Dorian caminhou até a cabana principal, onde o Alpha se encontrava. O ar parecia mais pesado naquela noite, como se a própria Lua de Sangue espreitasse os lobos para julgar suas decisões. Thioran estava sentado em sua cadeira de carvalho, a postura altiva de sempre, mas havia algo nos olhos dele — uma sombra que não era dele.
— Irmão — começou Dorian, com voz firme. — Preciso falar com você em particular. Longe dos anciões. Longe da sua companheira. Apenas nós dois. Não como Beta e Alpha, mas como dois irmãos.
Thioran arqueou a sobrancelha, intrigado, mas fez um gesto para que os guardas se retirassem.
— Então fale.
Dorian respirou fundo, como quem carrega o peso de um clã inteiro nos ombros.
— Eu levei a notícia às minhas filhas. E quero que você saiba: elas se recusam a aceitar o acasalamento com os dois batedores.
Os olhos de Thioran faiscaram, mas Dorian não lhe deu tempo de interromper.
— Principalmente Eira. Você sabe quem ela é, Thior. Ela não é uma Ômega. Ela é uma Alpha. Não aceitará ser rebaixada. E a Lua de Prata, apesar de parecer uma Ômega, ela não é. — O olhar dele endureceu. — Ela é uma Suprema. Se você impuser esse destino, elas vão se rebelar.
Thioran inclinou-se para frente, a voz grave.
— E se se rebelarem?
— Então você terá que castigá-las. — Dorian respondeu, firme. — Mas castigá-las e por quê? Por reivindicarem o direito de esperar o vínculo? Isso não seria justiça, irmão, seria tirania.
Um silêncio pesado caiu entre eles. A respiração dos dois irmãos parecia o único som, além do estalar distante da madeira no fogo.
Dorian então estreitou os olhos.
— Maebh acredita que Sorcha influenciou você nessa decisão.
O rosto de Thioran se contraiu.
— Como ela poderia saber disso?
Dorian cruzou os braços.
— Está vendo? Essa sua reação é a prova. Você mesmo entregou.
O Alpha fechou os punhos, mas não retrucou. Dorian aproveitou o momento.
— Então eu lhe proponho algo. Seja justo. Pergunte a elas se aceitam acasalar com os batedores. Se disserem não, dê-lhes duas luas cheias para encontrarem seus companheiros predestinados. Se não encontrarem, então que se unam aos que você escolheu. Assim, você será visto como um Alpha justo, e não como um tirano.
Thioran ficou em silêncio, as engrenagens de sua mente girando.
— Elas já se rebelaram? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
Dorian ergueu o queixo.
— Sim.
O Alpha apertou os olhos. Havia mais do que irritação ali; havia dúvida.
Foi quando Dorian se inclinou um pouco mais, a voz carregada de um veneno frio.
— E diga-me, irmão, por que você ainda não teve nenhum filho com Sorcha?
Thioran o encarou, surpreso.
— O que quer insinuar?
— Pense. — Dorian rebateu, sem hesitar. — Por que será que ela insiste tanto para que duas Alphas se unam a simples batedores? Rebaixar o sangue da nossa linhagem? Por que será?
O silêncio do Alpha foi sua primeira resposta. Dorian continuou:
— Você sabe tão bem quanto eu: Sorcha não é Alpha. Não é Beta. Não é nada. É apenas uma loba qualquer. A diferença dela para Maebh é que minha companheira é sacerdotisa, é curandeira, tem visões. E Sorcha? Sorcha é uma bruxa.
As palavras ecoaram como uma lança cravada na carne.
— Já parou para pensar que ela pode estar usando magia em cima de você? — Dorian perguntou, firme. — Que suas decisões não são só suas?
Thioran desviou o olhar, como se encarasse algo invisível à frente. Seus punhos se abriram devagar.
— Eu vou começar a observar… — murmurou, hesitante.
Dorian então se ergueu, sua presença se tornando ainda mais imponente.
— E eu também vou começar a observar a sua companheira.
Os olhos dos irmãos se encontraram, e naquele instante a tensão era tão densa que parecia que a sala inteira podia ruir.
— Então você vai fazer como lhe pedi? — Dorian pressionou.
Thioran respirou fundo, os olhos carregados de uma luta interna.
— Sim. — respondeu, finalmente.
Dorian manteve o olhar firme sobre o irmão, a voz grave como um trovão contido.
— Eu vou pedir que elas venham falar com você. — disse, medindo cada palavra. — Mas você precisa ouvi-las sozinho. Sem guardas. Sem anciões. Para que não digam que há desconfiança ou que você está as protegendo apenas porque são suas sobrinhas.
Thioran estreitou os olhos, mas nada disse.
— Você dirá a elas que essa decisão partiu de você, como Alpha. — continuou Dorian, o tom de quem instrui e alerta ao mesmo tempo. — Eu tenho certeza de que elas vão recusar. E, quando recusarem, por mais que a sua companheira esteja ao seu lado e tente impor sua vontade, lembre-se: o Alpha é você, não ela.
Thioran inspirou fundo, os dedos tamborilando no braço da cadeira de carvalho.
— Então o que sugere? — murmurou, a voz carregada de tensão.
— Dê um prazo. — Dorian respondeu, sem hesitar. — Dois meses. Duas luas cheias. Se nesse tempo elas encontrarem seus companheiros predestinados, o vínculo será selado. Se não encontrarem… então terão de aceitar a escolha que você fez. Assim, você não parecerá um tirano, mas também não terá perdido sua autoridade diante do clã.
O Alpha recostou-se lentamente, ponderando. O peso das palavras do irmão ecoava como marteladas.
— E há mais. — Dorian avançou um passo, a voz baixa mas cortante. — Você precisa mandar investigar Sorcha. Precisa de gente de confiança, lobos leais que observem por onde ela anda.
Thioran ergueu o olhar, surpreso com a frieza do irmão.
— Investigar Sorcha?
— Sim. — Dorian afirmou com firmeza. — Quantos dias ela desaparece sem dar explicações? Quantas vezes some, sem agir como deveria agir a companheira de um Alpha? Ela deveria liderar entre as mulheres do clã, orientar, ser exemplo. Mas não ela se esconde nas sombras.
O silêncio que caiu foi incômodo.
— Hoje, Maebh abriu meus olhos. — prosseguiu Dorian, a voz mais carregada. — E Maebh, sendo irmã dela, sabe reconhecer o veneno. Eu estou abrindo os seus, irmão.
Os olhos de Thioran tremeram com algo entre dúvida e raiva contida. Ele fechou os punhos sobre os braços da cadeira, e pela primeira vez, não havia resposta pronta nos lábios do Alpha.
Dorian respirou fundo, com os olhos firmes sobre o irmão.
— Você sabe, Thioran quem deveria ter sido o Alpha deste clã era eu. — disse, a voz grave, carregada de lembrança e verdade. — Nós somos gêmeos. Não se esqueça disso.
O silêncio entre eles ficou mais pesado. Thioran inclinou-se para frente, os olhos faiscando, mas não respondeu.
— Eu abri mão. — continuou Dorian, firme. — A responsabilidade era grande demais, e eu preferi ser o seu Beta. Achei que, ao seu lado, poderia proteger o clã sem carregar o peso inteiro sobre meus ombros. Mas agora eu estou lhe aconselhando não como irmão apenas, mas como Beta.
Ele se aproximou um passo, o olhar duro como pedra.
— Mantenha, quando dormir com sua companheira, um olho fechado e outro aberto.
Thioran cerrou os punhos, mas não o interrompeu.
— Eu sei que ela não o trai com outro macho, porque se ela o fizesse, você sentiria o cheiro de outro lobo nela. — disse Dorian, sem hesitação. — E vocês já teriam quebrado esse vínculo frágil. Até mesmo porque vocês não são companheiros de alma, e você sabe disso.
A respiração de Thioran acelerou.
— Mas o que me pergunto é: o que ela faz durante as semanas em que some? — Dorian avançou mais uma vez, o tom cortante. — E quando volta, nem satisfação lhe dá. Você não vê que isso não está certo?
O Alpha fechou os olhos por um instante, o maxilar travado.
— Ela é sua companheira, Thioran. — prosseguiu Dorian. — E no entanto, não lhe deu filhos, não lhe dá respostas, não lhe presta contas. Faz o que bem entende, como se fosse maior que a alcateia. E você permite. Isso tira a sua autoridade.
As últimas palavras ecoaram pelo salão como uma acusação e uma advertência ao mesmo tempo.
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Atualizado até capítulo 105
Comments
Marcia Cristina Carneiro
É uma decisão difícil 😲 04/07/25/
2025-07-05
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