Meu nome é Zayed Al-Nur. Sheik e herdeiro do trono de Al-Hazan, CEO da Al-Nur Enterprises, e homem acostumado a tomar decisões que mudam o rumo de impérios. Mas não é isso que me define. Pelo menos, não por completo.
Cresci em um palácio com mais silêncio do que risos. Meu pai, o sheik Omar Al-Nur, me ensinou a governar com pulso firme e olhar atento. Não existia espaço para falhas ou sentimentalismos. Minha mãe, a rainha Layla, era a única que suavizava os dias com sua voz doce e sua sabedoria ancestral. Perdi os dois cedo demais, mas o legado que deixaram em mim é indestrutível.
Assumi a direção da empresa aos vinte e nove, após me formar em Oxford e trabalhar sob o comando de conselheiros que duvidavam da minha capacidade. Não precisei de muito tempo para provar que estavam errados. Diversifiquei os investimentos, modernizei setores conservadores e levei o nome da nossa empresa para mercados que antes nos ignoravam. Hoje, Al-Nur Enterprises é uma das holdings mais influentes do Oriente Médio, com ramificações em tecnologia, energia, construção civil, hotelaria e transporte aéreo. Cada projeto passa por mim. Nada é autorizado sem meu aval.
Mas o poder não é suficiente quando se carrega o peso do futuro de um país. Minha agenda é dividida entre reuniões com ministros, almoços com investidores e rituais de tradição que minha consciência se recusa a abandonar. Ser moderno sem ser desleal com minhas origens é a batalha que luto todos os dias.
Hoje pela manhã, antes mesmo da chegada da arquiteta brasileira, precisei encerrar um assunto mal resolvido com Tarik, meu assessor direto.
Tarik é jovem, ambicioso, mas tem pouca experiência com os riscos do mundo real. Eu o conheci ainda na universidade, quando ele me abordou com um projeto de gestão de risco que me impressionou. Contratei-o por confiança, e nos últimos anos ele tem crescido sob minha tutela. Mas também tem vacilado.
Na última semana, ele autorizou um grupo de engenheiros a iniciar uma reforma sem minha aprovação formal. Resultado: o atraso de uma ala inteira, desperdício de recursos e um ruído interno que chegou até mim antes que ele tomasse providências. Não admito desorganização. Desleixo é o início da decadência.
— E Tarik, faça como falei a você. Caso contrário, estará demitido antes do sol nascer. — Minhas palavras cortaram a sala como lâmina. Não por crueldade, mas porque a disciplina é o alicerce do respeito.
Ele assentiu e saiu sem discutir, como deveria.
Logo em seguida, ela entrou.
Eva Duarte.
Meu primeiro pensamento quando a vi foi que nenhuma foto em seu portfólio fazia jus à sua presença real. Alta, postura elegante, olhos firmes. Havia algo inquietante nela. Um tipo de beleza que não se esforçava para chamar atenção, mas que inevitavelmente conquistava o ambiente. Ela não era como as outras profissionais que já entrevistei.
Poderia ter escolhido nomes impecáveis. Tenho uma equipe que seleciona os melhores currículos do mundo. Arquitetas com doutorados, prêmios internacionais, fluência em cinco idiomas. Mas quando li o nome dela na lista enviada, algo me fez pausar. Pesquisei por conta própria. Vi os projetos, o crescimento rápido, a ascensão em São Paulo e a queda abrupta.
Ela havia perdido tudo. Mas mesmo assim, seguiu em frente. Pegou trabalhos pequenos, fez reformas residenciais e se manteve ativa. Não processou ex-sócios, não culpou ninguém publicamente. Apenas continuou. E para mim, isso diz mais sobre uma pessoa do que qualquer diploma.
Vi um vídeo dela apresentando um projeto em uma conferência. Havia uma paixão nos olhos dela que muitos arquitetos perderam ao longo dos anos. Uma convicção madura. Ela fala com propriedade, mas sem arrogância. Foi isso que me convenceu.
Eu gosto de investir em ideias, mas gosto ainda mais de investir em pessoas com garra.
A forma como ela me respondeu hoje, com aquele olhar centrado, sem bajulação, foi a confirmação de que fiz a escolha certa. Ela é ambiciosa, mas respeitosa. Moderna, mas atenta ao contexto. Está disposta a aprender, mas não vai se curvar só porque carrego um título real.
Enquanto falávamos, observei cada gesto. A maneira como ela segurava a xícara de café, o cuidado com as palavras, o leve movimento dos dedos quando tentava controlar o nervosismo. Ela pensa antes de falar. Mas quando fala, deixa claro que sabe do que está tratando.
Ordenei que seus relatórios venham diretamente a mim. Não apenas por controle, mas porque quero acompanhar cada decisão dela. Não confio na maioria dos meus diretores quando se trata de arte e espaço. Muitos vêem os projetos apenas como custo. Eu vejo como legado.
Eva não sabe ainda, mas a ala que ela vai reformar não é apenas uma parte da sede. É o núcleo de onde partirá a imagem da empresa para os próximos vinte anos. E quero que seja inesquecível. Quero que cada linha desenhada seja memória para as futuras gerações.
Há algo nela que ainda não sei explicar. Um tipo de magnetismo. Um desconforto bom. Não sei se é o fato de que ela me desarma com sua calma, ou se é o modo como os olhos dela não fogem dos meus. Ela me desafia. Sem palavras, sem intenção clara, mas me provoca.
Não posso permitir que isso me distraia. Mas também não posso ignorar. Já estive ao lado de mulheres lindas, sofisticadas, cultas, mas nunca ao lado de uma mulher que parece me entender sem me conhecer. Isso me inquieta. E me atrai.
Quando ela saiu da sala, demorou três segundos para que o perfume suave que usava chegasse até mim. E ficou ali, impregnado na minha sala, mesmo depois que a porta se fechou.
Inclinei-me para trás na cadeira, encostando a cabeça e fechando os olhos por um breve instante. Respirei fundo. Já tive dias mais tranquilos.
Ela vai dar trabalho. Dos melhores tipos. E eu estarei observando de perto. Muito perto.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
claudia gomes
comecei a ler hj tbm dia 4/7 a historia dessa vez e diferente e ao msm tempo nao ne naira? acho qe deve ser prq e a segunda historia de cheik qe leio.mas ja ta boa.
2025-07-05
4
Lorena Silva
Começando a ler hoje 04/07/2025.
E sendo sincera tô gostando da leitura.
PARABÉNS AUTORA!!
👏👏👏
2025-07-04
4
Mônica
Começando em 05/07, e ja amando.
Naira Sousa com sua escrita suave, clara e encantadora, gosto muito.
2025-07-05
2