MENTIRA

O bando observava atentamente cada detalhe da cidade. O ferreiro, que estava trabalhando em sua forja, interrompeu seus afazeres para observar o grupo liderado por Blackjack com curiosidade. 

Rose, uma jovem graciosa usando um vestido azul-celeste, caminhava pelo armazém de Brooks carregando uma cesta de vime repleta de verduras frescas. Sua presença chamou a atenção imediata do grupo.

—Pelos céus, vejam só aquela visão — sussurrou Cavin, seus olhos fixos em Rose, um sorriso se formando em seus lábios. — Eeee... começo a pensar que este lugar tem seus encantos especiais.

Rose atravessou rapidamente o armazém até desaparecer de vista, enquanto Cavin continuava a admirá-la, completamente enfeitiçado pela sua beleza.

—Há algo inquietante no ar — murmurou Blackjack, sua voz baixa e pensativa.

Neste momento, o Xerife Forrest começou a se aproximar decididamente do grupo.

—O xerife está vindo em nossa direção — alertou Blackjack, mantendo sua voz calma.

O Xerife posicionou-se diante do bando, enquanto Glen, seu auxiliar, permanecia vigilante em frente à delegacia, observando cada movimento com atenção profissional.

—Sejam bem-vindos ao Refúgio, senhores — saudou o xerife, mantendo as mãos casualmente nos bolsos da calça.

—Agradecemos a recepção, xerife — respondeu Blackjack cordialmente.

—Parecem ter enfrentado algumas dificuldades em sua jornada? — indagou o xerife, seu tom revelando genuína preocupação.

—É mesmo? — questionou Blackjack, seus dedos discretamente próximos ao gatilho. — Somos vaqueiros, estávamos conduzindo um rebanho de **Chihuahua e os apache nos** emboscaram. Roubaram todo nosso gado, assassinaram alguns dos nossos homens e deixaram outros feridos. Decidimos buscar refúgio aqui. O problema é que deveríamos receber o pagamento pela entrega do gado em **Saint Paul então ficamos sem dinheiro também** — explicou Blackjack, sua voz carregando o peso da situação.

— Ora, isso não é problema. Vocês verão que Refúgio é uma cidade amigável e caridosa. Podem guardar seus cavalos, seus homens podem beber gratuitamente no bar e se hospedar no hotel — disse o xerife com um sorriso acolhedor. 

— Muito agradecido pela hospitalidade, xerife. Não é, pessoal? — respondeu Blackjack, voltando-se brevemente para seu grupo.

— Vocês podem permanecer pelo tempo necessário para curar os ferimentos e se recuperar — acrescentou o xerife com genuína preocupação.

— Xerife, poderia me informar onde fica o telégrafo? Preciso fazer contato com o proprietário do rebanho — perguntou Blackjack, mantendo um tom casual.

— Bem... — o xerife hesitou, pensativo. — Estamos um tanto atrasados nesse aspecto. Não temos telégrafo nem qualquer jornal por aqui. Na verdade, exceto pelos forasteiros ocasionais como vocês, não mantemos muito contato com o mundo exterior.

— É mesmo? — indagou Blackjack, seu tom revelando uma curiosidade calculada.

— O Delegado Glen mostrará onde podem guardar seus cavalos. O Dr. Doc cuidará dos feridos. Rose os acompanhará até o consultório do doutor. E imagino que estejam sedentos... o bar fica logo atrás de vocês — explicou o xerife, gesticulando na direção dos estabelecimentos.

— Vamos lá, pessoal, esticar as pernas — comandou Blackjack, ajustando as rédeas.

— Ah... só mais uma coisa — interrompeu o xerife.

— Pois não? — perguntou Blackjack.

— Eu agradeceria se, durante sua estadia em Refúgio, evitassem palavreado impróprio, especialmente no bar — solicitou o xerife com firmeza diplomática.

— Certamente, obrigado — assentiu Blackjack, lançando um olhar significativo para Cavin.

— Por aqui, senhores — disse Glen com visível impaciência.

Blackjack, Cavin e seu bando adentraram o estabelecimento com determinação calculada, o som metálico de suas esporas ecoando ameaçadoramente pelo piso de madeira desgastado, cada passo marcando presença como um aviso silencioso aos presentes.

A iluminação no interior era tênue e nebulosa, com raios preguiçosos de luz natural se infiltrando através das janelas parcialmente opacas, criando um jogo de sombras que dançavam pelas paredes manchadas pelo tempo.

O proprietário do estabelecimento, um homem corpulento usando um avental branco amarrotado e portando uma cicatriz profunda e irregular no queixo - lembrança de tempos mais turbulentos - interrompeu sua tarefa metódica de polir uma caneca de estanho já desgastada pelo uso.

O grupo se distribuiu pelo local com a precisão de lobos cercando sua presa, cada membro ocupando posições estratégicas que dominavam pontos cruciais do ambiente. Seus olhares vigilantes varriam o saloon constantemente, mapeando cada saída, cada ameaça em potencial.

Alguns integrantes do bando começaram a manifestar sua presença de maneira intimidadora, batendo pesadamente os copos nas mesas de carvalho, enquanto outros proclamavam em vozes carregadas de malícia: "As despesas desta noite estão sob minha responsabilidade! Vamos desfrutar abundantemente!" O burburinho de inquietação se propagou pelo estabelecimento como uma onda, causando visível desconforto aos frequentadores habituais, que começaram a se esgueirar discretamente em direção à saída, como ratos abandonando um navio que afunda.

— Como posso atendê-los, senhores? — indagou o Bartender, seu tom medido e cauteloso refletindo décadas de experiência em lidar com situações potencialmente explosivas. Suas mãos experientes e calejadas continuavam mecanicamente a limpar o balcão, num gesto que parecia mais um reflexo nervoso do que uma verdadeira preocupação com a limpeza.

Blackjack aproximou-se do balcão com a graça letal de uma serpente prestes a dar o bote, seus passos pesados ressoando no silêncio sepulcral que sua aproximação havia provocado. O rangido das tábuas do assoalho parecia amplificar a tensão no ar.

Com movimentos deliberadamente lentos e precisos, quase teatrais, retirou seu casaco empoeirado pela longa viagem e o lenço vermelho que cobria seu pescoço, revelando uma coleção de cicatrizes antigas que contavam histórias silenciosas de violência e sobrevivência. Seu olhar, duro como aço, encontrou o Bartender  ao solicitar: — Sua melhor garrafa de uísque, por favor. E aprecie-nos com sua seleção premium, não a versão comum que serve aos beberrões locais.

Enquanto o proprietário atendia ao pedido com a precisão trêmula de quem sabe que sua vida pode depender do menor erro, Cavin examinava atentamente os demais clientes, sua observação minuciosa registrando cada detalhe suspeito, cada movimento fora do comum. — Que perfil de comunidade se estabelece em uma localidade tão remota como esta? — murmurou ele, mais para si mesmo do que para os outros. — Há algo... peculiar em sua conduta. Algo que não se encaixa no padrão normal de uma cidade fronteiriça.

— Boa pergunta — murmurou Blackjack, seus olhos atentos percorrendo meticulosamente cada canto do saloon, sua expressão revelando anos de experiência em detectar ameaças ocultas. — Tem algo mais que inquietante neste lugar. A maneira como eles se movem... cada gesto parece ter sido cuidadosamente orquestrado, como atores num palco bem ensaiado.

— Devem ser melodistas — sugeriu Eurípides, sua voz reduzida a um sussurro quase inaudível enquanto se inclinava sobre a mesa, suas mãos calejadas apertando nervosamente o copo de uísque. — Durante minhas longas viagens pelo território, ouvi histórias perturbadoras sobre eles. Mantêm colônias isoladas espalhadas por toda a região, vivendo completamente apartados da civilização comum. Os rumores falam de rituais ancestrais, práticas místicas que remontam a tempos imemoriais, tradições tão antigas e obscuras que nem mesmo os mais velhos conseguem explicar sua origem.

Na entrada do consultório, de Doc Woods se projetava contra o céu alaranjado do entardecer, sua figura alta e imponente lançando uma sombra alongada pelo chão empoeirado. Seu olhar penetrante, afiado por décadas de observação, estudava a cena que se desenrolava diante dele com uma intensidade inquietante.

Ao localizar Sonny entre os presentes, Doc Woods executou um gesto sutil mas inequívoco com seus dedos longos e precisos, chamando-o para fora do estabelecimento. Ali, Rose aguardava com uma paciência estudada, sua postura aristocrática e refinada criando um contraste surreal com a rusticidade bruta do ambiente fronteiriço.

— Por favor, venha conosco — pronunciou Rose, sua voz melodiosa fluindo como seda no ar pesado do entardecer, carregando uma autoridade velada que se escondia por trás de seu sorriso aparentemente gentil, mas que não alcançava seus olhos calculistas.

Com movimentos hesitantes, Sonny ajustou seu chapéu gasto sobre a testa suada, seu corpo traindo seu nervosismo enquanto mancava em direção a eles. Sua bota direita arrastava na poeira do caminho, deixando um rastro irregular no solo, e ele parou momentaneamente para cuspir - um hábito antigo e involuntário que persistia mesmo quando não havia necessidade real.

— A senhorita tem uma cidade verdadeiramente extraordinária aqui — observou Sonny, seus olhos percorrendo as construções meticulosamente mantidas. — Em todas as minhas andanças pelo território, jamais me deparei com um lugar que se compare a este. Há uma... perfeição quase sobrenatural em cada detalhe.

Um sorriso enigmático dançou nos lábios de Rose, como uma sombra fugaz de um segredo bem guardado. Seus dedos, delgados e pálidos como porcelana, ajustaram distraidamente uma mecha rebelde que escapava de seu elaborado penteado. — Dedicamos cada momento de nossas vidas para preservar esta perfeição. Cada minúcia, cada aspecto desta cidade é... meticulosamente orquestrado segundo nossos desígnios.

— Se me permite a curiosidade — aventurou-se Sonny, sua voz traindo uma mistura de fascinação e um inexplicável desconforto que fazia sua nuca formigar —, há quanto tempo a senhorita estabeleceu residência aqui?

Os olhos cor de âmbar de Rose, profundos como poços ancestrais, fixaram-se nos dele com uma intensidade perturbadora. O sol poente pintava sombras alongadas em seu rosto, acentuando os ângulos afiados de suas feições. — Cinco anos, uma semana e dois dias — declarou ela, cada palavra pronunciada com uma precisão cirúrgica que fez Sonny estremecer involuntariamente.

— Essa... exatidão é notável — comentou ele, arqueando as sobrancelhas enquanto tentava suprimir um calafrio que serpenteava por sua espinha. O vento sussurrou entre eles, trazendo consigo o eco fantasmagórico de sinos inexistentes, uma melodia impossível que parecia emanar das próprias sombras da cidade.

Rose executou um movimento fluido com os ombros, seu vestido azul-celeste ondulando como asas etéreas na brisa crepuscular. Havia uma graciosidade estudada em cada um de seus gestos, como se cada movimento fosse uma nota cuidadosamente posicionada em uma partitura sinistra.

— Alguns podem considerar uma peculiaridade — sua voz fluía como mel envenenado —, mas aprendi a valorizar cada segundo que escorre pela ampulheta do tempo. Aqui, cada dia é... singular. Cada momento resplandece com um brilho especial, principalmente quando se tem plena consciência da finitude que nos aguarda.

— Parece que temos trabalho a fazer — interrompeu Doc Woods, sua voz grave cortando a tensão do momento como uma lâmina afiada. Com um gesto deliberado e preciso, apontou para uma construção imponente que se erguia majestosamente no final da rua, suas janelas refletindo os últimos raios do sol poente. — Por aqui, cavalheiros. O tempo não espera por ninguém, e cada segundo desperdiçado é uma oportunidade perdida.

De volta ao ambiente sufocante do bar, Blackjack permanecia mergulhado em reflexões profundas. Seus dedos calejados, marcados por anos de confrontos e cavalgas, tamborilavam ritmicamente contra o copo de uísque, criando uma cadência hipnótica que ecoava sutilmente pelo ambiente. O líquido âmbar ondulava graciosamente a cada toque, capturando e refletindo a luz mortiça das lamparinas como pequenos fragmentos de ouro líquido dançando nas sombras.

— Aquele xerife... — murmurou ele para Cavin, inclinando-se mais perto até que suas palavras fossem apenas um sussurro conspiratório no ar carregado do saloon. Seus olhos, aguçados por anos de vigilância constante, revelavam uma inquietação crescente. — Tenho certeza que já o vi antes. Em Carson City, talvez, naquela confusão com os irmãos McCullough. Ou seria em Tombstone, durante aquele incidente na mina abandonada?

— Melhor que ele não tenha te reconhecido — respondeu Cavin com uma seriedade palpável na voz, enquanto servia mais uma dose generosa no copo do companheiro. O uísque escorreu como uma cascata dourada, seu aroma rico e penetrante expandindo-se pelo espaço entre eles como uma névoa invisível, carregando consigo promessas de perigos e aventuras ainda por vir.

— Notou que ele não está armado? — questionou Blackjack, seu cenho franzido em uma expressão de profunda desconfiança enquanto seus olhos experientes, afiados como os de um falcão, continuavam a esquadrinhar metodicamente cada centímetro do ambiente. — Nem um coldre vazio sequer. Em todos meus anos nas fronteiras, jamais vi um xerife desarmado em serviço.

— O delegado também não — acrescentou Eurípides, sua voz reduzida a um murmúrio quase inaudível, como se as próprias palavras pudessem atrair atenção indesejada. Seus olhos escuros, normalmente calmos e contemplativos, agora brilhavam com uma preocupação latente que não conseguia disfarçar. — Na verdade, percorri cada rua desta cidade peculiar, cada beco e estabelecimento, e não avistei uma única arma. Nem mesmo um rifle velho e enferrujado pendurado sobre uma lareira, como é costume em praticamente toda residência fronteiriça.

Um sorriso malicioso, carregado de intenções obscuras, começou a se formar lentamente nos lábios de Blackjack enquanto ele trocava olhares significativos com Cavin. As sombras inquietas projetadas pelas lamparinas dançavam sobre seus rostos como espíritos atormentados, suas silhuetas distorcidas se contorcendo nas paredes do estabelecimento como marionetes em uma dança macabra. A luz trêmula transformava suas expressões em máscaras sinistras que pareciam pulsar com vida própria na penumbra sufocante.

— Pensando o mesmo que eu, parceiro? — indagou Cavin, sua voz baixa e rouca como o rugido distante de um trovão. Um brilho perigoso cintilava em seus olhos, semelhante a relâmpagos que cortam o céu numa noite de tempestade, prenunciando a chegada de algo muito maior e mais devastador do que qualquer tormenta natural.

Em resposta, Blackjack ergueu seu copo com uma deliberação estudada, observando por um momento como o uísque capturava e refletia a luz mortiça das lamparinas. Com um movimento fluido, virou a bebida de uma vez, saboreando o ardor familiar que descia por sua garganta como um rio de fogo líquido. Seus olhos, agora, brilhavam com uma intensidade febril, como brasas incandescentes numa noite sem lua, refletindo os contornos de um plano que começava a tomar forma em sua mente.

O esquema se desenvolvia em sua consciência com a precisão de um relógio bem regulado, cada engrenagem se encaixando perfeitamente com a próxima, tão claro e inevitável quanto o crepúsculo que tingia o céu lá fora com tons de sangue e ouro.

Horas mais tarde, Sonny encontrava-se deitado na cama do consultório, seu rosto marcado por uma expressão de dor contida que ele tentava, sem muito sucesso, dissimular. As tábuas do assoalho rangiam suavemente sob o peso dos passos metódicos de Doc Woods, que se movimentava pelo ambiente com a familiaridade de anos de prática.

— Vamos cuidar desse ferimento agora, filho — pronunciou Doc Woods, sua voz emanando uma calma profissional que parecia pairar no ar como um bálsamo invisível, contrastando com a tensão palpável que permeava o ambiente.

— Acho que foi só de raspão — murmurou Sonny através dos dentes cerrados, numa tentativa vã de minimizar a gravidade do ferimento que o afligia. Gotas de suor brilhavam em sua testa como pequenos diamantes sob a luz amarelada do consultório. Doc Woods, com a precisão de um artesão dedicado a seu ofício, limpou as mãos metodicamente em um pano branco imaculado, cada movimento calculado e deliberado. Inclinou-se então para examinar o ferimento, seus olhos experientes esquadrinhando cada detalhe com atenção minuciosa. — Deixa eu te dizer o que foi. Você teve sorte, rapaz. Muita sorte. O tipo de sorte que não costuma visitar estas paragens com frequência.

— Sorte não é algo que me acompanha muito — respondeu Sonny, um sorriso amargo contorcendo seus lábios ressecados, sua voz carregando o peso de incontáveis desventuras passadas.

— Perdeu só um pouco de gordura — diagnosticou Doc Woods após um momento de análise silenciosa, seus olhos experientes avaliando o dano com a precisão de quem já viu de tudo um pouco nesta vida dura da fronteira.

Rose aproximou-se silenciosamente com uma bacia de água limpa, seus passos suaves mal fazendo barulho no assoalho de madeira.

Sonny não conseguia desviar os olhos de Doc Woods, que ajustava seus óculos de grau e parecia determinado a evitar seu olhar inquisitivo. O silêncio entre eles cresceu, pesado de perguntas não feitas, até que Doc Woods finalmente cedeu.

— Por que está me olhando assim, rapaz? — perguntou ele, finalmente encarando Sonny.

— O senhor já esteve em Wister? — a pergunta saiu quase como um sussurro.

Doc hesitou por um momento. — Por quê? Você é de lá?

Rose permaneceu imóvel, observando a cena com interesse velado, enquanto segurava a bacia d'água.

— Sou sim. Minha mãe tem uma fazenda nas redondezas. O senhor deve conhecer a região — insistiu Sonny, seus olhos buscando reconhecimento no rosto do médico.

Doc Woods preparava a agulha e linha com movimentos precisos, evitando novamente o olhar do paciente. — Passei por lá uma vez, há muito tempo. Antes mesmo de você nascer.

Um grito agudo escapou dos lábios de Sonny quando a agulha perfurou sua pele, fazendo Rose se sobressaltar.

Mais tarde, já vestido e caminhando ao lado de Rose, Sonny se viu submetido a um interrogatório diferente.

— Quantos homens você já matou? — a pergunta de Rose cortou o ar como uma faca.

Sonny parou por um momento, desconcertado. — Por que me faz uma pergunta dessas?

— Seu chefe afirmou que vocês são vaqueiros, não é mesmo? — continuou ela, sua voz carregada de ceticismo.

— É o que somos — respondeu ele, tentando manter a compostura.

— E disse que índios roubaram seu gado — prosseguiu Rose, seus olhos penetrantes fixos nele.

— Foi o que ele disse — confirmou Sonny, sentindo-se cada vez mais desconfortável.

— Interessante... Roubaram suas cordas também? — perguntou ela, com um tom que misturava ironia e acusação.

— Cordas? — Sonny repetiu, sua voz traindo sua confusão.

—É estou vendo seu cavalos só tem duas ou três cordas, nenhum ferro de marcar, os vaqueiros não usa muitas cordas, — fala Rose, seu tom revelando uma mistura de desconfiança e astúcia.

Rose se aproximou com passos tão delicados que mal ecoavam pelo assoalho, carregando uma bacia de água limpa com a graça e elegância de uma dama da alta sociedade. Sua presença, embora silenciosa, emanava uma aura de inteligência perspicaz, seus olhos atentos captando cada nuance da interação entre Sonny e Doc Woods, como um felino estudando sua presa.

A atmosfera no consultório estava carregada de uma tensão quase palpável, espessa como névoa numa manhã de inverno. Sonny, incansável em sua busca por respostas, continuava a tecer uma teia de perguntas sobre Wister, cada palavra pronunciada com uma curiosidade que beirava a obsessão. Doc Woods, por sua vez, demonstrava a habilidade de um político experiente ao desviar das indagações, suas respostas calculadamente vagas deixando no ar o aroma inconfundível de segredos enterrados há muito tempo.

O encontro posterior entre Rose e Sonny revelou uma dimensão ainda mais intrigante de sua personalidade. Como uma investigadora nata, ela dissecou metodicamente a história do suposto vaqueiro, suas perguntas precisas e observações meticulosas sobre a ausência de equipamentos essenciais servindo como um bisturi afiado que expunha as inconsistências na narrativa dele. Sua voz, melodiosa mas firme, carregava um tom de desconfiança refinada, revelando uma mulher que havia aprendido a enxergar além das aparências numa terra onde mentiras eram tão comuns quanto poeira no vento.

— Você faz muitas perguntas para alguém que acabou de me conhecer — respondeu Sonny, sua voz traindo uma defensividade que se misturava com uma pontada de admiração relutante pela astúcia dela.

Rose girou em sua direção com a graciosidade de uma dançarina, seus olhos penetrantes esquadrinhando cada linha do rosto dele como se pudesse ler os segredos escritos em sua alma. — E você guarda muitos segredos para alguém que alega ser apenas um vaqueiro comum — retrucou ela, cada palavra pesada de significado como gotas de chuva antes de uma tempestade.

— Acho melhor você voltar para junto de seus... companheiros agora — pronunciou ela, a pausa antes da última palavra carregando mais significado que um livro inteiro de acusações, sua ironia tão afiada quanto uma navalha recém-amolada.

Sonny permaneceu imóvel, observando enquanto a silhueta elegante de Rose se dissolvia gradualmente na luz dourada do entardecer, como um espectro fugindo da realidade. O peso em seu coração parecia ter aumentado exponencialmente, e quando finalmente encontrou sua voz, era apenas um sussurro rouco destinado ao vento impiedoso do oeste: — Eu só matei um homem em toda minha vida... e foi porque ele mesmo implorou pela morte — confessou ele, as palavras carregando o peso de mil noites insones e um milhão de arrependimentos.

O vento noturno carregou aquela confissão para longe, deixando apenas o eco vazio de suas palavras pairando no ar. Seus olhos, fixos no horizonte onde Rose havia desaparecido, refletiam o brilho moribundo do sol poente, como se naquele momento preciso todo o peso de seu passado convergisse em um único ponto de sua consciência. O chapéu pendia frouxo em sua mão, enquanto seus dedos traçavam distraidamente a borda gasta do couro, um gesto mecânico que parecia ancorar sua mente ao presente, impedindo-a de mergulhar completamente nas profundezas sombrias de suas memórias.

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Comments

Beerus

Beerus

😍😍 Simplesmente apaixonada por este livro! 😍😍

2025-06-28

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