“Cheiro de Sangue e Silêncio”

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...🌕 CAPÍTULO 4 – ...

...🔪 Subtítulo: A Aldeia que Me Mastiga e Cospe...

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O som veio antes do sol.

Não era o som do dia nascendo.

Era o som da floresta acordando brava.

Um estalo seco, profundo, que subiu pelas raízes e estourou dentro dos ossos de Nix —

como se a terra tivesse aberto os olhos

e visto algo que não devia.

Ela já estava de pé.

Não dormira direito desde que deixara a ruiva ali,

deitada entre peles limpas e sombras velhas.

Aquele abrigo era mais que escondido.

Era um segredo enterrado em dor.

Nem mesmo a velha Orelha-Cortada sabia dele.

Foi ali que Nix se escondeu quando a infância virou massacre.

Onde o sangue da mãe secou nos fios do seu cabelo.

Onde a floresta chorou junto. E não perdoou.

E agora…

ela tinha deixado outra pessoa ali.

> “Isso não é burrice. É compaixão disfarçada.”

“Não é a Irae. Não é a mesma coisa.”

“Ela não vai morrer. Não dessa vez.”

Mentiras ditas pra si mesma têm gosto de sangue na boca.

E Nix já estava engolindo demais.

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Prendeu a alça da armadura com força.

Estalou os dedos da mão direita, um por um.

Ritual. Aviso. Juramento.

Umbra não apareceu.

> E isso... era um silêncio perigoso.

Ela lançou um último olhar pro abrigo.

A ruiva — ainda sem nome, ainda uma ferida aberta —

respirava fundo.

Serena demais.

Pra quem rasgou um portal instável com o próprio corpo.

> “É. Isso ainda vai dar merda.”

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A floresta abriu caminho.

Não por respeito.

Mas por medo.

Nix andava como quem conhece cada raiz.

Cada planta venenosa.

Cada espírito que já tentou matá-la no escuro.

Seus passos eram certeiros.

Mas o coração…

cheio de farpas.

Quando os telhados da vila surgiram entre as árvores,

o estômago dela revirou.

Não de fome.

Mas de pressentimento.

> “Vai começar.”

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E começou.

Bastou atravessar o portão trançado com cipós e cascas secas

pra sentir o peso dos olhos em sua pele.

Mulheres pintadas com cinza e vermelho.

Guerreiras de cabeça raspada.

Olhares que rasgavam.

Sussurros, escorrendo como veneno entre as casas vivas:

— “Sumiu de novo.”

— “Trouxe o quê dessa vez?”

— “É a pária. A manchada. A escolhida que ninguém escolheu.”

Nix não desviou o olhar.

Não respondeu.

Mas estalou os dedos outra vez.

Mais forte.

Aviso. Recado. Promessa.

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Na praça central, as pedras negras ainda fumegavam com o calor de fogueiras eternas.

Ali estavam as vigias da aldeia.

E, no fundo…

Verena.

Braços cruzados.

Lança nas costas.

Postura firme.

Silêncio armado.

Nix não parou.

Mas o coração...

vacilou.

Só meio segundo.

O suficiente pra doer.

> E viu.

Verena olhou.

Só por um segundo.

Pro piercing no lábio dela.

E desviou. Tarde demais.

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Então veio a voz.

Aquela voz.

A da mulher que a criou com mãos duras.

A que nunca ofereceu colo — só julgamento.

A Anciã Orelha-Cortada.

— Filha da Floresta — ela disse.

— Você voltou carregando o que não te pertence.

Nix parou.

Sem desviar o olhar.

— Voltei sozinha — respondeu, fria como a manhã.

— Mas o cheiro que carrega… não é só seu.

Um silêncio caiu.

Denso. Cortante.

Nix sorriu.

Não por humor.

Mas por desafio.

— Quer que eu me lave… ou vai lamber até sair?

O burburinho explodiu.

Gargantas se contraíram.

Pernas se firmaram no chão.

As vigias vieram.

Duas agarraram seus braços.

Ela não resistiu.

Não hoje. Não agora.

Girou a faca de meia-lua nos dedos.

Calma. Fria. Cerimonial.

E entregou.

— Com cuidado.

— Essa lâmina já matou gente mais importante que vocês.

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Verena deu um passo.

Só um.

Silenciosa como um arrependimento.

Mas Nix viu.

E sentiu.

> “Ela ainda me vigia.

Não por raiva.

Mas por desejo mal escondido.”

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...🌑 Fim do Capítulo 4 – l...

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