentes cerrados. — *O ponto fraco dele não sou eu.*
Luca sorriu, soprando a fumaça lentamente. — *Veremos.*
Foi então que o celular de Luca tocou. Ele tirou o aparelho do bolso, olhou para a tela e ergueu uma sobrancelha.
— *Fala.*
A voz do detetive Almeida ecoou no carro, áspera e sem emoção:
— * Solta meu filho.*
Daniel sentiu o coração acelerar, mas não de esperança—de raiva. *Agora* o velho se importava?
Luca olhou para Daniel, como se estivesse lendo seus pensamentos. — *Ah, detetive, que surpresa. Tá preocupado com o garoto?*
— *Não faça isso* — o detetive respondeu, ignorando a provocação. — *Ele não tem nada a ver com nossos problemas.*
Luca riu. — *Todo mundo tem a ver com meus problemas quando eu quiser.*
— *O que você quer?* — a voz do detetive estava tensa.
Luca puxou Daniel para perto, segurando o telefone entre eles. — *Diz, Daniel. O que será que seu pai está disposto a dar por você?*
Daniel engoliu seco, sentindo o calor do corpo de Luca contra o seu. Ele olhou para o telefone e, com uma voz que não tremia, respondeu:
— *Nada. Ele não dá a mínima.*
Silêncio.
Então, o detetive Almeida soltou um suspiro. — *Bianchi… você sequestrou o filho errado.*
E a ligação caiu.
Luca ficou imóvel, os dedos apertando o telefone. O carro continuou avançando pela estrada, a chuva batendo no teto como um tambor distante.
Daniel sorriu, sem humor. — *Eu avisei.*
Luca virou-se para ele, os olhos escuros como a noite lá fora. E então, devagar, ele ergueu a mão e passou o polegar pelo lábio sangrento de Daniel.
A porta abriu-se sem cerimônia. Luca entrou, vestido impecavelmente em um terno de seda cinza, o cheiro de café e tabaco caro envolvendo-o como uma segunda pele.
— *Dormiu bem, princesa?* — zombou, jogando uma maçã para Daniel, que a pegou no ar com um reflexo afiado.
Daniel mordeu a fruta com desdém, o suco escorrendo pelo queixo. — *Que tal você ir pro inferno?*
Luca riu, baixo, e sentou-se na poltrona de couro que Daniel não conseguira destruir. Cruzou as pernas, estudando o jovem como um xadrezista analisa o tabuleiro.
— *Eu tenho uma proposta pra você.*
Daniel arqueou uma sobrancelha. — *Me solta e eu não conto pra polícia onde você esconde os corpos?*
— *Engraçadinho.* — Luca inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos. — *Quero que você trabalhe pra mim.*
Daniel parou de mastigar.
— *...O quê?*
— *Você ouviu.* — Luca gesticulou com a mão, um anel de ouro pesado reluzindo. — *É inteligente. Tem sangue frio. E claramente não tem nada a perder.*
Daniel jogou a maçã meio comida no chão. — *Você ficou maluco. Eu não vou virar um criminoso.*
— *Já é.* — Luca sorriu, mostrando os dentes. — *Seu pai te colocou nessa categoria quando você tinha o que, doze anos?*
O golpe foi baixo. Daniel sentiu as palavras como um soco no estômago. Ele se levantou num impulso, mas Luca foi mais rápido — em um movimento fluido, pegou o pulso do jovem e puxou-o para perto.
— *Eu vi seus olhos quando quebrou tudo ontem.* — A voz de Luca era áspera, íntima. — *Você adorou. Finalmente sentir que tinha controle sobre alguma coisa.*
Daniel tentou se soltar, mas a mão do mafioso era quente e firme. — *Não sabe porra nenhuma da minha vida.*
— *Sei que você passa aniversários sozinho.* — Luca puxou-o mais perto. — *Que seu pai nem lembra sua data de nascimento. Que você já foi preso por bater em um cara que falou mal dele, e o grande detetive Almeida nem foi te buscar na delegacia.*
Daniel parou de lutar. Como diabos ele sabia tudo isso?
Luca aproveitou a hesitação. — *Comigo, você importa. Comigo, você tem poder. Dinheiro. Respeito.* — Seus dedos subiram pelo braço de Daniel, queimando como brasa. — *E eu nunca vou te ignorar.*
O coração de Daniel batia tão forte que ele temia que Luca pudesse ouvir. Era uma armadilha. Tinha que ser. Mas então... por que soava tão bom?
— *Que tipo de trabalho?* — perguntou, desafiador.
Luca soltou-o, abrindo os braços. — *Logística. Você é bom com números, não é? Faculdade trancada em contabilidade...*
— *Merda, você me investigou.* — Daniel sentiu um calafrio.
— *Eu investigo tudo.* — Luca tirou um cigarro do bolso, acendendo-o com calma. — *Então? Aceita ser meu ou prefere voltar pro seu apartamento vazio, onde nem seu pai lembra que você existe?*
Daniel olhou para as mãos dele. As mesmas mãos que tinham batido, amarrado, dominado. As mesmas que agora estavam oferecendo mais do que qualquer um já tinha.
Ele respirou fundo.
— *Se eu falar não?*
Luca soprou a fumaça, os olhos semicerrados. — *Aí eu te devolvo pro seu pai. E aí, Daniel...* — Seu sorriso foi uma lâmina. — *Você vai passar o resto da vida sabendo que recusou a única pessoa que realmente te quis.*
O silêncio pesou entre eles. Daniel olhou pela janela gradeada, para os jardins impecáveis da mansão. Pensou no apartamento vazio. Nas mensagens não respondidas. No pai que preferia um filho morto do que um filho como ele.
Quando falou, sua voz não tremeu:
— *Me mostra os livros contábeis.*
Luca sorriu, lento, vitorioso. Estendeu a mão.
— *Bem-vindo à família, Daniel.*
E quando suas mãos se tocaram, algo entre eles mudou para sempre.
— *Bom, pessoal* — Luca anunciou, batendo palmas uma vez, fazendo o burburinho cessar. — *Esse é o Daniel Almeida. De agora em diante, ele vai cuidar dos nossos números.*
Um homem mais velho, com cicatrizes no rosto e um charuto entre os dedos, bufou. — *Filho do detetive Almeida? Você enlouqueceu, Luca?*
Luca girou no salto, encarando o homem com um sorriso que não chegava aos olhos. — *Algum problema, Vittore?*
O silêncio que se seguiu foi mais eloquente que qualquer resposta. Daniel sentiu a tensão no ar, seus instintos gritando para ele correr, mas seus pés permaneceram firmes.
— *Ele vai reportar diretamente a mim* — Luca continuou, passando um braço pelos ombros de Daniel num gesto que poderia ser interpretado como possessivo ou protetor. — *E se alguém aqui respirar perto dele sem a minha permissão, eu mesmo vou arrancar os pulmões dessa pessoa. Entendido?*
Alguns assentimentos murmurados, olhares trocados. Daniel sentiu o braço de Luca queimar através da camisa.
— *Agora, sumam. Tenho que explicar o trabalho pro novato.*
Quando o último homem saiu, Daniel se afastou de Luca, encostando-se na mesa de bilhar. — *Você gosta mesmo de fazer esses draminhas, não é?*
Luca riu, pegando uma garrafa de bourbon e servindo dois dedos em um copo de cristal. — *Regra número um, Daniel: aqui, respeito se conquista com medo ou com sangue. Eu prefiro os dois.*
Ele estendeu o copo para Daniel, que ignorou.
— *Regra número dois* — Luca continuou, sem se perturbar. — *Nada de desvios. Você mexe no dinheiro, mas não pergunta de onde vem. Entendeu?*
Daniel cruzou os braços. — *E se eu entender e não ligar?*
Luca bebeu um gole, os olhos brilhando. — *Aí você vai ser perfeito.*
Ele se aproximou, deixando o copo na mesa atrás de Daniel, encurralando-o contra a madeira.
— *Regra número três* — sussurrou, o hálito quente de álheiro tocando o rosto de Daniel. — *Você é meu. Isso significa que ninguém te toca, ninguém te manda, ninguém te olha por mais de três segundos. Só eu.*
Daniel sentiu um calafrio percorrer sua espinha, mas não recuou. — *Você esqueceu a regra mais importante.*
— *E qual seria?*
— *Que eu não sigo regras.*
Luca riu, baixo, e então, num movimento rápido, pegou a faca que estava na cintura e a cravou na mesa, milímetros dos dedos de Daniel.
— *Por isso que eu gosto de você* — murmurou, puxando a lâmina de volta e enfiando-a no coldre. — *Mas aqui, até os rebeldes obedecem. A diferença é que você...* — Ele tocou o queixo de Daniel com a ponta dos dedos — *...vai gostar.*
Daniel empurrou-o para longe. — *Mostra esses números logo Antes que eu mude de ideia.*
Luca sorriu, satisfeito, e indicou a porta. — *Depois de você, princesa.*
Enquanto Daniel passava, sentiu o olhar do mafioso queimando suas costas, e uma parte dele — uma parte que odiava admitir existir — gostou disso.
O escritório de Luca era tão opulento quanto o resto da mansão – móveis de ébano, cortinas de veludo e um tapete tão grosso que afundava levemente sob os pés. Daniel observou enquanto o mafioso abria um pesado cofre embutido na parede, tirando pastas e livros contábeis.
— *Aqui estão os últimos cinco anos* — Luca disse, jogando os documentos na mesa com um baque surdo. — *Quero que você encontre onde estão os vazamentos.*
Daniel folheou um dos livros, os números dançando diante de seus olhos. Era muito dinheiro. Muito mais do que imaginara.
— *E se eu descobrir que o vazamento é você?* — provocou, sem levantar os olhos.
Luca riu, sentando na beirada da mesa. — *Aí eu te dou um prêmio.*
O tom de voz fez Daniel finalmente olhar para cima. Havia algo perigoso no jeito que Luca o encarava – como se já estivesse pensando em qual seria esse "prêmio".
— *Onde vou dormir?* — Daniel mudou abruptamente de assunto. — *Não vou voltar praquele quarto-prisão.*
Luca ergueu uma sobrancelha. — *Claro que não. Você vai ficar no quarto ao lado do meu.*
— *Que conveniente.*
— *Não sou idiota, Daniel* — Luca inclinou-se para frente, os dedos tamborilando na madeira. — *Você acha mesmo que eu deixaria você sair da minha vista? Depois de tanto trabalho para te convencer?*
Daniel fechou o livro com força. — *Eu não sou um cachorro pra você colocar numa coleira.*
— *Não?* Luca sorriu, lento. — *Mas você veio quando eu chamei, não veio?*
A raiva subiu como lava pelas veias de Daniel. Ele se levantou tão rápido que a cadeira caiu para trás.
— *Vai se foder, Bianchi. Eu não sou –*
Luca moveu-se como um raio. Em um instante, tinha Daniel pressionado contra a parede, uma mão firme em seu peito.
— *Não é o quê?* — sussurrou, os lábios quase tocando a orelha de Daniel. — *Não é meu? Porque parece que é exatamente o que você é.*
Daniel tentou se soltar, mas Luca apertou mais.
— *Você tem três opções, lindo* — continuou o mafioso, a voz um fio de seda e aço. — *Primeira: tenta escapar, e eu te caço como o animal perdido que você é. Segunda: me obedece, e ganha mais poder do que seu pai jamais sonhou. Terceira...*
Seus dedos subiram até o pescoço de Daniel, não apertando, apenas... esperando.
— *...você me diz o que realmente quer.*
O coração de Daniel batia tão forte que ele tinha certeza que Luca podia senti-lo. O calor do corpo do mafioso, o cheiro de seu perfume caro, a promessa naqueles olhos escuros – tudo era muito, muito perigoso.
— *Eu quero o meu próprio banheiro* — Daniel finalmente cuspiu.
Luca riu, uma risada genuína e surpreendentemente jovial. Soltou Daniel e deu um passo atrás.
— *Feito. Mas a porta não tem tranca.*
— *Filho da puta.*
— *Já sabe* — Luca ajustou as mangas do terno, o sorriso ainda nos lábios. — *Agora, se comporta. Vou te apresentar ao chefão.*
Daniel endireitou a camisa, os olhos arregalados. — *Chefão? Você não é o–*
— *Querido* — Luca interrompeu, abrindo a porta com um gesto dramático. — *Nem de longe.*
Daniel tentando focar nos números que começavam a se embaralhar depois de horas de análise. O uísque ao lado dele – oferecido por Luca com um sorriso irônico – estava quase acabando.
*"Você nunca vai ser nada, Daniel."*
A voz do pai ecoou em sua mente, nítida como se o detetive estivesse ali, naquela sala.
*"Sua irmã pelo menos serve pra casar bem. Mas você? Um fracasso completo."*
Daniel apertou os dedos na caneta até as juntas ficarem brancas. Ele olhou para a foto que havia tirado da carteira – Ana, sua irmã mais nova, sorrindo no seu aniversário de quinze anos. A mesma Ana que, no ano passado, tinha virado as costas quando ele mais precisou.
— *Problema, princesa?*
A voz de Luca o fez erguer a cabeça bruscamente. O mafioso estava encostado na porta, sem o paletó, as mangas da camisa branca arregaçadas até os cotovelos. Os braços musculosos exibiam tatuagens discretas – símbolos em italiano que Daniel não conseguia decifrar.
— *Nenhum problema que mais uísque não resolva* — Daniel respondeu, empurrando o copo vazio em direção a Luca.
Luca entrou, pegando a garrafa na estante e enchendo o copo novamente. Seus dedos deliberadamente roçaram nos de Daniel ao passar o drink.
— *Encontrou algo?*
— *Alguém tá desviando dinheiro do fundo sul* — Daniel apontou para as páginas. — *Pouco a pouco, mas constante. Alguém que sabe o que está fazendo.*
Luca sorriu, orgulhoso. — *Eu sabia que você era bom.*
O elogio queimou mais que o uísque. Daniel desviou o olhar.
— *Não faça isso.*
— *O quê?* Luca inclinou-se sobre a mesa, invadindo seu espaço.
— *Me trata como se eu fosse especial* — Daniel cuspiu. *Eu não sou. Só sei fazer contas porque era a única coisa que meu pai não conseguia reclamar.*
Luca estudou-o por um longo momento. Depois, surpreendentemente, puxou uma cadeira e sentou ao seu lado.
— *Meu pai me batia com um cinto de fivela de prata* — ele disse casualmente, como se estivesse comentando sobre o tempo. — *Dizia que eu era muito mole pra ser Bianchi.*
Daniel olhou para ele, surpreso.
— *Uma noite, peguei esse mesmo cinto e enforquei ele com ele* — Luca continuou, os olhos escuros fixos nos de Daniel. — *Você não é um fracasso, Daniel. Você é só um filho da puta que ainda não percebeu o próprio potencial.*
O coração de Daniel acelerou. Ele queria odiar Luca, queria odiar como aquelas palavras pareciam consertar algo dentro dele que estava quebrado há anos.
— *Eu não vou te agradecer* — Daniel resmungou.
Luca riu, levantando-se. — *Não esperei por isso.* Ele caminhou até a porta, mas parou antes de sair. — *Ah, e Daniel?*
— *O quê?*
— *Seu pai nunca vai te buscar. pode deixa vou cuidar muito bem de você
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