Capítulo 3 - Luke Rabelo

Cristina se aproxima com passos firmes, altivos, abraçada ao braço de Josh Morgan como se ele fosse sua extensão natural. Linda Jones, ao meu lado, praticamente se pendura no meu braço assim que vê a cena, como uma víbora tentando marcar território.

Mas é inútil.

A comparação entre as duas é inevitável — e desastrosa para Linda.

Linda Jones é bonita... num padrão comum. Loira, cabelos lisos e sem vida, corpo bem cuidado mas sem graça, sorriso forçado que não convence ninguém. Filha de uma das famílias mais ricas do país, aprendeu desde cedo a usar o dinheiro para se esconder atrás de uma arrogância patética e um perfume enjoativo demais.

Tem uma voz aguda, monótona, fala demais e não diz nada. Vive tentando parecer sofisticada, mas o desespero de ser notada por alguém como eu a torna cada vez mais entediante.

E o pior: ela sabe.

Sabe que Cristina — com toda sua luz natural, seu carisma inato e sua beleza selvagem — brilha com a força de mil sóis ao lado de sua sombra apagada.

Cristina... minha Cristina. Cabelos castanhos em ondas suaves, olhos azuis intensos, corpo curvilíneo e impecável. Uma verdadeira deusa latina — uma princesa, ardente.

Usa um vestido verde-esmeralda exclusivo, desenhado por ela mesma, com fenda lateral ousada que revela a perna até quase a virilha. Um decote em V que destaca seu colo perfeito, costas completamente nuas. Nos pés, sandálias cravejadas com flores de cristais, desenhadas por ela, saltos finos, joias deslumbrantes de esmeralda e diamantes.

Cada detalhe da sua presença grita poder. Grita vingança. Grita: “eu venci”.

Ao seu lado, Lorena Velasquez, agora esposa de Christopher, não fica para trás. Uma versão perfeita de uma atriz em noite de gala, com seus cabelos castanhos presos em um coque baixo impecável, maquiagem suave realçando a beleza natural. Seu vestido? Azul royal, corte sereia, ombro a ombro bordado à mão com cristais Swarovski, e uma delicada fenda frontal que mistura classe e sensualidade na medida exata. Ambas são obras de arte vivas — estilistas vestindo suas próprias criações com orgulho e glória.

A cena é deslumbrante, mas insuportável para mim.

Meu ódio ferve. Minha vingança começa a ganhar forma dentro do peito.

Cristina sorri. Ri. Troca olhares com Josh como se fossem um casal apaixonado. E enquanto ela o chama de “meu lindo”, eu mastigo o ar com raiva.

A vadia está me provocando.

Ela quer me destruir.

Mas mal sabe que eu também tenho minhas armas.

Christopher, sempre debochado, resolve jogar gasolina no meu fogo:

— Cristina, está maravilhosa... mas não mais do que minha esposa.

Cristina ri, aquele riso que ecoa no peito. Josh, desgraçado, segura a cintura dela e aperta com gosto.

— Vamos dizer que as duas estão no mesmo nível de beleza e graciosidade, Velasquez — diz, antes de beijar a curva do pescoço dela como se não houvesse ninguém ali.

Meu corpo se enrijece.

Minha sanidade racha.

— Vocês dois formam um lindo casal, senhor Morgan. Parabéns — Linda diz com a falsidade transbordando no olhar. O veneno na sua voz é quase palpável. Ciúmes puro da Cristina.

Josh apenas sorri, cavalheiro:

— Senhorita Jones, é um prazer tê-la aqui. Mande cumprimentos aos seus pais. Ótima escolha de acompanhante, senhor Rabelo.

Linda arreganha os dentes em um sorriso patético, sedenta por atenção.

— Luke e eu estamos nos conhecendo melhor. Quem sabe logo, logo não faremos uma surpresa.

Quase rio. Isso só pode ser uma piada.

Mas não desminto. Quero ver Cristina engasgar com a resposta.

Ela não engasga.

Ela sorri... maldita.

— Parabéns ao novo casal — diz Cristina, me encarando com frieza, antes de mudar o foco para a amiga.

— Lorena, nossa agenda está apertada. Fomos convidadas para vários eventos de moda. Estamos apenas começando, e não podemos recusar os convites. Mas... uma de nós precisa ficar.

— Eu fico — Lorena responde, serena. — Você viaja, e acertamos tudo por videochamada.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Christopher acaricia a barriga dela. Arqueio a sobrancelha. Um movimento suspeito, mas permaneço em silêncio.

— Tudo bem. Vou preparar tudo para a viagem — diz Cristina.

— Vou com você — Josh se adianta, e todos olham para ele.

— São dias, Josh. Quase um mês — Cristina diz.

Meu sangue ferve.

— Estou precisando de férias — ele rebate — e quero aproveitar com você. Vamos no meu jatinho. Será mais confortável.

Cristina sorri, e o beija.

— Obrigada, meu lindo. Vou amar viajar com você.

A porra do meu coração quebra em mil pedaços.

Lorena muda de assunto com brilho nos olhos:

— Tenho uma novidade! Cristina, Luke... quero saber se aceitam ser padrinhos do meu bebê. Estou grávida!

Fico surpreso. Cristina, não. Ela já sabia.

— Já sabe minha resposta, amiga. Só não concordo com o padrinho. O Josh seria muito melhor.

Christopher tosse, fingindo inocência.

— Desculpa, Cristina. Luke é meu amigo. Como Lorena quer você como madrinha, eu quero meu amigo como padrinho.

Cristina se agarra ainda mais ao pescoço de Josh. Um teatro. Uma encenação de quinta só para me torturar.

— Nem tudo é perfeito. Mas estou feliz com a gravidez. Já comprei o presente. Fui a primeira a saber.

— Isso não me surpreende — diz Christopher, sorrindo.

— Vai ser um prazer muito grande, meu amigo. Parabéns.

Trocamos um aperto de mão. Só nós dois sabemos o peso daquele gesto. O que dividimos. O que calamos.

As meninas são chamadas para uma entrevista.

Meus olhos seguem Cristina. Cada curva, cada passo, cada olhar.

Ela vai pagar por tudo.

Não dormirei enquanto não tiver o corpo dela sob o meu.

Nem que seja pela última vez.

Tomo mais doses de uísque. Linda fala, fala, fala... e eu apenas balanço a cabeça fingindo interesse.

Então vejo. Cristina se dirige ao corredor dos banheiros.

Minha chance.

— Linda, me dá licença. Já volto.

Ela me olha desconfiada, mas consente.

Vou até o corredor. Quando estou a poucos passos da porta, sinto uma mão pesada no ombro.

Viro. Christopher.

— Sei o que quer fazer. Não faça.

— Eu preciso, porra. Preciso dela mais uma vez.

— E depois? Vai jogar ela fora de novo? Já não foi suficiente o que ela sofreu?

O encaro com raiva. Logo ele...

— Você não tem moral nenhuma pra me cobrar nada. Lembra o que fez com Lorena?

Ele suspira, sério.

— Paguei pelo que fiz com sangue. Com lágrimas. Com noites em claro vendo ela sofrer. Você também vai pagar, Luke. Cristina vai te dar uma lição. Anota aí: quando uma mulher decide se vingar, nem o diabo encara ela de frente.

— Cristina não é Lorena.

Ele gargalha.

— Tem razão. Cristina é muito pior. Lorena perto dela é um anjo.

Dá as costas e sai.

Fico ali. Diante do abismo.

Vou ou não vou?

O desejo me consome.

A raiva me move.

Cristina vai aprender, por bem ou por mal, que ainda é minha.

E que brincar com um Rabelo tem preço.

Eu acabo com ela. Ou acabo com ela. Sem opção.

Mas essa história ainda não terminou.

Nem de longe.

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