O Pacto das Irmãs
A lua já subia alta no céu quando Arianwen e Eira se recolheram ao quarto que dividiam. O vento frio atravessava as frestas da madeira, trazendo consigo o uivo distante de lobos nas colinas, como se o próprio clã inteiro guardasse silêncio naquela noite. Mas, dentro do pequeno aposento, o ar estava carregado de algo muito mais pesado do que qualquer inverno: decisão.
Eira andava de um lado para o outro, como fera enjaulada. Os olhos dela faiscavam com a mesma intensidade da lareira que crepitava no canto. Arianwen, sentada na beira da cama, torcia as mãos, sentindo o coração pulsar descompassado. Sabia que algo estava para acontecer, e que nada seria igual depois daquela noite.
— Escute, Lua. — Eira parou de repente, a respiração forte, como se tivesse corrido por milhas. — Quando o Alpha nos chamar… e ele nos obrigar a aceitar o acasalamento… nós vamos dizer que não. Vamos dizer que não é isso que queremos.
Arianwen ergueu o olhar, assustada com a firmeza da irmã.
— E se ele disser que não temos escolha?
Eira cerrou os punhos, o corpo inteiro em tensão.
— Então nós nos calamos. Fingimos obediência. — os olhos dela brilharam com a centelha da rebeldia. — Porque amanhã mesmo ele vai nos chamar. E é amanhã à noite que nós fugiremos.
Arianwen sentiu o estômago gelar.
— Fugir? Para onde?
— Para onde for necessário. — respondeu Eira, com a certeza de quem já havia tomado a decisão. — A mamãe vai nos ajudar. Eu tenho certeza disso. Ela já abriu os olhos para mim, me mostrou a verdade. E o papai… — a voz dela fraquejou por um instante. — Ele pode não nos impedir, mas não vai nos denunciar. Ele sabe que isso não é destino.
O coração da Lua de Prata apertou. A palavra destino sempre tivera peso entre elas.
Eira se aproximou, ajoelhando-se diante da irmã e segurando-lhe as mãos com força.
— Lua, nós vamos fugir desse destino. Porque esse destino não é nosso. Principalmente o seu.
Arianwen piscou, sentindo as lágrimas arderem nos olhos.
— O meu…?
— Sim. — Eira quase rosnou, a voz grave, selvagem. — Eu sei o que vai acontecer se aquele batedor ousar se unir a você. Ele vai tentar quebrar você. Vai querer calar a sua luz. Vai tentar dobrar a Suprema que você é, mesmo sem saber disso. E eu não vou permitir.
As palavras da irmã caíram sobre Arianwen como um trovão, mas também como um abraço.
— Agora eu sei. — continuou Eira, os olhos fixos na Lua de Prata. — A mamãe me abriu os olhos. Ela me deu o chá da verdade. E nele eu vi. Eu vi que não sou companheira daquele homem. Que todo o fogo que sinto não é por ele. Que meu companheiro de alma não é esse que tentam me empurrar.
Arianwen apertou a mão dela, o coração disparado.
— De quem, então?
Eira hesitou, as pupilas dilatadas como se a lembrança do sonho a tivesse consumido.
— Não sei o nome, não sei o rosto inteiro. Mas eu senti. Senti o vínculo em meu peito. — Ela respirou fundo. — E desde então, entendi: eu não posso aceitar esse destino falso.
O silêncio foi quebrado pelo estalar da lareira. Arianwen deixou escapar um soluço e balançou a cabeça.
— Mas… e se descobrirem? E se formos caçadas?
Eira sorriu, um sorriso feral, cheio de dentes.
— Então que venham. Somos filhas da Lua. Somos lobas. Não seremos cordeiros no altar de Sorcha.
Ela se levantou, puxando a irmã junto.
— Para onde você for, eu vou também. Uma protege a outra. Sempre foi assim. Sempre será.
O coração de Arianwen se aqueceu. Pela primeira vez desde a revelação do acasalamento, ela sentiu que não estava sozinha.
— Nós vamos sobreviver? — perguntou, a voz tremendo.
Eira ergueu o queixo, a postura de quem nascera para liderar.
— Não só sobreviver. Nós vamos viver. Viver de verdade. E viver livres.
As duas se abraçaram, não como simples irmãs, mas como lobas que selaram um pacto sagrado. No silêncio da noite, o vento que atravessava a montanha pareceu carregar o juramento delas até a Lua.
E ali, sob o olhar prateado da deusa, nascia não apenas uma promessa de fuga, mas um juramento de lealdade eterna.
O Segredo da Loba Morta
Na manhã seguinte, o sol mal havia rompido o véu da neblina quando Eira saiu do quarto. Ioan — a Lua de Prata — ainda permanecia em silêncio, sentada diante da janela, refletindo sobre cada palavra da irmã. O rosto delicado dela estava voltado para a floresta, como se buscasse nas árvores uma resposta que a Lua não lhe dera completamente.
Eira desceu as escadas do chalé, firme, mas com o coração carregado. Encontrou Maebh no quintal, recolhendo ervas do orvalho da manhã. O cheiro fresco de alecrim e sálvia pairava no ar, misturado à força ancestral que sempre rodeava sua mãe.
— Mamãe. — chamou, a voz baixa, mas cheia de decisão.
Maebh ergueu o rosto, e ao ver a filha, franziu levemente a testa.
— Você não dormiu. — disse, mais como constatação do que como pergunta.
Eira respirou fundo.
— Eu preciso falar com a senhora. Se o papai não conseguir convencer o Alpha eu já falei com a Lua de Prata. Nós vamos fugir.
As mãos de Maebh pararam no ar, segurando um galho de hortelã. Os olhos dela, sempre tão ternos, brilharam com uma mistura de dor e orgulho.
— Se ele não conseguir, eu ajudo. — respondeu com firmeza. — Porque esse não é o destino de vocês. Eu ajudo, sim.
Eira deixou escapar o ar que segurava no peito.
— Mas e o papai não vai nos impedir?
Maebh negou lentamente com a cabeça.
— Não. Ele não vai. Dorian sabe que o destino não se quebra pela força. Ele pode até não dizer em voz alta, mas ele protegerá vocês da forma dele.
Eira apertou os lábios, a angústia ainda presa na garganta.
— E Tarik?
Um sorriso leve surgiu nos lábios de Maebh.
— Seu irmão já disse. Se tentarem obrigar vocês, ele ajuda vocês a fugir. Provavelmente ele será o guardião de vocês nessa caminhada.
Os olhos de Eira marejaram, mas ela se manteve firme.
— Então não estaremos sozinhas…
— Nunca. — afirmou Maebh. — Eu também estarei com vocês, pela Lua. Pedirei a bênção da Mãe Lua sobre o caminho de vocês.
Eira fechou os olhos por um instante, absorvendo aquela promessa como se fosse um escudo contra o medo. Mas logo voltou a encarar a mãe, a voz carregada de raiva.
— Mas Sorcha não vai conseguir o que quer. Ela nunca teve filhos. Nunca deu filhotes ao Alpha. Por que ela faz isso? Por que deseja nos forçar a esse destino?
O semblante de Maebh escureceu.
— Porque ela escolheu outro caminho.
— Outro caminho? — Eira franziu o cenho.
— Sim. — Maebh suspirou, abaixando-se para pousar as ervas dentro de um cesto. — Ela mascara mas a loba dela já morreu.
O silêncio pesou no ar.
Eira arregalou os olhos.
— Como assim, mamãe?
— A loba da sua tia não existe mais. — Maebh encarou a filha, os olhos duros como gelo. — Ou você não reparou que nas noites de corrida, quando a alcateia se reúne sob a Lua, ela nunca está presente?
Eira piscou, lembrando-se de tantas noites em que buscara Sorcha entre os uivos e não a encontrara.
— É verdade — murmurou. — Eu já observei. Mas achei que ela estava meditando.
— Não. — Maebh afirmou, categórica. — Ela se esconde. Porque não pode mais correr. A loba dela morreu, Eira. Hoje, ela é apenas feiticeira.
A respiração de Eira se acelerou. O choque se transformou em fúria dentro de seu peito.
— Então é por isso por isso que ela nos quer presas. Ela não pode mais gerar filhotes, não pode mais ser loba, então quer usar a nós, as próximas, para satisfazer a sua ambição.
Maebh pousou a mão no ombro da filha, transmitindo força.
— Exatamente. Ela perdeu a essência da loba. Só restou a magia obscura. E uma loba que perde sua essência é capaz de qualquer coisa para roubar a vida de outra.
Eira fechou os punhos, o olhar faiscando.
— Então ela não vai nos roubar. Nem a mim, nem à Lua de Prata.
A mãe sorriu de leve, mas havia lágrimas em seus olhos.
— Não, minha filha. Porque vocês nasceram para algo maior. E porque têm uma à outra.
O Pacto da Lua
Maebh ainda segurava o ombro de Eira quando a porta rangeu. O vento frio entrou primeiro, trazendo consigo o cheiro de carvalho e ferro. Em seguida, Dorian apareceu no batente, com a expressão carregada, como se o peso do mundo tivesse se assentado sobre suas costas.
— Maebh. — chamou, a voz grave. — O Alpha está esperando as meninas.
A curandeira ergueu os olhos, estreitando-os de imediato.
— Você falou com ele?
Dorian assentiu, entrando. O olhar que lançou para Eira bastava para mostrar que não havia muito tempo.
— Falei. Ele não vai forçar vocês, mas vai exigir um pacto.
— Um pacto? — Eira sussurrou, mas foi Maebh quem avançou um passo, o coração acelerado.
— Que pacto, Dorian?
Ele respirou fundo, como quem mede cada palavra.
— Ele dará dois meses. Duas luas cheias. Esse é o tempo que nossas filhas terão para encontrar seus companheiros predestinados. Se não encontrarem nesse prazo… terão de aceitar os batedores que ele escolheu.
O silêncio caiu como uma lâmina no ar. Maebh levou a mão à boca, surpresa, os olhos brilhando de indignação.
— Dois meses? Mas por que não suspender logo essa decisão absurda?
Dorian desviou o olhar para a lareira.
— Porque se ele suspender, perde a autoridade diante dos anciões. E Sorcha sabe disso. Você não percebeu, Maebh? Ela o encurralou.
Maebh franziu o cenho.
— Encurralou?
— Sim. — respondeu Dorian, firme. — Se Thioran não acatar a própria decisão, os anciões o acusam de fraqueza. Mas se ele força nossas filhas e elas se rebelam, ele parecerá um tirano diante de todos. É uma armadilha perfeita.
Maebh levou alguns segundos para assimilar, e depois murmurou:
— Eu não havia pensado por esse lado.
— Pois pense agora. — Dorian rebateu, a voz baixa mas intensa. — Sorcha não quer apenas dominar nossas filhas. Ela quer derrubar o Alpha. Está usando o prestígio e a tradição contra ele.
Eira rangeu os dentes, a respiração pesada.
— Então foi por isso que ele aceitou a sua proposta?
— Sim. — confirmou Dorian. — Eu dei a ele essa saída. Melhor um prazo do que o risco de parecer fraco ou cruel.
Ele se voltou novamente para Maebh, o olhar carregado de decisão.
— Você vai dizer isso a elas. Vai explicar que terão duas luas cheias para buscarem seus verdadeiros companheiros. Em todos os clãs, se for preciso. Mas que, ao final desse tempo, terão de decidir.
Maebh fechou os olhos por um instante, absorvendo a gravidade daquilo. Depois, pousou a mão sobre a mesa de madeira, firme como a raiz de uma árvore ancestral.
— Então que assim seja.
Dorian respirou fundo, e pela primeira vez em dias, uma centelha de esperança brilhou em seus olhos.
— Dois meses. Esse é o tempo que a Lua lhes concedeu através dessa brecha. Cabe a nós proteger cada passo delas até o destino verdadeiro.
O Pacto Aceito
Eira manteve os olhos fixos no pai, a respiração forte, o peito arfando como se tivesse acabado de correr. Havia fogo em sua voz quando falou:
— Então que seja, papai. — disse, firme, sem titubear. — Eu vou avisar a Lua de Prata. Nós vamos até o Alpha. O senhor nos leva até ele. E nós vamos aceitar o pacto. Dois meses. A partir de hoje.
Dorian a observou em silêncio por um instante, orgulhoso da coragem, mas dolorido pelo peso que sabia estar colocando sobre os ombros das filhas.
— Hoje mesmo nós vamos começar a nossa busca. — prosseguiu Eira, determinada. — E me diga, alguém vai conosco? Ou nós temos que ir sozinhas?
O Beta respirou fundo, o semblante fechado.
— Vocês terão que ir sozinhas. — respondeu, a voz grave como um trovão. — Ninguém vai protegê-las. Vocês terão que encontrar por conta própria. Vocês terão que mostrar a força que carregam no sangue.
Eira sentiu o estômago gelar, mas manteve o queixo erguido.
Então Dorian se aproximou, pousando as mãos pesadas nos ombros da filha.
— Mas, filha vocês não estarão sós. — murmurou, os olhos flamejando com a promessa de um lobo que nunca abandona a alcateia. — Você está me ouvindo? Eu e seu irmão seremos os guardiões de vocês.
O coração de Eira acelerou.
— Guardiões?
— Sim. — Dorian afirmou com firmeza. — Tenho certeza de que sua tia vai colocar os dois batedores, e talvez até mais alguns, para tentar impedir vocês de encontrarem seus verdadeiros companheiros. Mas nós estaremos lá. Escondidos. Na sombra da floresta, nos rastros da noite. — Sua voz tornou-se um sussurro carregado de juramento. — Nada tocará em vocês sem antes passar por nós.
Eira fechou os olhos por um instante, absorvendo o peso e a força daquela promessa. Quando os abriu, o olhar faiscava como brasas.
— Tudo bem papai, vou chamar a Lua de Prata. E nós iremos com o senhor até o Alpha.
Ela respirou fundo, deixando que a decisão se enraizasse nela como um pacto de sangue.
— Que assim seja.
O Juramento da Busca
Eira abriu devagar a porta do quarto. A Lua de Prata estava sentada diante da janela, com o rosto iluminado pelo reflexo pálido da manhã que entrava. Os cabelos prateados dela cintilavam, e os olhos, distantes, pareciam mergulhados em mares de pensamentos e presságios.
— Lua, — chamou Eira, firme.
A irmã virou-se, e o coração de Arianwen apertou ao ver a gravidade no semblante da irmã.
— O Alpha está nos chamando. — disse Eira, entrando e fechando a porta atrás de si. Aproximou-se rápido, tomou as mãos da Lua de Prata nas suas e falou baixo, como quem sela um pacto proibido. — Lembre do que nós combinamos.
Arianwen respirou fundo, tentando afastar o tremor das mãos.
— Eu lembro.
Eira estreitou os olhos, a voz carregada de determinação.
— O papai disse que o Alpha vai nos dar um prazo. Dois meses, a partir de hoje, para encontrarmos os nossos companheiros. Depois que sairmos de lá, diante o Alpha, nós vamos deixar o clã. Vamos partir em busca deles.
A Lua de Prata engoliu em seco, mas não desviou os olhos da irmã.
— E Sorcha?
— Sorcha vai mandar nos seguir. — respondeu Eira, os dentes cerrados, um brilho de fúria nos olhos. — Eu sei disso. Mas nós vamos conseguir escapar.
Um silêncio breve se fez, e então Arianwen falou, a voz trêmula mas firme:
— Então precisamos da mamãe. Vamos pedir a ela que seja nosso oráculo, que invoque a Lua para nos orientar. Tenho certeza de que ela nos dará a direção.
Eira sorriu de leve, quase um rosnado de aprovação.
— Sim. Ela vai indicar o rumo.
A Lua de Prata respirou fundo, mas agora, estava serena.
— Nós só teremos que chegar até lá. Seguir a direção que ela apontar.
Eira apertou as mãos da irmã com força, os olhos brilhando como brasas.
— Nós chegaremos, Lua. Nem que o sangue da alcateia inteira tente nos deter.
O Conselho da Lua
Eira respirou fundo e segurou a mão da irmã antes de descerem as escadas.
— Mamãe, — chamou, a voz carregada de urgência. — Converse com o oráculo enquanto estivermos no salão. Veja o que a Lua lhe mostra. Quando voltarmos, arrume nossas coisas. E, por favor, tenha uma resposta para nós. Qual direção devemos tomar?
Maebh ergueu os olhos do feixe de ervas que trançava e os fixou sobre as filhas, firmes, cheios de um brilho antigo.
— Pode deixar, minha filha. — respondeu, solene. — Quando vocês retornarem, eu terei uma resposta. A Lua falará comigo.
As duas aceitaram, e juntas seguiram o pai e Tariq. O caminho até o salão principal foi silencioso, apenas o som das botas sobre a terra batida e o farfalhar distante da floresta os acompanhava. O coração da Lua de Prata batia tão alto que parecia ecoar nos ouvidos. Eira, ao lado dela, mantinha o queixo erguido e o olhar firme, como uma loba que não recua diante da matilha.
Quando chegaram, o salão estava tomado. O Alpha, Thioran, sentado em sua cadeira de carvalho negro, irradiava autoridade. À sua direita, Sorcha, de olhos escuros como poços sem fundo, exibia um sorriso frio, o corpo inclinado como serpente pronta para atacar. Atrás deles, os batedores escolhidos se alinhavam, imponentes. E mais adiante, em meia-lua, os anciões aguardavam em silêncio, seus olhos velhos brilhando com julgamento e expectativa.
O Alpha ergueu-se, sua voz grave preenchendo o salão.
— Eu decidi, vocês chegaram à idade do acasalamento, por isso escolhi, entre meus batedores de confiança, aqueles que serão seus companheiros.
O sangue de Eira ferveu, mas antes que ela falasse, Dorian deu um passo à frente.
— Você é o Alpha, Thioran — disse, firme, — mas permita que minhas filhas respondam por elas mesmas.
Os olhos do Alpha faiscaram, mas ele ergueu a mão, pedindo silêncio.
— Eu estou perguntando a elas. Não a você, irmão.
O salão inteiro pareceu prender o ar. Então, foi a Lua de Prata quem ergueu a voz primeiro, com coragem que surpreendeu até a si mesma.
— Alpha, nós não aceitamos. — disse, clara. — Eles não são nossos companheiros de alma.
Eira avançou um passo, reforçando a posição da irmã.
— O senhor sabe,Alpha Thiora, que o vínculo verdadeiro é necessário. Se gerarmos filhotes de um acasalamento sem vínculo, eles nascerão fracos. Isso trará desonra e fraqueza ao clã.
Um murmúrio percorreu os anciões. Sorcha, ao lado do Alpha, crispou os dedos no braço da cadeira.
Então Arianwen inspirou fundo e falou, a voz embargada pela dor, mas firme pela verdade:
— O companheiro que o senhor escolheu para mim não gosta de mim. Ele me odeia, — seus olhos se ergueram, encontrando os do Alpha. — Porque eu não sou daqui, sou mestiça, e ele nunca me protegerá, nunca me honrará como companheira.
As palavras ecoaram como lâminas no ar. O rosto de Thioran endureceu, o olhar mas antes que Sorcha pudesse se inclinar e sussurrar, ele ergueu a mão, imponente.
— Então eu vou lhes dar um prazo. — disse, a voz grave como trovão. — Duas luas cheias. Dois meses, a partir de hoje. Nesse tempo, vocês buscarão seus companheiros predestinados.
O salão explodiu em murmúrios. Os batedores deram um passo à frente, indignados, mas o Alpha ergueu-se ainda mais, sua presença sufocante.
— Na terceira lua cheia, vocês voltarão aqui. Se estiverem acompanhadas de seus verdadeiros companheiros, o vínculo será aceito. Mas se voltarem sozinhas, terão de acasalar com aqueles que escolhi.
— Mas, Alpha! — um dos batedores protestou. — Isso é injusto!
Sorcha também se ergueu, os olhos faiscando.
— Você está perdendo a autoridade diante do clã, Thioran.
Mas antes que a tensão explodisse, um dos anciões ergueu o bastão, batendo-o contra o chão.
— Não! — declarou, sua voz rouca mas poderosa. — Ele foi justoa as jovens se recusaram, e o Alpha deu uma opção. Não agiu como tirano, nem fraco, agiu como um Alfa sábio.
O silêncio caiu de novo, pesado. Thioran respirou fundo, então olhou para as sobrinhas.
— Voltem para casa. Preparem-se. A partir de hoje, a busca começa.
Eira e a Lua de Prata se inclinaram respeitosamente, ainda que seus olhos ardessem de rebeldia e coragem.
— Sim, senhor. — responderam em uníssono.
— Podem ir. — decretou o Alpha, encerrando a sessão.
Enquanto se retiravam, Sorcha se inclinou para o lado de Thioran, sussurrando algo venenoso. Mas os anciões permaneciam atentos, e a sombra de sua manipulação não pôde calar a sentença já dada.
Naquele instante, mesmo diante da pressão, Eira e Arianwen sabiam: haviam conquistado tempo. Dois meses. Duas luas cheias. E era tudo o que precisavam.
A Despedida
Quando o conselho terminou e o salão foi esvaziando aos poucos, Dorian aproximou-se do irmão, inclinou a cabeça em sinal de respeito e falou em voz baixa:
— Preciso me despedir das minhas filhas.
Thioran apenas assentiu, cansado, como se a própria decisão tivesse drenado parte de sua força. Sorcha o observava com olhos de sombra, mas nada disse.
Dorian voltou para o chalé com passos pesados. Encontrou Maebh esperando na soleira, o olhar dela já carregado de pressentimentos. Ele respirou fundo antes de falar:
— Você tinha razão. A sua irmã a loba dela morreu. Mas no lugar, nasceu uma serpente. — a voz dele era amarga como fel. — Ela preparou tudo isso, Maebh. Uma armadilha perfeita para Thioran
Os olhos de Maebh se fecharam por um instante, como se confirmasse o que já sabia.
— Eu vi. — respondeu, com um tom solene. — E é por isso que nossas filhas precisam partir.
Eira e a Lua de Prata se aproximaram, lado a lado, os semblantes firmes, mesmo com o coração em tumulto. A mãe ergueu as mãos, pousando uma em cada rosto, e disse:
— A Lua me mostrou a direção. Vocês devem seguir para o lado do clã Cedric. É lá que o destino de vocês está.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 105
Comments
mega droid
a estória é boa, mas é bem confusa em relação a nomes e parentescos . Como já li vários livros da mesma autora, vou continuar pois sei que mesmo com os nomes meio doidos rs rs a estória vai ser boa!
2025-09-14
  2
Silvia Aparecida
Estou gostando da história
2025-07-02
  2