“Quando o coração manda correr, não existe caminho fácil.”
A noite parecia respirar fundo.
Luna segurava a mochila junto ao peito, encostada atrás da porta do quarto.
O som do relógio marcava 23h45.
Faltavam 15 minutos para o encontro.
15 minutos para virar sua vida do avesso.
Ela olhou uma última vez para o quarto: as paredes brancas, os livros empilhados na estante, a colcha azul clara dobrada com perfeição.
Tudo tão… silencioso.
Tudo tão longe do que ela queria viver.
Respirou fundo.
Girou a maçaneta devagar.
E saiu.
Desceu pelas escadas de serviço, as luzes apagadas, o som dos próprios passos sendo abafado pelas meias pretas.
O corredor do térreo parecia mais escuro do que nunca.
Como se a mansão inteira estivesse prendendo a respiração.
Luna seguiu o caminho que Miguel havia traçado no bilhete:
sair pela porta lateral da cozinha, passar pelo depósito de lenha e atravessar o pomar até a estufa.
Ela conhecia cada canto da casa.
Mas nunca imaginou que usaria isso para fugir.
Lá fora, o vento batia forte.
A lua estava alta.
E a mansão ficava cada vez mais distante a cada passo que ela dava.
No pomar, o cheiro de folhas molhadas preenchia o ar.
Ela se encolheu ao escutar um som de galhos estalando — mas era só um esquilo correndo pelo chão.
O coração dela batia tão alto que mal conseguia ouvir os próprios pensamentos.
E então… ela viu.
A estufa.
Velha.
Silenciosa.
Mas com uma luz fraca acesa por dentro.
Ela correu.
Miguel a esperava.
Casaco escuro, mochila nas costas, e o carro escondido atrás de uma árvore próxima, com o motor desligado.
— Pensei que não viria — disse ele, a voz rouca de ansiedade.
Luna correu para ele e o abraçou.
— Eu quase desisti — sussurrou contra o peito dele. — Mas meu coração gritava que você estaria aqui.
Ele a segurou firme.
— Vamos sair daqui. Agora.
Entraram no carro em silêncio.
Miguel ligou o motor.
O som foi baixo, mas para Luna pareceu um trovão.
— Pegamos a rota pela estrada velha. Ninguém vai pensar que fugimos por lá — explicou ele.
Ela apenas assentiu, com os olhos fixos no retrovisor.
Mas a liberdade durou pouco.
Luzes fortes surgiram no retrovisor.
Faróis.
Acelerando.
— Não pode ser… — murmurou Miguel, apertando o volante. — Como eles…?
— Meu irmão — sussurrou Luna. — Deve ter me seguido.
O celular de Miguel vibrou.
Um número desconhecido.
Ele ignorou.
Mais uma curva.
Mais um avanço.
A SUV atrás deles encurtava a distância a cada segundo.
— Segura firme! — gritou ele, virando o volante com força.
O carro quase saiu da pista de terra, mas Miguel manteve o controle.
Entraram numa estrada de cascalho, escondida entre as árvores.
A vegetação fechava ao redor do carro.
Galhos batiam no vidro.
Pedras saltavam sob os pneus.
— Se formos pegos… — começou Luna.
— Nós não vamos ser — garantiu ele. — Eu prometi que te tiraria de lá. E vou cumprir.
A SUV não os seguiu.
Pelo menos não naquela estrada.
A respiração de Luna ficou presa.
Depois de mais cinco minutos, Miguel parou o carro ao lado de um matagal.
Desligou o motor.
Silêncio.
Eles se entreolharam.
— Estamos longe o bastante por agora — disse ele.
Luna encostou a cabeça no vidro da janela.
— Achei que fosse morrer.
— Achei que fosse perder você… de novo.
Ele pegou a mão dela.
Estava gelada.
— Vamos seguir pela rota do norte. Tem uma pensão fora da cidade. Um lugar seguro por alguns dias.
Ela assentiu, ainda trêmula.
— Você acha que eles vão nos procurar?
— Com certeza — respondeu ele. — Mas o mundo é grande, Luna. E eu tô disposto a cruzar cada pedaço dele por você.
Luna fechou os olhos.
Estava com medo.
Exausta.
Mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se livre.
E aquilo…
Aquilo valia cada segundo de fuga.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Marta Monteiro
/Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart/
2025-06-30
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