O bando cavalga velozmente através da vasta e inclemente paisagem do deserto mexicano, seus cavalos deixando rastros profundos na areia enquanto se distanciam com maestria do grupo de soldados que os persegue.
A excepcional habilidade dos bandidos em navegar pelo terreno traiçoeiro lhes confere uma vantagem significativa, permitindo que aumentem progressivamente a distância entre eles e seus perseguidores, cujos gritos de frustração vão se perdendo como sussurros distantes no vento ardente do deserto.
O estrondo dos cascos dos cavalos ressoa como uma sinfonia tempestuosa pelo terreno acidentado, enquanto uma densa cortina de poeira se ergue em seu rastro, tecendo um véu dourado contra o firmamento implacável do deserto. O ar vibra com a intensidade de sua passagem, cada impacto dos cascos conta uma história de fuga e sobrevivência.
A cavalgada se estende por horas intermináveis, transformando-se em uma verdadeira odisseia pelo deserto, com Sonny carregando o fardo adicional de Badger ferido em sua garupa. Cada solavanco do terreno irregular arranca gemidos abafados do homem machucado, sons que parecem ecoar pela vastidão desolada como lamentos fantasmagóricos.
O sangue vital do companheiro encharca sua camisa, antes imaculadamente clara, agora transformada em um terrível testemunho de sua provação. O líquido escarlate pinga incessantemente, deixando um rastro carmesim sobre o chão empoeirado, como um macabro mapa de sua fuga desesperada, cada gota marcando mais um momento de sua jornada rumo à sobrevivência ou à perdição.
Sonny contempla a cena com o coração pesado como chumbo derretido, sua humanidade ainda pulsante e dolorosamente viva criando um contraste devastador com a frieza calculista que observa nos olhos de seus companheiros. Cada um deles, endurecido pelos anos de vida criminosa, parece ter perdido aquela última centelha de compaixão que os diferenciava das feras do deserto.
Durante uma breve parada para recuperar o fôlego, enquanto os cavalos exaustos bufam pesadamente e grossas gotas de suor escorrem pelos rostos empoeirados dos bandidos, Blackjack, sua autoridade incontestável forjada através de incontáveis atos de sangue e violência, ergue-se sobre sua montaria como uma sombra ameaçadora. Com uma voz grave que parece emergir das próprias profundezas do deserto, ele comanda:
— Entregue a bolsa para o Daen imediatamente! — ordenou Blackjack, sua voz grave reverberando pelo ar do deserto como um trovão distante. Seus olhos escuros, duros como obsidiana polida, brilhavam com uma autoridade absoluta que fazia até mesmo os veteranos do bando estremecerem. — E faça isso agora, antes que minha limitada paciência se esgote completamente.
— Algo saiu errado durante o assalto? — questiona Sonny, sua voz vacilante denunciando não apenas preocupação, mas também sua flagrante inexperiência no submundo do crime, como um cordeiro perdido entre lobos.
Um sorriso cruel se desenha nos lábios ressecados de Blackjack, as rachaduras em sua pele curtida pelo sol parecendo cicatrizes antigas que contavam histórias de violência. Sua resposta vem carregada de uma diversão sádica que faz o ar parecer ainda mais pesado:
— Absolutamente nada deu errado, meu querido irmãozinho. Na verdade, tudo correu com uma perfeição quase poética. — Virando-se para seu lugar-tenente, questiona: — Max, relate a situação dos outros.
— A situação não é das melhores, chefe — Max responde, enquanto passa a manga enluvada pela testa encharcada de suor, seus olhos experientes nunca cessando sua vigilância do horizonte ondulante. — Temos dois homens gravemente feridos, Mark entre eles. O restante do grupo... — ele hesita momentaneamente — perdemos contato durante o caos do tiroteio, quando fomos forçados a nos dispersar.
A expressão de Blackjack endurece como argila secando ao sol, seus olhos escuros assumindo um brilho ainda mais ameaçador. O ar ao seu redor parece condensar com a intensidade de sua presença, fazendo até os mais durões do grupo se remexerem inquietos em suas selas:
A cena que se segue é dolorosamente lenta: Badger, lutando contra a dor que parece consumir cada fibra de seu ser, desliza da garupa do cavalo de Sonny com movimentos tortuosos. Cada gesto seu é uma batalha contra a agonia, cada respiração um exercício de pura força de vontade. Com a ajuda gentil e paciente de Sonny, ele consegue, por fim, montar em seu próprio cavalo. Seus dedos tremem violentamente ao agarrar as rédeas, enquanto gotas de suor frio desenham trilhas pela palidez mortal de seu rosto.
— Prestem muita atenção, todos vocês! — a voz de Blackjack explode como uma tempestade no deserto, cada palavra carregada com o peso de uma sentença final. — O que nos aguarda é uma jornada que testará cada um até seu limite. E sejamos realistas: alguns de vocês — seus olhos pousam significativamente sobre os feridos — não verão o fim desta trilha. É assim que funciona no deserto, meus amigos. Esta vastidão implacável não conhece piedade, não aceita desculpas, e certamente não espera pelos fracos ou pelos feridos.
— Posso cavalgar, Blackjack. Não... não se preocupe comigo — insiste Badger entre gemidos lancinantes de dor, seu rosto pálido como a lua do deserto, gotas de suor frio escorrendo incessantemente por sua testa febril. Seus dedos trêmulos agarram-se às rédeas com uma determinação nascida do desespero, enquanto cada respiração parece custar-lhe um esforço sobre-humano.
— Quem conseguir me acompanhar vai me ver em Chihuahua. O resto — Blackjack faz uma pausa dramática, seus olhos percorrendo cada rosto do grupo com um brilho cruel que faz até mesmo os mais experientes bandidos estremecerem imperceptivelmente — vai me ver no inferno. E garanto que será mais cedo do que tarde. — Sua voz ressoa pelo deserto como um presságio sombrio, carregando consigo o peso de uma sentença irrevogável.
A jornada prossegue impiedosamente sob o sol escaldante, que parece querer derreter até mesmo as pedras sob os cascos dos cavalos. Badger enfraquece visivelmente a cada solavanco do cavalo, seu corpo tremendo violentamente com o esforço sobre-humano de se manter na sela. O sangue continua a escorrer de seu ferimento, manchando a lateral do animal com um vermelho escuro e viscoso. Sonny, em uma tentativa desesperada de ajudar seu companheiro moribundo, pede com voz suave, quase paternal:
— Badger, me passa as rédeas. Segura firme na sela, amigo. Vamos conseguir. Não vou te abandonar. — Suas palavras carregam uma promessa que ele sabe, no fundo de sua alma jovem, que pode não ser capaz de cumprir.
Blackjack, exibindo seu característico sorriso gélido que nunca alcança seus olhos de obsidiana, revela toda sua crueldade ao ordenar que abandonem o homem ferido à própria sorte e prossigam com a fuga. Sua voz corta o ar quente do deserto como uma navalha envenenada, fazendo até mesmo os abutres que os seguiam estremecerem. O ar ao seu redor parece condensar com a intensidade de sua presença maligna, como se a própria atmosfera respondesse à sua natureza impiedosa.
— Vamos cavalgar pela noite! Em frente! Não há tempo para fraquezas! — brada Blackjack, cravando as esporas com força brutal em seu cavalo negro como a própria noite, arrancando um relincho agudo e doloroso do animal. O som ecoa pela vastidão do deserto como um grito de guerra, anunciando a todos que o destino dos fracos já estava selado.
— Isso mesmo! Somos a gangue de Blackjack! Não vamos nos render! Iruuuui! — exclama Cavin com um entusiasmo quase febril, erguendo seu chapéu empoeirado ao céu implacável. Seus olhos brilham com uma mistura perturbadora de excitação e loucura, enquanto seu gesto de desafio parece uma afronta aos próprios deuses do deserto, que observam silenciosamente sua passagem temerária através daquelas terras selvagens.
Na escuridão sufocante da noite mexicana, o grupo continua sua marcha implacável. Sonny mantém-se próximo a Badger, seus dedos embranquecidos de tanto apertar as rédeas ásperas de couro envelhecido. O jovem bandido divide sua atenção entre guiar sua própria montaria e auxiliar seu companheiro ferido, enquanto trava uma batalha silenciosa contra as lágrimas que ameaçam denunciar sua fraqueza. Cada segundo que escoa na ampulheta do tempo diminui inexoravelmente as chances de sobrevivência de seu amigo, uma realidade cruel que pesa em seu peito como chumbo derretido.
Badger, outrora um homem robusto e cheio de vida, agora não passa de uma sombra atormentada pela dor.
Consumido por uma sede tão devastadora que transforma sua garganta em papel-lixa, seu cantil há muito se encontra vazio como as promessas do deserto. Seus lábios, rachados e manchados de sangue ressequido, movem-se numa prece silenciosa e desesperada. Seus olhos, já vidrados pela febre que consome seu corpo, fixam-se obstinadamente no horizonte distante, onde os primeiros sinais da aurora começam a tingir o céu com tons ominosos de vermelho-sangue, como um presságio de seu destino inevitável.
A chegada do sol é uma bênção ambígua. Seus dedos escarlates pintam o firmamento com cores dramáticas, oferecendo luz mas trazendo consigo a promessa de um calor impiedoso. O grupo prossegue sua jornada por uma estrada estreita e traiçoeira, onde cada metro é conquistado com sacrifício e determinação. O calor brutal do deserto mexicano castiga seus corpos exaustos sem misericórdia, criando ondas de calor que distorcem a paisagem à sua frente. O ar, denso e sufocante como o hálito de um dragão, parece derreter até mesmo as pedras antigas sob os cascos incansáveis dos cavalos, transformando cada respiração numa pequena batalha pela sobrevivência neste inferno terrestre.
O estado de Badger piora a cada légua percorrida, seu corpo balançando perigosamente sobre a sela como uma folha ao vento. Consumido por uma sede tão devastadora que transforma sua garganta em papel-lixa, seu cantil há muito se encontra vazio como as promessas do deserto. Seus lábios, rachados e manchados de sangue ressequido, movem-se numa prece muda e desesperada, as palavras perdidas no vento impiedoso que açoita seus rostos. Seus olhos, já vidrados pela febre que consome seu corpo e pela dor que corrói suas entranhas, fixam-se no horizonte distante com uma determinação agonizante, onde o primeiro rubor da aurora começa a tingir o céu com tons de vermelho-sangue, como se o próprio firmamento chorasse lágrimas escarlates por seu destino inevitável.
O amanhecer finalmente chega como um espetáculo cruel, seus dedos escarlates pintando o firmamento em tons sangrentos que parecem zombar de sua provação interminável. O grupo prossegue sua jornada implacável por uma trilha estreita e traiçoeira que serpenteia através da paisagem desolada, cada metro conquistado com sacrifício e determinação sobre-humana. O calor brutal do deserto mexicano castiga seus corpos exaustos sem um momento de trégua, o ar tão denso e sufocante que parece derreter até mesmo as pedras milenares sob os cascos incansáveis dos cavalos, transformando cada respiração numa pequena batalha pela sobrevivência neste purgatório terrestre.
Bedger, seu rosto uma máscara contorcida de agonia indescritível, pressiona o ferimento que continua a sangrar incessantemente como uma fonte maldita. Suas mãos, que antes dominavam as rédeas com a firmeza de um veterano cavaleiro, agora tremem violentamente enquanto ele trava uma batalha perdida contra a escuridão que ameaça engolir sua consciência como um poço sem fundo. O sangue escorre inexoravelmente entre seus dedos nodosos, manchando sua camisa já encharcada num vermelho tão escuro que parece negro sob a luz impiedosa do sol nascente.
A batalha final contra a morte se desenrola num instante de cruel clareza. Como uma marionete cujos fios são cortados pela foice impiedosa do destino, seu corpo finalmente cede à exaustão absoluta que o consome. Ele despenca do cavalo num arco grotesco, seu corpo girando no ar como uma folha seca ao vento antes de colidir violentamente contra o solo árido e implacável do deserto. O impacto arranca de sua garganta ressequida um grito abafado de dor que ecoa pela vastidão desolada como o último lamento de uma alma atormentada.
— Badger caiu! — o grito desesperado de Sonny rasga o ar como uma lâmina afiada, carregando em suas notas todo o horror e desespero de um jovem confrontado com a brutalidade da vida.
Ele praticamente se joga do cavalo num movimento descoordenado de pânico, suas botas empoeiradas tropeçando desajeitadamente na pressa frenética de alcançar o companheiro caído. A poeira do deserto levanta em pequenas nuvens douradas sob seus pés enquanto ele corre desesperadamente, o coração martelando no peito como um tambor de guerra.
Com uma voz que não passa de um sopro rouco arrancado das profundezas de sua alma agonizante, Bendeger consegue apenas murmurar palavras que carregam o peso de sua própria mortalidade: — Acho que chegou meu fim, parceiro. — Suas palavras saem entrecortadas e trêmulas, cada sílaba custando um esforço imenso, como se cada letra fosse uma pequena morte em si mesma, um último suspiro de resistência contra o inevitável.
Os olhos de Sonny, ardendo com lágrimas contidas que ameaçam transbordar a qualquer momento, vagueiam desesperadamente pelo rosto endurecido de Blackjack. Em seu peito jovem e ainda não corrompido pela crueldade do mundo, pulsa uma última e teimosa esperança - a crença quase infantil de que seu irmão, aquele mesmo que um dia compartilhou com ele momentos de ternura fraternal, possa manifestar um único lampejo de compaixão, um breve instante de humanidade em meio ao cenário brutal que os cerca.
— É o que parece — a resposta de Blackjack vem como uma sentença de morte, suas palavras carregadas de uma frieza tão cortante que parecem capazes de congelar as próprias areias do deserto impiedoso. Seus olhos, negros e impenetráveis como obsidiana recém-polida, não demonstram sequer um vestígio da bondade que um dia habitou sua alma.
— Me faça um último favor, Jack — implora Badger, sua voz trêmula carregando uma dignidade surpreendente diante da morte iminente. Seus olhos, já embaçados pela proximidade do fim e turvos pela dor que corrói seu corpo, fixam-se em Blackjack com uma súplica silenciosa que ecoa mais alto que qualquer palavra. — Termine logo com isso. — As palavras escapam de seus lábios ressecados e rachados enquanto a vida escorre inexoravelmente por entre seus dedos, como grãos de areia numa ampulheta impiedosa, marcando com cruel precisão seus momentos finais neste mundo selvagem e sem misericórdia.
O líder do bando deixa escapar uma risada que arrepia a espinha - um som cruel e prolongado que ecoa pela paisagem desolada como o uivo faminto de um coiote solitário. É um som tão perturbador, tão desprovido de qualquer traço de humanidade, que até mesmo os corvos que circundam a cena levantam voo das árvores ressequidas em pânico, suas asas negras como presságios de morte cortando o céu alaranjado do entardecer moribundo.
— Não vou desperdiçar nem uma gota de munição com você — declara Blackjack, cada palavra destilando um desdém tão absoluto que parece envenenar o próprio ar ao seu redor. Seus olhos, mais frios e impiedosos que pedras no leito de um rio congelado, não demonstram nem mesmo o mais ínfimo traço de remorso ou compaixão. Com um movimento deliberadamente casual, ele vira as costas para o moribundo, tratando-o com a mesma indiferença que demonstraria por uma pedra insignificante em seu caminho. A poeira do deserto dança um balé macabro sob suas botas manchadas de sangue, como se até mesmo a terra protestasse silenciosamente contra tamanha demonstração de crueldade.
— Cavin... por favor — murmura Badger, sua voz não mais que um suspiro agonizante carregado de súplica e dor. Seus olhos febris, embaçados pela proximidade da morte, buscam desesperadamente um último lampejo de compaixão no rosto do antigo companheiro, como um náufrago procurando um farol na escuridão tempestuosa.
Mas Cavin também se afasta, seus ombros curvados sob o peso invisível da traição. O ranger de suas botas na areia escaldante parece ecoar a dureza de sua decisão, enquanto ele ignora deliberadamente o pedido do moribundo, tratando as palavras suplicantes como meros grãos de areia levados pelo vento impiedoso do deserto.
— Precisamos continuar, Badger! — sentencia Blackjack, sua voz cortante como uma navalha recém-afiada atravessando o ar denso e sufocante do deserto. Cada palavra que escapa de seus lábios ressecados carrega o peso inexorável de uma sentença de morte, ecoando pela vastidão desolada como o último dobre de um sino fúnebre.
Um calafrio gelado serpenteia pela espinha de Sonny enquanto ele observa seu irmão, agora uma figura irreconhecível em sua crueldade desmedida. As palavras de Blackjack caem sobre ele como estilhaços de gelo, penetrando fundo em suas veias e congelando seu sangue, uma dolorosa lembrança de como o homem que um dia chamou de família se transformou em algo tão desumano e venenoso quanto as serpentes que se arrastam silenciosamente pela areia escaldante do deserto.
— Vai deixá-lo aqui assim? Para morrer como um animal abandonado? — questiona Sonny, sua voz jovem tremendo com uma mistura explosiva de indignação, descrença e horror. Suas mãos se fecham em punhos impotentes ao lado do corpo, os nós dos dedos embranquecendo com a força de sua contenção, enquanto seu coração parece querer explodir dentro do peito com a injustiça da situação.
— O que pretende fazer, garoto? Carregar um homem morto através do deserto inteiro? — desafia Blackjack, um sorriso cruel dançando em seus lábios ressecados como uma cobra traiçoeira prestes a dar o bote. Seus olhos negros, vazios de qualquer humanidade, refletem apenas o abismo sem fim de uma alma há muito corrompida pela violência e pela ganância, brilhando com uma malícia que parece sugar toda a luz ao seu redor.
— Ao menos espere até... — Sonny tenta argumentar, sua voz embargada pela emoção transbordante que ameaça romper as comportas de sua compostura. As palavras escapam entrecortadas de sua garganta apertada, carregadas de uma súplica desesperada que ecoa pela vastidão do deserto como o último grito de clemência de uma alma ainda não completamente corrompida pela brutalidade do mundo que o cerca.
— Até o quê? Até o pelotão nos alcançar e nos enforcar um por um como cães sarnentos? — vocifera Blackjack, sua voz cortando o ar como uma navalha envenenada. Seus olhos, mais negros e profundos que o abismo de sua própria alma corrompida, faíscam com uma crueldade calculada. — Se quer fazer uma oração, Bedger, sugiro que comece agora mesmo. O inferno está impaciente para receber mais um convidado.
— Adeus — pronuncia Badger, sua voz rouca e exausta carregando uma dignidade surpreendente. Mesmo à beira da morte, seu rosto machucado e ensanguentado parece irradiar uma serenidade quase angelical, um último lampejo de humanidade que brilha em meio à escuridão que os cerca como um farol solitário em uma noite tempestuosa.
O silêncio que se segue é tão denso que parece ter peso próprio, sufocante como o ar antes de uma tempestade no deserto. Os murmúrios urgentes se espalham entre os bandidos como cobras rastejantes: "Vamos embora, vamos logo!" As vozes nervosas ricocheteiam pelas paredes do canyon enquanto os cavaleiros se agitam em suas montarias, seus movimentos frenéticos lembrando uma revoada de corvos famintos circundando sua próxima refeição.
— Não seja tolo, vá com eles, garoto — sussurra Bendeger, cada palavra escapando de seus lábios como grãos de areia em uma ampulheta quase vazia. Sua voz, agora não mais que um sopro frágil como a última brisa do entardecer, carrega o peso de mil arrependimentos. — Não há salvação para mim agora. O destino já traçou seu caminho com tinta vermelha, e nem todo o arrependimento do mundo pode apagar essas marcas.
— Isso não está certo. Não podemos... não posso... — a voz de Sonny falha, quebrando-se como um cristal delicado ao encontrar o chão. Suas palavras saem entrecortadas por uma emoção tão pura e devastadora que parece capaz de fazer até mesmo as pedras chorarem. Em cada sílaba hesitante ecoa a morte de sua inocência, como o último canto de um pássaro antes do inverno eterno.
— Poucas coisas na vida são como nos folhetins que você carrega debaixo do braço, meu jovem — pronuncia Badger, sua voz carregada de uma sabedoria amarga. — A realidade tem garras mais afiadas que qualquer história impressa naquelas páginas amareladas pelo tempo. Mas há uma solução rápida para todo esse sofrimento — suas palavras saem entrecortadas pela dor, enquanto ele guia a mão trêmula de Sonny até sua arma com uma gentileza surpreendente. Seus dedos, manchados de sangue ainda fresco, deixam marcas escuras na pele imaculada do rapaz, como hieróglifos sombrios contando uma história de morte e perda.
— Nunca... nunca atirei em ninguém antes — confessa Sonny, sua voz não mais que um sussurro quebrado enquanto saca a pistola com mãos inexperientes. O tremor em suas palavras revela o peso esmagador daquele momento. Seus olhos verdes, ainda brilhantes com o fulgor da juventude, encontram os do homem ferido numa mistura devastadora de terror e compaixão. Naquele olhar compartilhado, reflete-se não apenas o fim de uma vida, mas o término abrupto de toda inocência que ainda restava em sua alma jovem.
Com um último resquício de força, Badger ergue suas mãos ensanguentadas para cobrir as de Sonny, que tremem violentamente ao segurar o revólver. O contraste entre os dedos ásperos e calejados do bandido moribundo e a pele suave do jovem conta sua própria história silenciosa - uma parábola cruel sobre o encontro brutal entre a inocência e a dura realidade do mundo em que vivem. Cada cicatriz nas mãos do bandido parece sussurrar advertências sobre o caminho sem volta que Sonny está prestes a trilhar.
O peso daquela decisão impossível desaba sobre Sonny como uma avalanche implacável - um ato de misericórdia que marcaria sua alma com uma cicatriz indelével. O metal frio da arma em suas mãos parece queimar como gelo, um lembrete físico do fardo moral que carregaria para sempre. Cada segundo que passa parece eternidade, enquanto o jovem luta contra o turbilhão de emoções que ameaça consumi-lo por completo.
Suas mãos tremem incontrolavelmente ao erguer a arma, o metal frio contrastando com o suor quente que escorre por entre seus dedos como lágrimas silenciosas. O peso daquele momento esmaga não apenas seus ombros, mas toda sua juventude e inocência, como uma avalanche implacável destruindo tudo o que um dia foi puro em sua alma. O ar ao seu redor parece densificar-se, carregado com o peso de mil futuros diferentes que morreriam com o apertar de um gatilho.
A tensão em seu rosto jovem conta uma história silenciosa de angústia e hesitação - cada músculo contraído revela um conflito interno devastador, cada gota de suor escorrendo por sua testa marca o peso insuportável da decisão, cada respiração entrecortada desvenda o tormento que dilacera seu espírito juvenil. Em seus olhos, antes repletos de sonhos e esperança inocente, agora se encontram poços profundos de um conflito moral que nenhum jovem deveria carregar, refletindo o abismo entre a pureza da juventude e a brutalidade do mundo que o cerca.
O suor escorre abundantemente por sua testa, formando pequenos riachos salgados que traçam caminhos tortuosos por sua face pálida. Seus olhos verdes, ainda preservando um último e precioso vestígio de pureza, encontram o olhar resignado de Badger com uma intensidade que transcende palavras. Naquele momento singular e irreversível, o tempo parece congelar, como se o próprio deserto, em sua vastidão implacável, prendesse a respiração diante do inevitável que se aproxima.
Em um momento de vulnerabilidade absoluta que desnuda sua verdadeira essência, sua voz falha e treme ao admitir sua inocência - suas mãos, ainda livres do peso da morte, jamais haviam tirado uma vida, jamais haviam carregado o fardo inexorável dessa decisão final. As palavras escapam de seus lábios trêmulos como fragmentos de cristal quebrado, entrecortadas por soluços contidos que ecoam pela vastidão infinita do deserto, uma confissão dolorosa que ressoa como um lamento ancestral.
O tiro de misericórdia que se aproxima inexoravelmente não representaria apenas o fim da vida de Badger, mas marcaria também o término abrupto e irreversível da inocência de Sonny - sua iniciação forçada e brutal no mundo sombrio e implacável do crime. Cada segundo que passa é como uma ampulheta cruel, derramando impiedosamente os últimos e preciosos grãos de sua juventude perdida, enquanto o destino tece sua teia inexorável ao redor deles.
Quando finalmente o estampido fatal ecoa pela paisagem desolada, o som atravessa o ar como um trovão solitário rasgando violentamente o céu em um dia claro. O disparo ressoa com uma potência tão definitiva e irrevogável que até mesmo os pássaros, testemunhas silenciosas daquele momento trágico, cessam seu canto, como se a própria natureza, em sua sabedoria antiga, prestasse uma última e solene homenagem ao momento em que a inocência sucumbe diante da realidade implacável.
O grupo para bruscamente, como se atingido por uma força invisível, e o silêncio que se segue é mais que meramente ensurdecedor - é opressivo e sufocante, carregado com o peso esmagador de mil palavras não ditas, de mil futuros que jamais serão realizados. Cavin desmonta com movimentos pesados e deliberados, cada passo ecoando como um tributo fúnebre enquanto caminha até onde Sonny permanece petrificado, transformado em uma estátua de carne e osso ao lado do corpo ainda quente de Badger. A arma em suas mãos trêmulas continua a fumegar suavemente, liberando finas espirais de fumaça que dançam no ar parado, enquanto o cheiro acre da pólvora se mistura inexoravelmente com o aroma metálico e penetrante do sangue e da morte, criando uma sinfonia olfativa que jamais abandonará sua memória.
— Talvez você valha alguma coisa afinal, garoto — pronuncia Cavin, sua voz áspera carregando um tom quase paternal que contrasta com a brutalidade do momento. Seus olhos, normalmente duros e impiedosos como as próprias rochas do deserto, revelam um lampejo fugaz de compaixão, como um relâmpago distante em uma noite escura. Há algo em sua expressão que sugere um reconhecimento profundo, talvez uma lembrança de sua própria iniciação no mundo do crime.
— Quero ir para casa — murmura Sonny, sua voz embargada e trêmula como uma folha ao vento. O peso esmagador daquela primeira morte marca sua alma como um ferro em brasa, uma cicatriz invisível que jamais se apagará. Seus olhos verdes, antes brilhantes de juventude, agora vagam pelo horizonte infinito do deserto, buscando desesperadamente uma saída deste pesadelo, uma forma impossível de voltar no tempo e recuperar a inocência que acabara de sacrificar no altar da sobrevivência.
— É tarde demais para arrependimentos, garoto — responde Cavin com uma firmeza que ecoa como trovão distante. Sua voz carrega o peso da experiência, cada palavra tingida com a amargura de quem já percorreu esse mesmo caminho sem volta. — O passado já ficou para trás, enterrado nestas areias junto com tantos outros sonhos e esperanças. Como as pegadas que deixamos na areia, serão logo apagadas pelo vento implacável do tempo. Precisamos continuar. — Sua mão pesada pousa no ombro do jovem como uma âncora, prendendo-o firmemente a esta nova e brutal realidade.
O momento de reflexão é brutalmente dilacerado quando a voz de Blackjack corta o ar como uma navalha recém-afiada, seu tom urgente carregado com o peso de uma ameaça iminente. O silêncio contemplativo se estilhaça como um espelho atingido por uma pedra.
— Escutem! — sua expressão se contorce em um alerta visceral, os músculos de seu rosto tenso desenhando um mapa de sombras ameaçadoras sob o sol inclemente do deserto. Seus olhos, aguçados por anos de sobrevivência, vasculham o horizonte com a precisão de um falcão. — Eles estão vindo!
O som de tiros explode pela paisagem árida como uma sinfonia mortal, estilhaçando o silêncio do deserto em mil pedaços. Uma bala passa raspando pelo rosto de Sonny com a velocidade de uma víbora atacando, deixando um rastro ardente em sua bochecha jovem. O cheiro acre de pólvora queimada invade suas narinas como uma onda sufocante, misturando-se perversamente com o aroma metálico do sangue ainda fresco de Badger, uma lembrança cruel de sua recente perda de inocência.
— Sonny! Pelo amor de Deus, mexa-se, rápido! — brada Cavin, sua voz rouca de desespero ecoando pelo canyon como um trovão aprisionado entre as paredes rochosas. Ele esporeia seu cavalo com força brutal, fazendo o animal relinchar em protesto agudo, um som que se mistura à cacofonia crescente da perseguição que se aproxima inexoravelmente.
A patrulha se aproxima velozmente, uma nuvem de poeira e morte avançando sem misericórdia. Os cascos dos cavalos trovejam contra o solo ressequido, cada impacto marcando a diminuição da distância entre caçadores e presas.
Os disparos não cessam, criando um concerto diabólico de estampidos e ricochetes. Um tiro certeiro atinge o cavalo que carrega as bolsas de dinheiro, o animal soltando um grito agonizante antes de tombar. As notas verdes escapam das bolsas rasgadas, voando pelos ares como folhas secas ao vento impiedoso do deserto, dançando uma valsa macabra contra o céu azul-turquesa que testemunha impassível a violência abaixo.
Blackjack puxa as rédeas com tanta força que seu cavalo empina, seus olhos negros como carvão fixos no dinheiro esparramado. Seu rosto se contorce numa máscara de fúria e ganância.
— Malditos! — rosna ele entre dentes, girando seu cavalo em direção ao butim perdido, a obsessão pelo dinheiro momentaneamente sobrepujando seu instinto de sobrevivência.
O tiroteio se intensifica até se tornar ensurdecedor, as balas ricocheteando nas pedras ao redor como vespas metálicas sedentas por sangue. O ar fica denso com pólvora e poeira, dificultando a respiração e a visão.
— Deixe pra lá, Blackjack! Não vale morrer por isso! — grita Cavin por sobre o caos, sua voz carregada de urgência enquanto ele gira com precisão sobrenatural, acertando um dos perseguidores com um tiro certeiro. O homem cai de sua montaria como uma marionete com as cordas cortadas, seu corpo inerte levantando uma pequena nuvem de poeira ao atingir o solo.
A patrulha, após recuperar o butim roubado com satisfação evidente em seus rostos empoeirados, gradualmente abranda sua perseguição feroz. Os bandidos, embora de mãos vazias, encontram um consolo amargo na preservação de suas vidas - uma recompensa modesta para homens que apostaram tudo em busca de riqueza e glória.
Como se orquestrada por uma força superior, uma tempestade de areia emerge repentinamente das profundezas do deserto. Um monstro amarelado e furioso devora a paisagem com voracidade insaciável, seu corpo colossal de areia e vento transformando o dia em crepúsculo. O vento uiva como uma fera ancestral recém-despertada de seu sono milenar, envolvendo os fugitivos em um abraço sufocante de poeira que queima os olhos e rouba o fôlego dos pulmões. Em meio a este caos primordial, uma abertura sombria na parede rochosa manifesta-se como uma aparição divina - uma caverna que acena com a promessa de refúgio ou, talvez, guarde em suas entranhas perigos ainda mais terríveis que aqueles que deixaram para trás.
A gangue, ainda sob a mira implacável de seus perseguidores, manobra habilidosamente através da tempestade de areia que parece possuir vida própria. A poeira dança e gira ao seu redor como um véu sobrenatural tecido pelos próprios deuses do deserto. O uivo incessante do vento mistura-se aos gritos cada vez mais distantes dos perseguidores, criando uma sinfonia aterradora que ressoa através das vastidões desoladas, ecoando entre as rochas antigas como um presságio de morte.
Em meio à fúria dos elementos, os olhos experientes de Cavin descobrem uma fenda escura na face da montanha - um túnel secreto, cujo conhecimento foi passado através de gerações pelos povos nativos desta terra selvagem e misteriosa. Este portal para o desconhecido representa sua única esperança de sobrevivência.
Com a destreza adquirida ao longo de incontáveis anos nas trilhas traiçoeiras do oeste, Cavin assume a liderança do grupo. Suas mãos calejadas, firmes como aço nas rédeas, guiam os companheiros através da passagem estreita. A escuridão engole seus corpos como um manto aveludado, enquanto avançam cautelosamente pelo caminho incerto.
O túnel natural revela-se uma obra-prima esculpida pacientemente pela natureza ao longo de incontáveis milênios. Suas paredes de pedra calcária, adornadas com veios de vermelho e âmbar que parecem pulsar como veias vivas sob a luz tremeluzente das tochas improvisadas, contam histórias silenciosas de eras há muito esquecidas. O eco de seus passos ressoa através dos corredores sinuosos como sussurros de fantasmas ancestrais.
As sombras projetadas pela luz vacilante das tochas dançam sobre as paredes antigas, revelando pinturas rupestres de extraordinária beleza e mistério. Estas obras de arte primitivas, testemunhas silenciosas de incontáveis dramas humanos que se desenrolaram neste mesmo local sagrado, parecem ganhar vida sob o jogo de luz e sombra, como se tentassem comunicar mensagens urgentes de um passado remoto.
Conforme penetram mais profundamente nas entranhas da montanha, o ar gradualmente se transforma. A atmosfera pesada e sufocante do deserto dá lugar a uma brisa mais fresca e vivificante, carregada de promessas de vida e renovação. Um aroma diferente - verde, vital e esperançoso - preenche seus pulmões com nova energia. A passagem começa a se expandir gradualmente, permitindo que raios de luz celestial se infiltrem através de fendas estratégicas no teto rochoso. Finalmente, emergerem para uma visão que paralisa seus corações: um vale verdejante de beleza indescritível se estende diante deles como uma miragem tornada realidade, um paraíso escondido no coração do deserto impiedoso.
Uma cascata cristalina despenca de penhascos cobertos de musgo, alimentando um riacho serpenteante que corta o vale. A vegetação exuberante ondula com a brisa suave, criando um tapete esmeralda que contrasta dramaticamente com o deserto árido que deixaram para trás.
Pássaros multicoloridos deslizam pelo ar, suas plumagens brilhantes cintilando sob o sol da tarde.
Este momento transcende uma simples fuga - é uma passagem entre mundos, um interlúdio suspenso entre vida e morte.
A tensão ainda vibra no ar como uma corda de violão recém-tocada, cada decisão carregando o peso do destino não apenas deles, mas de todos aqueles que dependem do sucesso desta perigosa missão. O futuro é uma cortina de mistério tão densa quanto a tempestade que deixaram para trás, mas aqui, neste paraíso escondido, eles se permitem um momento para sentir - verdadeiramente sentir - o pulsar da vida em suas veias, cada batida do coração um hino à liberdade pela qual tanto lutam. A convicção em seus olhos reflete não apenas a busca pela própria sobrevivência, mas por algo maior - um ideal de liberdade que transcende suas próprias existências.
A dúvida sobre seu destino paira no ar como a própria poeira da tempestade, densa e insistente. Estariam eles realmente vivos, saboreando cada precioso momento de sua liberdade duramente conquistada? Ou teriam sucumbido durante a árdua jornada, seus nomes destinados a ecoar apenas como sussurros legendários nos territórios selvagens? A resposta para essas perguntas permanece oculta nas sombras misteriosas do vale verdejante, aguardando pacientemente para ser revelada conforme os fios do destino continuam a tecer sua intrincada tapeçaria.
A poeira densa cobria todo o horizonte como um manto impenetrável, formando uma cortina natural que não apenas dificultava a visão dos perseguidores, mas também parecia proteger os fugitivos como um guardião silencioso. O líder da gangue, suas feições marcadas por anos de experiência nas traiçoeiras trilhas do oeste, guiou o grupo com maestria através de uma passagem estreita entre as rochas antigas - um caminho secreto, sussurrado através de gerações, conhecido apenas pelos habitantes mais antigos daquelas terras misteriosas.
Quando finalmente emergiram do outro lado, o vale verde se estendia majestosamente diante deles, um oásis surreal em meio ao deserto implacável. A vegetação exuberante, pulsando com vida em cada folha que dançava ao vento, e o riacho cristalino, suas águas cantando uma melodia ancestral sobre pedras polidas pelo tempo, ofereciam não apenas um refúgio físico para despistar seus perseguidores, mas também um santuário para suas almas exaustas, um lugar onde poderiam recuperar não apenas suas forças, mas também sua humanidade, antes de seguir viagem.
O momento da descoberta foi quase místico - quando finalmente emergem, encontram-se transportados para uma paisagem que parecia pertencer a outro mundo: uma região verdejante de beleza indescritível, onde pássaros multicoloridos cantavam suas sinfonias eternas entre montanhas imponentes que pareciam tocar o próprio céu.
— Isto definitivamente não é o México — observa Cavin, sua voz carregando uma mistura de perplexidade e admiração diante da paisagem surreal que se descortina diante deles.
— A tempestade deve ter nos desviado do curso — pondera Blackjack, seus olhos experientes analisando o território desconhecido. — Vamos seguir em frente. O destino às vezes nos leva por caminhos inesperados.
Cavalgam por horas através daquela terra enigmática, o melodioso canto dos pássaros sua única companhia, até alcançarem uma trilha estreita que serpenteia graciosamente entre as montanhas majestosas, como um rio prateado cortando a paisagem.
— Deve nos levar a algum lugar — murmura Blackjack, sua voz baixa carregando um toque de mistério.
— Ao menos é melhor que onde estávamos — comenta Cavin, seus olhos ainda maravilhados com a beleza selvagem que os cerca.
— Mantenham-se alertas — ordena Blackjack, seus olhos perspicazes varrendo metodicamente o horizonte infinito, buscando sinais de perigo ou salvação.
A trilha os conduz a uma visão que faz seus corações gelarem, como se o próprio tempo tivesse congelado naquele instante: um ancião indígena, sua presença emanando uma sabedoria ancestral, encontra-se envolto em vestes rituais desbotadas pelo implacável passar das eras, guardando silenciosamente o portal sagrado de um cemitério antigo que parece existir desde o início dos tempos.
Seu rosto enrugado, um mapa vivo de cicatrizes ancestrais que contam histórias de tempos imemoriais, reflete a luz dançante de uma fogueira crepitante que parece pulsar com vida própria. As chamas projetam sombras inquietantes que serpenteiam entre as lápides antigas como espíritos inquietos, dançando sua última valsa em uma coreografia sobrenatural. O brilho vermelho-alaranjado das brasas ilumina com reverência símbolos misteriosos entalhados nas pedras tumulares, seus significados sagrados perdidos nas brumas impenetráveis do tempo, aguardando o momento certo para revelarem seus segredos aos dignos.
Ao seu lado, um imponente cavalo negro como obsidiana permanece imóvel, sua figura majestosa lembrando uma estátua esculpida nas profundezas da própria noite. Sua pelagem reluz com um brilho etéreo, como se cada pelo fosse forjado em escuridão líquida. Seus olhos, profundos como poços sem fundo, brilham com uma inteligência que transcende o natural, refletindo não apenas sabedoria antiga, mas também segredos há muito esquecidos pelos mortais. Suas crinas sedosas ondulam em uma dança hipnótica ao vento inexistente, como se respondessem a brisas de outros mundos.
Uma revoada de corvos, suas plumagens negras como tinta derramada contra o céu crepuscular, circunda o local em um balé macabro e hipnotizante. Seus grasnados ecoam como presságios sombrios através do ar pesado, cada som carregando mensagens cifradas de dimensões além da compreensão humana. As aves executam uma coreografia sobrenatural, suas formações desafiando não apenas as leis da natureza, mas a própria realidade, tecendo padrões impossíveis no tecido do céu.
— Há uma cidade mais adiante — sussurra Blackjack, sua voz normalmente firme agora carregada de uma apreensão visceral que faz seus companheiros estremecerem até a medula. — Fiquem atentos. Não sabemos o que nos espera neste lugar amaldiçoado. Algo me diz que cruzamos uma fronteira que não deveria ser cruzada, uma linha invisível entre nosso mundo conhecido e algo muito mais antigo e perigoso.
O bando se aproxima cautelosamente de uma cidade que, à primeira vista, poderia se passar por qualquer outro povoado do Velho Oeste. No entanto, quanto mais se aproximam, mais evidentes se tornam as anomalias perturbadoras. Há algo fundamentalmente errado na geometria das construções, como se tivessem sido erguidas seguindo as regras de uma realidade distorcida e malévola. As janelas parecem olhos vazios observando seus movimentos, e as sombras projetadas pelos edifícios se comportam de maneira antinatural, como se tivessem vida própria. O próprio ar parece vibrar com uma energia sobrenatural e implacável, carregada de presságios sombrios.
Uma atmosfera enganosamente acolhedora envolve o local, como um abraço caloroso e reconfortante que esconde intenções sinistras. Os cavalos, antes agitados e alertas, agora caminham com uma tranquilidade artificial sobre o solo bem cuidado, seus cascos produzindo um ritmo melodioso e hipnótico que parece querer embalar seus sentidos. Seus relinchos, suaves e distantes, ecoam uma paz perturbadora, como se estivessem sob o efeito de algum encantamento ancestral que os mantém presos em um estado de falsa serenidade.
As construções de madeira bem conservada exalam um charme rústico e acolhedor que beira o sobrenatural, suas tábuas polidas brilhando com uma intensidade quase hipnótica sob a luz do sol. Janelas amplas e impecavelmente limpas deixam entrar uma luz dourada peculiarmente agradável, criando padrões aconchegantes que dançam sobre os assoalhos impecáveis com uma graciosidade quase coreografada, como se cada raio de luz fosse meticulosamente direcionado por mãos invisíveis.
Uma sensação de bem-estar inexplicável envolve os viajantes, como um cobertor macio e etéreo aquecendo não apenas seus corpos exaustos, mas penetrando até o âmago de suas almas inquietas. É como se tivessem encontrado um refúgio não apenas seguro, mas extraordinariamente acolhedor, um lugar onde o tempo parece fluir de maneira diferente, onde podem finalmente baixar suas guardas e recuperar suas forças. O ar carrega uma mistura impossível de aromas - pão recém-assado, flores silvestres em pleno deserto, e algo mais, algo indefinível que faz seus sentidos cantarem com uma alegria quase artificial, uma combinação que faz seus corações se encherem de uma esperança tão intensa que beira o êxtase.
Este lugar, percebem eles com um crescente alívio que começa a beirar o entorpecimento, oferece um conforto e uma segurança quase místicos, como se cada elemento da cidade conspirasse para fazê-los se sentirem em casa. Cada casa parece convidá-los ao descanso com uma insistência gentil mas irresistível, cada brisa suave carrega promessas de paz eterna sussurradas diretamente em seus ouvidos, e cada momento que passam ali os aproxima mais de uma tranquilidade tão profunda e completa que seus espíritos exaustos mal podem resistir ao seu chamado sedutor. A perfeição do lugar é tão absoluta que começa a parecer irreal, como um sonho elaborado demais para ser verdadeiro.
Os cavaleiros trocam olhares apreensivos, suas mentes lutando contra o torpor sedutor que ameaça dominar seus sentidos. Blackjack, com um esforço visível de concentração, aperta as rédeas de seu cavalo com força renovada, como se o desconforto físico pudesse ancorar sua consciência à realidade. O líder sabe, em algum lugar profundo de sua alma ainda não tocado por aquela paz artificial, que beleza demais pode ser tão mortal quanto qualquer perigo que já enfrentaram no deserto.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Shinn Asuka
Incrível 🤯
2025-06-28
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