A ligação veio no meio da madrugada.
Gabriel acordou com o toque insistente, os olhos pesados, o peito apertado como sempre.
Quando viu o nome da cunhada na tela, sentiu um frio na barriga.
— Alô?
A voz do outro lado tremia.
— É o André… ele sofreu um acidente. Tava indo pra sua casa. O carro capotou na estrada.
Gabriel ficou em silêncio.
O mundo girou.
— Em que hospital?
Ela disse. Era longe. Gabriel vestiu o jaleco ainda com as mãos trêmulas. Saiu sem café. Sem respirar direito.
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Horas depois, parado no corredor branco da UTI, ele encarava a porta fechada com o nome do irmão na plaquinha. André estava sedado, com fraturas na clavícula, uma concussão leve e alguns hematomas.
Os médicos diziam que ele ia se recuperar. Mas o susto… esse Gabriel não conseguia controlar.
Foi quando os pais chegaram.
A mãe, com os olhos marejados. O pai, de rosto duro.
Ela nem olhou para Gabriel.
— Ele só foi porque insistiu em te ver. E agora tá ali.
Gabriel piscou, tentando entender.
— Eu não pedi que ele fosse. Eu nem sabia…
— Ele nunca ligava pra nada, até você começar com essa… fase — disse o pai, cuspindo a palavra.
— Fase?
— Você afundou ele junto nessa sua vida errada. Agora olha o resultado.
Gabriel recuou um passo, como se tivesse levado um tapa.
— Ele é o único que nunca me julgou. Sempre esteve do meu lado.
— E olha onde isso levou ele — cortou a mãe. — Talvez se você tivesse ficado quieto, escondido, como antes…
— Como antes?! — a voz de Gabriel falhou. — Quando eu me olhava no espelho e me odiava? Quando eu me machucava só pra sentir que ainda existia?
A mãe arregalou os olhos.
O pai apenas virou o rosto.
— Vocês acham que ele sofreu por me amar? Não. Ele sofreu por ter que compensar o que vocês nunca deram.
E saiu.
Sem olhar pra trás.
Com a alma em carne viva.
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No hospital, Miguel notou a ausência de Gabriel. De novo.
E dessa vez… não conseguiu suportar o vazio.
Chamou Paula.
— Você sabe o que aconteceu?
— O irmão dele sofreu um acidente. Gabriel tá mal. E eu acho que…
Ela não terminou a frase.
Miguel passou a mão pelo rosto. Algo dentro dele se agitou com violência.
Um medo novo. Uma urgência antiga.
— Me manda o endereço dele.
Paula hesitou.
— Ele vai me matar.
— Prefiro isso do que chegar tarde demais.
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Gabriel estava sentado no chão do quarto. Luz apagada. As costas na parede.
Não chorava.
Não falava.
Só encarava o vazio, como se tivesse sido esvaziado de si mesmo.
Havia sangue na manga da blusa.
Um novo corte. Mais fundo.
O celular vibrava no chão, ignorado.
Até que… batidas na porta.
Baixas. Constantes.
Ele não reagiu.
— Gabriel… sou eu.
A voz.
Miguel.
Gabriel ficou imóvel.
Mais batidas.
— Eu sei que você tá aí. Por favor.
Devagar, ele se levantou. Cambaleou até a porta.
Abriu.
Os olhos dos dois se encontraram.
E Miguel viu.
Viu o rosto pálido.
A camisa suja.
O olhar opaco.
O corte.
E tudo o que Gabriel nunca disse… estampado no corpo.
— Eu… — Miguel começou. Depois parou. — Me deixa entrar?
Gabriel hesitou. Mas deu espaço.
Miguel entrou. Olhou tudo. Sentou no sofá. Ficou em silêncio.
Depois de um longo minuto, disse:
— Você não precisa fingir mais.
Gabriel desabou.
Não em palavras. Mas em lágrimas.
De joelhos, no chão.
Sem forças para sustentar o próprio peso.
E Miguel… apenas o segurou.
Sem julgamentos.
Sem perguntas.
Sem promessas.
Apenas ficou.
Ali.
Com ele.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Valdineia Ribeiro
André o único que o ama de verdade 🥺
2025-07-24
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