Capítulo 5

O sol ainda não havia surgido por completo quando me levantei. Da janela do meu aposento, a cidade de Al-Hazan parecia suspensa entre a noite e o dia, como se hesitasse em acordar. Era um horário que poucos apreciavam, mas que para mim representava disciplina, foco e vantagem. O silêncio da manhã sempre me ofereceu um tipo de clareza que nenhuma reunião pode proporcionar.

Meu palácio — uma propriedade afastada do centro, rodeada por jardins e fontes — era um refúgio. Mesmo com sua grandiosidade, ela não exibia luxo desnecessário. Preferi linhas simples, janelas amplas, materiais naturais e cores quentes. Tudo escolhido com intenção. Gosto de viver com o que tem significado.

A assistente pessoal já havia deixado minhas roupas prontas sobre a cama: túnica social preta, calça de linho clara e blazer em tecido leve. Vesti-me com calma. Enquanto ajeitava o colarinho, meu olhar recaiu sobre o anel de sinete com o brasão da minha família. Carrego aquele anel desde os vinte e cinco anos. É o tipo de peso simbólico que nunca se perde.

Hoje era um dia importante. Não por causa de uma fusão empresarial ou assinatura de contratos milionários. Mas porque eu apresentaria oficialmente à arquiteta Eva Duarte o coração do projeto.

Minha equipe já havia preparado tudo. Plantas, projeções 3D, análises estruturais, detalhes sobre materiais, fornecedores e cronogramas. Mas eu decidi que seria eu mesmo quem guiaria Eva nesse primeiro mergulho. Não por desconfiança. Mas porque eu queria ver em seus olhos cada reação, cada dúvida, cada centelha de ideia. Eu gosto da ideia de tê-la por perto.

Tomei meu café da manhã: pães com azeite e zaatar, frutas frescas e café árabe forte, como manda o costume. Em seguida, caminhei até o carro que me aguardava na entrada principal. O motorista, Khaled, cumprimentou-me com o respeito de sempre e seguimos para a sede.

Durante o trajeto, revisei mentalmente os pontos principais. O andar que Eva reformaria não era apenas um espaço funcional. Era o futuro da empresa em forma de arquitetura. Um lugar que representaria a transição entre o tradicionalismo da minha linhagem e a modernidade que Al-Nur precisava abraçar.

Chegando à empresa, fui direto para minha sala. A assistente já havia deixado os documentos sobre a mesa, junto com um tablet com as apresentações preparadas. Fiz questão de revisar tudo pessoalmente. Detalhes fazem a diferença.

Eva chegaria às nove.

Perto desse horário, pedi que a recepcionista a encaminhasse diretamente para a sala de reuniões anexa ao meu escritório. Uma sala ampla, com mesa de vidro, cortinas claras que deixavam a luz natural entrar, e uma parede inteira dedicada a projeções e esquemas.

Cerca de dez minutos depois, escutei a leve batida na porta.

— Entre. — disse, sem desviar os olhos dos documentos.

Ela entrou.

Usava um vestido social claro, ajustado com discrição, sapatos elegantes e o cabelo preso em um coque baixo. Mais uma vez, sua presença preencheu o ambiente com uma naturalidade quase desconcertante.

— Bom dia, Alteza. — disse com firmeza e leve inclinação de cabeça.

— Bom dia, senhorita Duarte. Por favor, sente-se. Temos muito a discutir hoje.

Ela se acomodou na poltrona à minha frente e retirou um bloco de anotações da bolsa. Gosto de quem ainda prefere escrever com as próprias mãos. Isso diz muito sobre foco e intenção.

Liguei a tela principal, e o primeiro esboço tridimensional apareceu.

— Este é o núcleo do projeto. O andar que você vai reformar não é apenas um espaço funcional. Ele vai abrigar o centro de inovação, a sala de estratégia, o novo auditório executivo e a biblioteca empresarial.

Eva se inclinou um pouco, os olhos seguindo cada linha.

— Impressionante... — murmurou, quase para si mesma.

Continuei:

— Quero que esse espaço seja uma tradução da nossa identidade: moderna, mas com raízes profundas. Quero linhas elegantes, materiais sustentáveis e um fluxo que inspire criatividade, mas que também imponha respeito.

Ela anotava, murmurava ideias, fazia desenhos rápidos no canto do caderno.

Passei a ela os dados da equipe de apoio: engenheiros, designers, fornecedores. Mas deixei claro que ela teria liberdade de ajustar a equipe conforme necessidade. Nada seria imposto.

— O projeto é seu, Eva. — disse, propositalmente usando seu primeiro nome. — Mas eu estarei acompanhando cada etapa. Quero envolvimento pessoal.

Ela assentiu.

— Entendo. E agradeço a confiança. Isso é maior do que qualquer coisa que já fiz. — disse.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Não um silêncio desconfortável. Era como se estivéssemos processando juntos o peso do que estava sendo iniciado.

Ofereci-lhe café. Ela aceitou.

Enquanto a bandeja era trazida por um serviçal, observei novamente seus gestos. Há algo profundamente feminino nela. Mas também uma força que poucos homens conseguem sustentar por perto sem se sentirem ameaçados.

Quando ela terminou o café, virei a próxima página da apresentação.

— Este é o cronograma ideal. Podemos adaptar com base na sua avaliação.

— Vou estudar cada etapa com calma. Mas já tenho algumas sugestões que podem otimizar fluxos internos sem perder a estética proposta. Posso te mostrar?

Ela puxou o bloco, fez um esboço rápido. Em dois minutos, havia redesenhado parte da entrada do auditório com um aproveitamento de luz natural mais eficiente. Preciso. Elegante. Original.

Sorri de lado.

— Agora você entende por que eu quis você aqui.

Ela me olhou, surpresa.

— A maioria dos nomes que recebemos eram impecáveis. Portfólios intocáveis. Mas você me deu a sensação de que ainda tem algo a provar. E eu gosto disso.

Eva ficou em silêncio, mas os olhos disseram tudo. Orgulho. Determinação. Um leve toque de emoção que ela rapidamente disfarçou.

Passamos mais de uma hora alinhando ideias. Ao final, levantei e caminhei até a janela.

— Quero que esse andar conte a história do nosso futuro. Quero que quem entrar ali sinta o que somos e o que pretendemos ser.

Ela se levantou também.

— Então vamos construir isso. Juntos. — seu lábios se alargaram suavemente em um sorriso bonito.

Ela estendeu a mão. Eu apertei. E naquele toque, houve algo. Algo que nem mesmo minha mente analítica conseguiu nomear. Mas que eu sabia que cresceria com o tempo.

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Comments

GAMER W (TITANS BR)

GAMER W (TITANS BR)

minha amada escritora mais uma estória a ser premiada, você está além do seu tempo, uma profissional maravilhosa, que não ficará nunca atrás dos premiados escritora da atualidade e dos grandes nomes da literatura

2025-07-09

3

Celma Rodrigues

Celma Rodrigues

Maravilhoso capítulo. Ela é instigante e ele quer esse novo que surgiu. Mais ele não vai deixar de ser o que é: Sheik, poderoso.... e firme nas tradições.

2025-07-05

2

Fatima Maria

Fatima Maria

AUTORA VC ESTÁ DANDO UM SHOW . ATÉ AQUI NÃO TENHO PALAVRAS PARA DESCREVER O LIVRO 📙 PELA CAPA E SIM PELO CONTEÚDO MARAVILHOSO. ESTOU AMANDO DEMAISSS .

2025-07-07

0

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