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Capítulo 4 – Marcas Invisíveis
Isadora acordou com o som de um isqueiro sendo aceso.
A luz fraca da manhã esgueirava-se pela persiana torta, riscando o quarto como uma confissão mal escrita. Damián estava sentado à beira da cama, nu da cintura pra cima, cigarro entre os dedos, costas voltadas para ela.
O silêncio parecia maior agora. Carregado.
Ela se mexeu devagar, sentindo o corpo protestar em pontos que nem sabia que existiam. Ainda havia a impressão dele em sua pele — onde a boca tocou, onde os dedos apertaram, onde a alma dela ardeu sem pedir licença.
Ele não se virou, mas falou:
— Você não é como as outras.
Ela sentou-se, puxando o lençol até o peito, mais por hábito do que por pudor.
— E você sempre diz isso?
Ele soltou a fumaça devagar, sem pressa, antes de olhar por sobre o ombro.
— Nunca precisei dizer nada.
O olhar dele ainda a queimava. Mas agora havia algo mais ali. Um aviso, talvez. Ou um dilema.
Ela se levantou, nua, caminhando até ele. Sabia que estava se expondo — não só o corpo, mas tudo. E ele a observava com aquele olhar de tempestade. Como se ela fosse o centro e o caos ao mesmo tempo.
Isadora parou diante dele, tocando o rosto de Damián com delicadeza. Queria entender. Que tipo de ferida se esconde por trás de tanta força? Que tipo de dor transforma um homem em um vício?
— Por que eu? — ela perguntou.
Damián pegou o pulso dela e virou, olhando a pele clara da parte interna, como se ali estivesse alguma resposta.
— Porque você sangra bonito.
Ela não sabia se aquilo era uma metáfora ou uma ameaça. E odiava o quanto isso a excitava.
Vestiu-se em silêncio, mas o corpo ainda latejava com as lembranças da noite. Ao sair do quarto, encontrou uma pequena foto presa por um ímã na geladeira velha: Damián, mais jovem, ao lado de um homem com o mesmo olhar duro.
Pai, talvez? Ou mentor? A imagem foi como uma pedra afundando no estômago. Ele tinha um passado. E não parecia bonito.
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Naquela tarde, de volta à universidade, Isadora caminhava como uma sombra dela mesma.
As pessoas ao redor falavam, riam, corriam para as salas de aula. Mas ela… estava em outro lugar. Ainda sentia o cheiro dele. Ainda ouvia a voz grave sussurrando contra sua pele. E a pior parte: ela queria mais.
O celular vibrava com mensagens da mãe: “Como foi a biblioteca?”
Ela ignorou.
Na escadaria da entrada, Clara — sua melhor amiga — a viu e correu até ela.
— Você sumiu ontem! Tá tudo bem?
Isadora forçou um sorriso. Quase acreditou nele.
— Só precisava… sair um pouco da rotina.
Clara franziu a testa, mas não insistiu. Ainda assim, Isadora sabia que não conseguiria esconder por muito tempo. Sua pele carregava marcas. Seu olhar também.
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No fim da noite, já no quarto escuro da casa dos pais, deitada na cama com o teto branco acima, Isadora pensou em Damián.
Nas mãos. No olhar. No que havia por trás daquela força toda.
Mas também pensou em si mesma.
No que havia sido despertado.
No que já não podia ser apagado.
E então o celular vibrou.
> Número desconhecido:
"Você ainda está com meu cheiro, princesa?"
O coração dela parou. Depois, disparou.
Ela respondeu sem pensar:
> "Ainda não consegui tirá-lo."
A resposta veio rápida.
> "Nem vai."
Ali, Isadora entendeu.
Ela não tinha aberto só as pernas.
Tinha aberto a porta de algo muito mais perigoso.
E Damián…
Ele nunca entra para sair.
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Atualizado até capítulo 35
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