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Entre Sombras e Promessas

Capítulo 1 – O Jardim dos Segredos

O som das folhas balançando suavemente era o único sinal de vida naquele fim de tarde.

Luna andava descalça pelo jardim. A grama úmida acariciava seus pés. O vento leve bagunçava seus cabelos castanhos.

Ali, longe da mansão, ela podia respirar.

Mesmo que por pouco tempo.

— Vai pegar um resfriado andando assim — disse uma voz atrás dela.

Ela se virou devagar.

Miguel.

Camisa branca levemente suja de terra. As mangas arregaçadas. Os cabelos escuros grudados na testa pelo suor. E aqueles olhos… castanhos e intensos, como se enxergassem o que ela escondia de todos.

— Talvez eu queira ficar doente — respondeu Luna, com um sorriso desafiador.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Sempre provocando, não é?

— Sempre que posso.

Por alguns segundos, ficaram apenas se encarando. O silêncio entre eles dizia mais do que qualquer palavra.

O coração dela batia rápido. De novo.

Era sempre assim quando ele estava por perto.

Dentro da mansão, o clima era outro.

Frio. Rígido.

— Eu vi você conversando com aquele homem outra vez — disse seu pai durante o jantar, sem tirar os olhos do celular.

— Ele tem nome. Miguel.

O talher de Artur D’Avila parou no meio do caminho. Sua expressão endureceu.

— Empregados não são companhia para você, Luna.

Ela abaixou os olhos, mas o sangue já fervia nas veias.

— Talvez eu só esteja cansada de gente que só fala com máscara no rosto.

— Cale a boca, Luna! — gritou ele. — Você não tem ideia do que está dizendo!

A mãe permaneceu calada, como sempre.

Luna subiu as escadas correndo, com o coração acelerado.

Mas não de medo.

De raiva.

De impotência.

No dia seguinte, enquanto fingia folhear um livro antigo, encontrou um pedaço de papel dobrado.

Reconheceu a caligrafia na hora.

“Te espero no galpão. Quando o sol se apagar.”

Ela sabia o risco. Sabia o quanto tudo aquilo era errado.

Mas foi mesmo assim.

O galpão cheirava a madeira antiga e terra molhada.

Miguel estava lá. Encostado na parede, os olhos presos nela desde o momento em que entrou.

— Eu pensei que você não viria — disse ele, em voz baixa.

— Eu pensei que fosse enlouquecer se não viesse.

Ele se aproximou, devagar.

O coração dela batia tão alto que Luna achou que ele fosse escutar.

— Isso não pode continuar, Luna. Se alguém descobrir…

— Já descobriram — ela interrompeu. — Meu pai está desconfiado. Mas eu não me importo.

— Você deveria se importar.

— Então me convença — sussurrou ela, chegando ainda mais perto. — Me convença a desistir de você.

Silêncio.

Os olhos dele desceram até os lábios dela. Depois voltaram aos seus olhos.

— Eu não consigo.

E então, aconteceu.

O beijo.

Suave no início. Depois urgente. Como se os dois estivessem tentando recuperar o tempo perdido.

Luna sentiu o mundo desaparecer.

Ali, nos braços de Miguel, ela finalmente era ela mesma.

Mas felicidade, para ela, nunca durava muito.

Na manhã seguinte, Artur D’Avila entrou em seu quarto sem bater.

— Acabou. Ele está demitido. E você, trancada até entender seu lugar!

Ela gritou. Chorou. Implorou.

Mas nada adiantou.

Miguel foi embora sem se despedir.

Naquela noite, sentada ao lado da janela, Luna olhou para o jardim vazio.

As lágrimas escorriam silenciosas. Mas ela não chorava por tristeza.

Ela chorava por raiva.

— Eles acham que podem me afastar de você, Miguel… Mas estão errados.

Ela encostou a testa no vidro gelado.

— Eu vou te encontrar. Custe o que custar.

Capítulo 2 – Três Batidas na Janela

A noite havia caído pesada sobre a mansão D’Avila.

Luna estava deitada na cama, mas não dormia.

Seus olhos estavam fixos no teto.

O quarto era escuro. Silencioso. Sufocante.

Ela não via Miguel há dois dias.

Dois dias que pareciam uma eternidade.

Tentava não pensar no pior.

Mas a mente insistia em repetir a imagem dele indo embora…

sozinho.

Sem dizer adeus.

Luna se sentou na cama.

O coração apertado.

O silêncio era tão denso que podia ouvi-lo gritar dentro de si.

Foi quando escutou.

Uma. Duas. Três batidas na janela.

Ela prendeu a respiração.

Virou o rosto devagar.

A cortina balançava suavemente com o vento.

E atrás dela…

Uma sombra.

Luna se levantou em um pulo, o coração acelerado.

Correu até a janela.

Puxou a cortina de lado…

— Miguel? — sussurrou ela, a voz trêmula.

Lá estava ele.

Do lado de fora, escondido pela escuridão.

Com o capuz do casaco cobrindo o rosto e os olhos brilhando no escuro.

— Você está maluca?! — disse ela, abrindo a janela com pressa. — Se meu pai te ver aqui...

— Eu precisava te ver — respondeu ele, ofegante. — Só por um minuto.

— Um minuto pode nos custar tudo.

— Já perdemos tudo quando nos separaram.

As palavras dele atravessaram Luna como um raio.

Ela olhou nos olhos dele.

E soube.

Ainda era amor.

Ainda era real.

— O que você vai fazer agora? — ela perguntou, com a mão segurando firme o peitoril da janela.

— Vou embora da cidade. Já está tudo certo.

O chão pareceu sumir sob os pés de Luna.

— Ir embora…?

— Eu não posso ficar. Não depois do que aconteceu. Seu pai me ameaçou.

— Ele sempre ameaça.

— Mas desta vez ele foi claro. Disse que se eu te procurasse de novo, eu sumiria.

Luna sentiu um nó na garganta.

— Então por que está aqui?

— Porque eu precisava te ver uma última vez. Precisava ter certeza…

— Certeza do quê?

Miguel hesitou por um segundo.

Então tirou do bolso algo pequeno, embrulhado em papel.

— Que você ainda me ama.

Ela pegou o embrulho com as mãos trêmulas.

Era o colar que ela havia deixado cair no galpão no dia do último beijo.

O pingente em forma de lua.

Miguel o guardou.

— Eu nunca deixei de te amar — sussurrou ela, com os olhos marejados. — Mas eu não aguento mais te perder.

Miguel a olhou com intensidade.

— Então venha comigo.

— O quê?

— Fuja comigo, Luna.

As palavras pairaram no ar, como uma faísca antes do incêndio.

Luna sentiu o mundo parar.

Seu coração gritava sim.

Mas sua mente dizia não.

Fugir significava abrir mão de tudo.

Da vida que conhecia.

Da segurança.

Do nome que carregava.

Mas ficar…

Significava abrir mão dele.

— Amanhã, à meia-noite. Atrás da estufa velha — disse ele, firme. — Eu estarei esperando. Mas não posso esperar para sempre.

Ela assentiu com um leve movimento de cabeça.

Mas seu corpo inteiro tremia.

— Promete que vai?

Luna respirou fundo.

— Eu não posso prometer…

Ele sorriu, triste.

— Então prometa que vai tentar.

Miguel desapareceu na noite como um fantasma.

E Luna fechou a janela com o coração em pedaços.

Ficou ali, encostada no vidro, com os olhos fixos no céu estrelado.

Fugir com Miguel.

Ou obedecer o pai.

Liberdade… ou prisão dourada?

A escolha estava feita.

Ela só precisava de coragem para cumpri-la.

Capítulo 3 – O Dia da Escolha

“Quando o coração manda correr, não existe caminho fácil.”

A noite parecia respirar fundo.

Luna segurava a mochila junto ao peito, encostada atrás da porta do quarto.

O som do relógio marcava 23h45.

Faltavam 15 minutos para o encontro.

15 minutos para virar sua vida do avesso.

Ela olhou uma última vez para o quarto: as paredes brancas, os livros empilhados na estante, a colcha azul clara dobrada com perfeição.

Tudo tão… silencioso.

Tudo tão longe do que ela queria viver.

Respirou fundo.

Girou a maçaneta devagar.

E saiu.

Desceu pelas escadas de serviço, as luzes apagadas, o som dos próprios passos sendo abafado pelas meias pretas.

O corredor do térreo parecia mais escuro do que nunca.

Como se a mansão inteira estivesse prendendo a respiração.

Luna seguiu o caminho que Miguel havia traçado no bilhete:

sair pela porta lateral da cozinha, passar pelo depósito de lenha e atravessar o pomar até a estufa.

Ela conhecia cada canto da casa.

Mas nunca imaginou que usaria isso para fugir.

Lá fora, o vento batia forte.

A lua estava alta.

E a mansão ficava cada vez mais distante a cada passo que ela dava.

No pomar, o cheiro de folhas molhadas preenchia o ar.

Ela se encolheu ao escutar um som de galhos estalando — mas era só um esquilo correndo pelo chão.

O coração dela batia tão alto que mal conseguia ouvir os próprios pensamentos.

E então… ela viu.

A estufa.

Velha.

Silenciosa.

Mas com uma luz fraca acesa por dentro.

Ela correu.

Miguel a esperava.

Casaco escuro, mochila nas costas, e o carro escondido atrás de uma árvore próxima, com o motor desligado.

— Pensei que não viria — disse ele, a voz rouca de ansiedade.

Luna correu para ele e o abraçou.

— Eu quase desisti — sussurrou contra o peito dele. — Mas meu coração gritava que você estaria aqui.

Ele a segurou firme.

— Vamos sair daqui. Agora.

Entraram no carro em silêncio.

Miguel ligou o motor.

O som foi baixo, mas para Luna pareceu um trovão.

— Pegamos a rota pela estrada velha. Ninguém vai pensar que fugimos por lá — explicou ele.

Ela apenas assentiu, com os olhos fixos no retrovisor.

Mas a liberdade durou pouco.

Luzes fortes surgiram no retrovisor.

Faróis.

Acelerando.

— Não pode ser… — murmurou Miguel, apertando o volante. — Como eles…?

— Meu irmão — sussurrou Luna. — Deve ter me seguido.

O celular de Miguel vibrou.

Um número desconhecido.

Ele ignorou.

Mais uma curva.

Mais um avanço.

A SUV atrás deles encurtava a distância a cada segundo.

— Segura firme! — gritou ele, virando o volante com força.

O carro quase saiu da pista de terra, mas Miguel manteve o controle.

Entraram numa estrada de cascalho, escondida entre as árvores.

A vegetação fechava ao redor do carro.

Galhos batiam no vidro.

Pedras saltavam sob os pneus.

— Se formos pegos… — começou Luna.

— Nós não vamos ser — garantiu ele. — Eu prometi que te tiraria de lá. E vou cumprir.

A SUV não os seguiu.

Pelo menos não naquela estrada.

A respiração de Luna ficou presa.

Depois de mais cinco minutos, Miguel parou o carro ao lado de um matagal.

Desligou o motor.

Silêncio.

Eles se entreolharam.

— Estamos longe o bastante por agora — disse ele.

Luna encostou a cabeça no vidro da janela.

— Achei que fosse morrer.

— Achei que fosse perder você… de novo.

Ele pegou a mão dela.

Estava gelada.

— Vamos seguir pela rota do norte. Tem uma pensão fora da cidade. Um lugar seguro por alguns dias.

Ela assentiu, ainda trêmula.

— Você acha que eles vão nos procurar?

— Com certeza — respondeu ele. — Mas o mundo é grande, Luna. E eu tô disposto a cruzar cada pedaço dele por você.

Luna fechou os olhos.

Estava com medo.

Exausta.

Mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se livre.

E aquilo…

Aquilo valia cada segundo de fuga.

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