Capítulo 3

Segui a mulher, seus passos eram firmes, como se estivesse acostumada a caminhar por aqueles corredores diariamente. Eu, por outro lado, sentia o salto bater com mais força do que o normal contra o piso de mármore. Era nervosismo, eu sabia. E não havia como esconder.

Os corredores da Al-Nur Enterprises pareciam saídos de um filme futurista, com elementos clássicos que revelavam a identidade local: paredes altas, ornamentos com arabescos dourados, luzes embutidas que criavam uma atmosfera serena e autoritária ao mesmo tempo.

Depois de alguns minutos de caminhada, ela parou diante de uma porta dupla de madeira escura. Acima da altura dos olhos, uma pequena plaquinha dourada indicava com letras elegantes: Sua Alteza Zayed Al-Nur.

Meu coração bateu mais rápido. Aquilo era real. Respirei fundo, e a mulher, em um gesto respeitoso, deu um passo para o lado, abrindo espaço para que eu tomasse a frente.

Ela empurrou a porta para mim e eu entrei.

A sala era ampla e imponente, com grandes janelas ao fundo que revelavam parte da cidade e as dunas ao longe. O teto alto era sustentado por vigas de madeira entalhada e, no centro, havia um lustre minimalista, mas sofisticado. Tapetes bordados cobriam parte do piso, e o cheiro de couro, madeira e incenso suave preenchia o ambiente.

Ainda havia uma pequena reunião acontecendo. Três homens vestidos impecavelmente com ternos escuros estavam de pé, em frente à grande mesa. Ao me verem, um a um se despediram com um leve aceno de cabeça, quase reverente. Saíram em silêncio, mas não sem antes me lançar olhares discretos, curiosos.

Apenas um homem ainda permanecia na sala, parado em frente à mesa.

— E Tarik, faça como falei a você. Caso contrário, estará demitido antes do sol nascer. — ordenou com voz firme, apontando o dedo com precisão.

— Sim, meu senhor. — respondeu o tal Tarik, curvando levemente a cabeça antes de sair apressado, fechando a porta atrás de si.

E então ficamos sós.

Eu continuei ali, parada, com as mãos entrelaçadas diante do corpo e o coração batendo tão alto que parecia ecoar na sala inteira. Ele se levantou da cadeira com calma, sem tirar os olhos de mim, como se estivesse me avaliando por completo.

E eu, bom, eu também o medi dos pés à cabeça.

Zayed Al-Nur era alto. Muito mais alto do que eu imaginava. Devia ter pelo menos um metro e noventa. Os ombros largos sustentavam um corpo atlético, moldado por disciplina e não apenas estética. Usava uma roupa de tecido fino, ajustada ao corpo, em tom azul escuro com detalhes dourados nas mangas e na gola. Era uma mistura perfeita de trajes tradicionais com um corte moderno, feito sob medida, com certeza.

Sua pele era bronzeada, os olhos de um castanho tão escuro que quase pareciam pretos. Tinham um brilho intenso, analítico, e me observavam como se pudessem atravessar qualquer fachada que eu tentasse manter. Os cabelos eram pretos, levemente ondulados e bem penteados para trás, com algumas mechas prateadas discretas nas laterais que apenas acentuavam sua elegância madura.

A barba bem aparada contornava o maxilar definido, e seus lábios estavam pressionados em uma linha séria, mas não hostil. Ele não era apenas bonito. Ele era impressionante. Como se tivesse sido moldado para ocupar exatamente aquele lugar: o centro de um reino, de uma empresa, de qualquer lugar que pisasse.

— Senhorita Duarte. — disse ele, finalmente, com a voz grave, a pronúncia precisa, e um leve acento que tornava tudo mais encantador. — Seja bem-vinda a Al-Nur Enterprises. Espero que sua viagem tenha sido tranquila.

Assenti com um sorriso profissional e dei dois passos à frente.

— Foi sim, muito obrigada, Alteza. A estrutura oferecida foi impecável.

Ele indicou uma das cadeiras diante de sua mesa, e eu me sentei cuidadosamente. A poltrona era de couro escuro, firme e confortável. Ele se sentou novamente, cruzando os dedos sobre os documentos à sua frente.

Com um gesto discreto, chamou uma assistente que apareceu quase instantaneamente com uma bandeja. Nela, havia uma pequena taça de café árabe fumegante, acompanhada de tâmaras e um copo com água gelada.

— É costume receber nossos convidados com café. — disse ele. — Aceite como um gesto de boas-vindas.

— Com prazer, Alteza. — respondi, pegando delicadamente a xícara.

— Já tive acesso ao seu portfólio. Sua abordagem é ousada. Você tem um olhar diferente da maioria dos arquitetos que já passaram por aqui.

— Fico lisonjeada, Alteza. Tento equilibrar funcionalidade com identidade. Acredito que cada espaço precisa contar uma história.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se aquela resposta tivesse lhe agradado.

— Espero que você esteja preparada para lidar com limites. Aqui, nossa cultura valoriza o sagrado dos espaços e o respeito à tradição. Ainda que eu deseje algo moderno, não permitirei que minha identidade seja apagada por linhas ocidentais vazias.

Aquela foi uma afirmação, não uma ameaça. Mas me fez endireitar a postura e engolir em seco.

— Eu entendo. E prometo que meu projeto respeitará cada raíz, cada traço de quem vocês são. Meu papel aqui é somar, não substituir.

Ele inclinou levemente a cabeça, com um ar reflexivo.

— Alteza, porque me recrutou para esse trabalho? Acredito que já saiba que eu ..... —

ele me silenciou com um gesto de mão.

— Você se formou na USP, com mérito. Trabalhou em três grandes escritórios, abriu sua própria empresa aos vinte e oito, e perdeu tudo dois anos depois. — disse, sem mudar o tom. — Ainda assim, aqui está. Isso me diz mais sobre você do que qualquer portfólio.

Aquela observação me tirou o ar por um segundo. Ele havia feito o dever de casa.

— Investigo cada profissional que coloco dentro das minhas paredes. Mas eu sou conhecido por investir não apenas em ideias, e sim em pessoas. — Ele se inclinou para frente, os olhos fixos nos meus. — E eu gosto de investir em gente que tem garra.

Eu engoli em seco, mas mantive o olhar firme.

— Não vou decepcioná-lo.

— Veremos. Amanhã os papéis para assinatura estarão disponíveis para assinatura. E claro para o trabalho, terá acesso aos andares superiores e a uma equipe de suporte. Mas quero seus relatórios diretamente em minhas mãos, semanalmente. E qualquer mudança de conceito, deve ser discutida comigo. Somente comigo.

— Claro. Estou à disposição.

Zayed se recostou na cadeira. Pela primeira vez, um canto de seu lábio pareceu ameaçar um sorriso.

— Você tem um olhar determinado, senhorita Duarte. É algo raro e perigoso. Espero que saiba onde está se metendo.

Eu também sorri, mesmo com o coração ainda acelerado.

— Já estive em lugares muito piores, Alteza. Aqui, ao menos, as regras estão claras.

Ele me encarou mais uma vez antes de se levantar.

— Então seja bem-vinda ao deserto.

E com um aceno de cabeça, encerrou a reunião.

Mas enquanto eu saía, ainda podia sentir seus olhos me seguindo.

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Comments

Menezes

Menezes

Eu queria ser ela /Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/

2025-07-05

7

Celma Rodrigues

Celma Rodrigues

Então ela é "perigosa" por ser diferente.... o Sheik ptestou atenção nela e nas suas atitudes. Não dá pra negar que ele tem um magnetismo, uma aura de poder.

2025-07-05

2

Tânia Campos

Tânia Campos

Ou seja, Um homem maravilhoso de gostoso!!!
❤❤❤

2025-07-08

1

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