A chuva fina batia contra o vidro da janela como se dançasse em lamento. O som suave preenchia o pequeno apartamento alugado por Júlia, misturando-se ao tic-tac impaciente do relógio de parede. Ela estava sentada no sofá gasto da sala, com os pés descalços encolhidos sob as pernas, os cabelos úmidos e o corpo mole de cansaço. Mais um dia longo.
Na mesinha ao lado, duas cartas fechadas — contas. Na TV desligada, o reflexo de alguém que tentava parecer forte. E no colo, o celular, como se fosse a última linha entre a esperança e o colapso.
Fazia semanas que ela mandava currículos.
Currículos sinceros, impecáveis, cheios de promessas que ninguém parecia querer cumprir. O dinheiro da rescisão estava no fim, as contas não esperavam, e o orgulho já tinha ido embora faz tempo. Só restava persistência. E um pouco de fé.
Foi então que o celular vibrou.
Um número desconhecido.
Ela hesitou por alguns segundos antes de atender.
— Alô?
— Boa noite. A senhorita Júlia Ramos? — A voz feminina era clara, profissional, sem margem para dúvidas.
— Sim, sou eu.
— Falo do Grupo Lancaster. Seu currículo foi analisado e selecionado para uma entrevista com o presidente da empresa, senhor Arthur Lancaster. Confirmamos sua presença amanhã às oito da manhã?
Júlia arregalou os olhos. Um arrepio percorreu sua espinha.
Grupo Lancaster?
Ela sabia exatamente do que se tratava. Uma das maiores corporações do país, com sede em um prédio espelhado no centro da cidade. Conhecida não apenas pelos lucros bilionários, mas também pela rigidez no processo seletivo. Dizia-se que trabalhar lá era para poucos. Para os melhores. E agora… estavam chamando ela?
— Sim — respondeu, com a voz mais firme do que se sentia. — Estarei lá.
— Excelente. Os detalhes foram enviados por e-mail. Boa noite, senhorita Ramos.
O telefone desligou.
Por um segundo, ela ficou ali, imóvel, tentando processar. Olhou em volta, como se esperasse que alguém surgisse para confirmar que aquilo era real. Mas não havia ninguém. Só ela. E o som da chuva batendo mais forte agora.
Ela se levantou num pulo, correu até o quarto e ligou o notebook. O e-mail estava lá. Confirmação da entrevista, endereço, horário… e no final, um pequeno aviso que a fez prender a respiração:
> “O senhor Lancaster valoriza pontualidade, presença e comportamento adequado.
Venha pronta.”
Ela releu aquelas últimas duas palavras três vezes.
"Venha pronta."
Era só um aviso padrão? Ou havia algo mais ali? Um tom… diferente? O nome dele já era poderoso por si só. Arthur Lancaster. Um homem que ela só conhecia pelas revistas e notícias, mas que carregava uma aura de mistério e autoridade até nas palavras digitadas.
Júlia se afastou da tela e abriu o armário pequeno e amassado que tinha no canto do quarto. Começou a puxar peças, uma a uma. Camisas, saias, vestidos… nada parecia bom o bastante. Nada parecia altura daquilo que ela iria enfrentar.
— Não posso parecer desesperada — disse a si mesma, pegando uma camisa azul de botões e analisando contra o corpo. — Nem vulgar. Nem apagada demais.
Optou por uma combinação segura: camisa clara levemente acinturada, saia preta até o joelho, salto médio. Simples, mas apresentável. Não tinha dinheiro pra salão, então ela mesma ajeitou os fios no espelho. Prendeu em um coque frouxo, deixando alguns fios soltos que caíam emoldurando seu rosto.
Olhando-se no espelho, sussurrou como quem tenta enganar a própria insegurança:
— Você consegue. É só uma entrevista.
Mas, no fundo, sabia que não era só isso.
Sabia que algo estava prestes a mudar. E aquilo não era apenas intuição. Era instinto. O tipo de coisa que se sente na pele. Como o frio antes de uma tempestade. Como a tensão antes do toque.
Deitou-se mais tarde do que devia. O sono não vinha. O corpo estava cansado, mas a mente não parava. Pensava em como se apresentaria, como responderia às perguntas. Mas, mais do que isso… pensava nele.
Pensava em como seria encará-lo.
O homem. O dono. O lobo que mandava em tudo aquilo.
Arthur Lancaster.
Será que ele era frio como diziam? Será que ele notaria alguém como ela?
Na madrugada, enquanto o relógio marcava 02h23, ela ainda estava acordada. Mordeu o lábio e virou para o lado. Um calor estranho queimava embaixo da pele. Uma ansiedade diferente. Não só medo. Não só nervosismo. Desejo. Curiosidade. Tesão mal disfarçado.
Algo nela sabia.
Amanhã, ao olhar nos olhos dele, nada seria como antes.
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Atualizado até capítulo 112
Comments
Regina Celia
VAI PREPARADA JULIA, POIS O
SEU PATRÃO É ; GOSTOSO,TEM
UM TESAO DANADO E VC TAMBÉM NÃO FICA ATRÁS. A
QUERRA VAI SER ÓTIMA. ELE NAO PEDE,ELE ROUBA. MUITO
BOM .
2025-07-03
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Leitora compulsiva
qual será o primeiro impacto hahahhaha
2025-07-10
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