Capítulo 2

Assim que desembarquei em Al-Hazan, a primeira coisa que senti foi o calor. Um calor seco, denso, que parecia envolver cada centímetro do meu corpo. O ar tinha um cheiro diferente, uma mistura de especiarias, poeira fina e algo levemente adocicado que eu não soube identificar. Era como se o próprio país exalasse tradição.

Um motorista vestido com roupas tradicionais me aguardava com uma placa com meu nome. Ele foi educado, silencioso, e falava um inglês com sotaque carregado. Me levou até um carro preto elegante, com vidros escuros e bancos de couro. A viagem até meu novo apartamento levou pouco mais de quarenta minutos. A cidade era um contraste de opulência e areia. Prédios espelhados tocavam o céu enquanto pessoas caminhavam pelas ruas com vestes longas e coloridas.

O apartamento reservado para mim era mais bonito do que eu esperava. Ocupava um andar inteiro em um edifício moderno, com vista para o mar e para as dunas douradas ao longe. O hall de entrada era amplo, com piso de mármore branco e paredes em tom areia, decoradas com quadros de arte local. Havia um aroma sutil de jasmim, como se o lugar tivesse sido preparado cuidadosamente para me receber.

A sala de estar era decorada com sofás em linho bege, almofadas bordadas e uma mesa de centro de madeira escura. A cozinha era moderna, com eletrodomésticos embutidos e bancadas de granito. Meu quarto tinha uma cama king-size com cabeceira de veludo azul-marinho, cortinas translúcidas e uma varanda encantadora. Tudo impecável, luxuoso, mas também acolhedor.

Uma jovem chamada Safiyah, que falava inglês fluentemente, me aguardava no apartamento. Ela se apresentou como funcionária da empresa encarregada de me auxiliar com tudo que eu precisasse nos primeiros dias. Tinha um sorriso gentil, movimentos calmos e um ar de quem já sabia tudo sobre como lidar com estrangeiros assustados.

— Se precisar de algo, estarei por aqui durante esta semana, senhorita Eva. A Alteza Zayed deseja que esteja confortável e bem instalada.

— Thanks ( Obrigada) — Agradeci.

Fiquei surpresa com a atenção aos detalhes. Ela me mostrou cada cômodo com paciência, explicando o funcionamento dos dispositivos eletrônicos, as peculiaridades do chuveiro, a forma correta de usar o ar-condicionado — que ali, era uma questão de sobrevivência — e como solicitar serviços ou comida, caso eu não quisesse cozinhar.

Depois de me despedir dela, por ora, resolvi desfazer as malas. Abri o espaçoso closet que ficava ao lado do quarto principal e comecei a organizar minhas roupas. Havia divisões suficientes para tudo: vestidos, ternos, sapatos, bolsas, e ainda sobrou espaço. Arrumei cada peça com cuidado, como se quisesse colocar minha vida em ordem junto com os tecidos. Era terapêutico.

Em seguida, abri as janelas da varanda para deixar o ar circular entrar. A vista era inacreditável. As águas do mar pareciam um espelho turquesa, enquanto o sol dourava as dunas ao longe. Sentei-me por alguns minutos, apenas para absorver aquele lugar. Era tudo novo, imenso, intimidante.

Voltei para dentro e fui até a cozinha. Ainda com fome, apesar do lanche do avião, resolvi preparar algo simples. Havia uma pequena cesta com alimentos frescos deixada ali: ovos, legumes, pães, queijos e alguns temperos locais. Preparei ovos mexidos com ervas, fatiei um pão macio e servi com um suco de romã. Me sentei sozinha à mesa, sentindo a solidão bater pela primeira vez desde que saí do Brasil. Não uma solidão ruim. Era mais como um espaço vazio pronto para ser preenchido.

Após comer, lavei os pratos por instinto e aproveitei para tomar um banho longo. A água quente, as essências naturais dos produtos de banho que deixaram para mim, e o silêncio absoluto do apartamento foram reconfortantes. Saí do banheiro com um roupão felpudo branco, sentindo minha mente começar a descansar.

Vesti um pijama leve, amarrei o cabelo e sentei no sofá da sala. Peguei meu caderno de ideias e comecei a rabiscar. Linhas soltas, esquemas de cores, memórias de projetos passados. Estava começando a sentir aquela chama reacender dentro de mim. Talvez esse trabalho fosse mesmo minha chance de recomeçar.

Recebi uma mensagem de Safiyah informando que minha apresentação na Al-Nur Enterprises seria na manhã seguinte, às nove. Ela viria me buscar com o carro da empresa.

Depois disso, fui para a cama. O colchão parecia me abraçar, e os lençóis cheiravam a lavanda. Deitei de lado, observando as luzes da cidade pela varanda, com o som distante do vento soprando pelas dunas.

Fechei os olhos com uma sensação estranha de gratidão.

Mesmo com todas as cicatrizes, eu estava ali. Tinha atravessado o mundo. Tinha uma nova chance. E no fundo do meu coração, mesmo que eu não dissesse em voz alta, eu queria fazer isso dar certo.

Na manhã seguinte, eu encontraria o homem por trás de tudo: o sheik, o CEO, o líder. Mas por enquanto, eu só precisava dormir.

E foi exatamente o que fiz depois de uma viagem longa e exaustiva. Dormi.

...✧ ✧ ✧ ✧ ✧ ✧...

Na manhã seguinte, acordei cedo. Tomei banho, fiz todas as minhas higiene matinal. Estava nervosa, como se fosse meu primeiro emprego. Escolhi com cuidado cada peça de roupa: uma saia social preta, justa, mas que cobria os joelhos perfeitamente. Uma blusa azul-clara de manga três quartos, com um leve brilho acetinado, salto escarpin preto e cabelos presos num rabo de cavalo baixo. Brincos discretos, um colar fino com um pequeno pingente da sorte — presente da minha mãe — completavam o visual. Profissional, elegante e respeitoso. Estava pronta.

Como Safiyah havia dito, ela veio me pegar e me levou até a empresa. Ao chegar, fui mais uma vez surpreendida. A empresa da Al-Nur em Al-Hazan era um verdadeiro palácio moderno. O prédio se erguia como uma obra de arte no centro da cidade. Os jardins eram meticulosamente cuidados, com fontes que jorravam água cristalina, e esculturas que mesclavam modernidade com elementos da cultura tradicional.

Dentro do edifício, o hall de entrada tinha um pé-direito altíssimo, paredes em ônix branco e um lustre de cristal gigantesco que parecia mais um céu estrelado. Fui recebida por uma funcionária vestida com roupas tradicionais, mas com um crachá moderno e um sorriso cordial. Me conduziu até uma sala de espera privada, onde eu aguardaria o momento da reunião com o próprio senhor Zayed.

Sentei-me numa poltrona de couro marrom, larga, de encosto alto e incrivelmente confortável. Havia uma mesa de centro em vidro fosco à minha frente, com uma bandeja contendo pequenas taças de café árabe — forte, aromático, servido em porções pequenas e acompanhado de tâmaras. Descobri que, sim, eles tomam café. Mas é um café diferente do nosso — sem a doçura automática, com notas de especiarias como cardamomo.

Peguei uma das pequenas xícaras e a levei aos lábios. O sabor era intenso, marcante, mas curiosamente reconfortante. Enquanto tomava, tentei controlar a ansiedade. Era minha primeira reunião formal em solo estrangeiro, em uma empresa que mais parecia uma instituição de elite.

Terminei o café e depositei a xícara vazia sobre a mesa. Ao lado dela, repousava uma pilha de revistas empresariais e de arquitetura. Peguei uma delas e comecei a folhear mecanicamente. Minhas mãos tremiam um pouco, então mantive o foco nas imagens de projetos ousados, linhas modernas, materiais exóticos.

Foi então que meus olhos pararam em uma página. Havia uma matéria extensa sobre ele: Sua Alteza Zayed Al-Nur.

"O homem mais rico e cobiçado do Oriente Médio." Era o título.

A reportagem falava sobre sua visão empresarial, sua liderança firme e sua dedicação ao povo. Mencionava que sua família governava Al-Hazan há mais de um século e que ele era considerado um líder justo, querido pela população, mas também notoriamente tradicional. Um homem que prezava pela ordem, disciplina e pelas leis de seus ancestrais.

Fechei a revista e soltei um suspiro que nem percebi que estava prendendo. Minha mente girava com perguntas.

Será que eu seria capaz de me encaixar nas restrições de uma cultura tão diferente da minha? Será que conseguiria lidar com um líder tão tradicionalista e exigente?

Passei as mãos nos cabelos, ajeitando o rabo de cavalo com nervosismo. Olhei em volta, tentando focar em outra coisa. Mas era difícil. A estrutura da empresa era magnífica, organizada, limpa e silenciosa. Havia um respeito silencioso em cada canto.

— Arquitetura linda... — murmurei para mim mesma, admirando os detalhes.

A mistura de vidro, madeira trabalhada à mão e a luz natural filtrada por painéis artísticos formava um ambiente quase espiritual. Mexer em uma estrutura como aquela, em pleno Oriente Médio, e ainda por cima pertencente a Zayed, era um sonho. Um privilégio. Algo que qualquer arquiteto aspiraria com todas as forças.

Mas então, por que eu?

Com tantos profissionais pelo mundo, com currículos mais impressionantes e empresas maiores, por que eu fui escolhida? Após tudo o que vivi no Brasil, depois da falência, da traição, do fracasso. Por que logo eu?

Antes que pudesse me aprofundar nessa espiral de dúvidas, a porta se abriu. Uma outra mulher com roupas tradicionais entrou e se curvou levemente.

— A Alteza vai recebê-la agora.

Meu coração deu um salto. Levantei-me, ajustando a saia, endireitando os ombros e engolindo em seco. O momento havia chegado. E nada me prepararia para o impacto de ver Zayed Al-Nur pessoalmente.

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Comments

Ana Regina Fernandes Raposo

Ana Regina Fernandes Raposo

QUE AZAR O DELA, SÉRIO VAI CONHECER O PRINCIPE ÁRABE. E TRADICIONAL AINDA, NÃO ENTENDI ESSE PRÍNCIPE QUERER FALAR DE ARQUITETURA COM UMA MULHER, ELES NEM OLHAM ESTRANGEIROS E MULHERES QUE CONSIDERAM INFERIORES.

2025-07-04

3

a tal da capricórniana

a tal da capricórniana

Autora vc manda muito bem nos seus romances eu te adoro 🤩
mais ainda não vi sobre professor e aluna kkkkk eu gosto só pra ver o final /Drool/

2025-07-07

1

Tânia Campos

Tânia Campos

Naira, você está de Parabéns,
Consegue colocar detalhes, que conseguimos imaginar,
Tu é fera, bb,
Já apaixonada pelo começo!!!
❤❤❤

2025-07-08

1

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