Entre Sombras e Promessas
O som das folhas balançando suavemente era o único sinal de vida naquele fim de tarde.
Luna andava descalça pelo jardim. A grama úmida acariciava seus pés. O vento leve bagunçava seus cabelos castanhos.
Ali, longe da mansão, ela podia respirar.
Mesmo que por pouco tempo.
— Vai pegar um resfriado andando assim — disse uma voz atrás dela.
Ela se virou devagar.
Miguel.
Camisa branca levemente suja de terra. As mangas arregaçadas. Os cabelos escuros grudados na testa pelo suor. E aqueles olhos… castanhos e intensos, como se enxergassem o que ela escondia de todos.
— Talvez eu queira ficar doente — respondeu Luna, com um sorriso desafiador.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Sempre provocando, não é?
— Sempre que posso.
Por alguns segundos, ficaram apenas se encarando. O silêncio entre eles dizia mais do que qualquer palavra.
O coração dela batia rápido. De novo.
Era sempre assim quando ele estava por perto.
Dentro da mansão, o clima era outro.
Frio. Rígido.
— Eu vi você conversando com aquele homem outra vez — disse seu pai durante o jantar, sem tirar os olhos do celular.
— Ele tem nome. Miguel.
O talher de Artur D’Avila parou no meio do caminho. Sua expressão endureceu.
— Empregados não são companhia para você, Luna.
Ela abaixou os olhos, mas o sangue já fervia nas veias.
— Talvez eu só esteja cansada de gente que só fala com máscara no rosto.
— Cale a boca, Luna! — gritou ele. — Você não tem ideia do que está dizendo!
A mãe permaneceu calada, como sempre.
Luna subiu as escadas correndo, com o coração acelerado.
Mas não de medo.
De raiva.
De impotência.
No dia seguinte, enquanto fingia folhear um livro antigo, encontrou um pedaço de papel dobrado.
Reconheceu a caligrafia na hora.
“Te espero no galpão. Quando o sol se apagar.”
Ela sabia o risco. Sabia o quanto tudo aquilo era errado.
Mas foi mesmo assim.
O galpão cheirava a madeira antiga e terra molhada.
Miguel estava lá. Encostado na parede, os olhos presos nela desde o momento em que entrou.
— Eu pensei que você não viria — disse ele, em voz baixa.
— Eu pensei que fosse enlouquecer se não viesse.
Ele se aproximou, devagar.
O coração dela batia tão alto que Luna achou que ele fosse escutar.
— Isso não pode continuar, Luna. Se alguém descobrir…
— Já descobriram — ela interrompeu. — Meu pai está desconfiado. Mas eu não me importo.
— Você deveria se importar.
— Então me convença — sussurrou ela, chegando ainda mais perto. — Me convença a desistir de você.
Silêncio.
Os olhos dele desceram até os lábios dela. Depois voltaram aos seus olhos.
— Eu não consigo.
E então, aconteceu.
O beijo.
Suave no início. Depois urgente. Como se os dois estivessem tentando recuperar o tempo perdido.
Luna sentiu o mundo desaparecer.
Ali, nos braços de Miguel, ela finalmente era ela mesma.
Mas felicidade, para ela, nunca durava muito.
Na manhã seguinte, Artur D’Avila entrou em seu quarto sem bater.
— Acabou. Ele está demitido. E você, trancada até entender seu lugar!
Ela gritou. Chorou. Implorou.
Mas nada adiantou.
Miguel foi embora sem se despedir.
Naquela noite, sentada ao lado da janela, Luna olhou para o jardim vazio.
As lágrimas escorriam silenciosas. Mas ela não chorava por tristeza.
Ela chorava por raiva.
— Eles acham que podem me afastar de você, Miguel… Mas estão errados.
Ela encostou a testa no vidro gelado.
— Eu vou te encontrar. Custe o que custar.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Marta Monteiro
iniciei a leitura do livro 📔💝. hoje.
2025-06-30
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