O silêncio entre os três era ensurdecedor.
Henrique estava parado do outro lado da cerca. O rosto sério, os olhos fixos em Luna.
Miguel, ao lado dela, segurava sua mão com força. A respiração pesada. O corpo em alerta.
Luna não conseguia se mover.
O irmão deu um passo à frente.
— Você não precisa fugir, Lu. Você não precisa viver se escondendo com ele. A gente pode conversar. Pode resolver isso de outro jeito.
Ela sentiu o coração se apertar.
Henrique não era como o pai. Ele sempre foi mais justo. Mais humano. Mas naquele momento… ele representava tudo o que ela queria deixar para trás.
— Já foi decidido — respondeu ela, com a voz firme. — Eu escolhi o Miguel.
Henrique abaixou a cabeça, os ombros caídos.
— Você não entende… Ele…
— Eu entendo, sim — interrompeu ela. — Entendo que ele me ama. E que me escolheu mesmo quando isso significava se arriscar. Você pode dizer o mesmo por alguém?
O silêncio dele foi a resposta.
Miguel puxou Luna pela mão, e juntos atravessaram a cerca.
Henrique não os impediu.
Apenas ficou ali, parado, observando enquanto os dois se afastavam estrada adentro.
Luna olhou para trás uma última vez.
Henrique ainda estava lá.
Mas ela não chorou.
Porque, pela primeira vez, ela estava andando com as próprias pernas.
E cada passo que dava era liberdade.
A estrada era longa e vazia.
O sol começava a nascer no horizonte, tingindo o céu de dourado e rosa.
O carro deslizava pela pista estreita, e Luna apoiou a cabeça no ombro de Miguel.
— E agora? — perguntou baixinho.
— Agora a gente continua. Tem um vilarejo a três horas daqui. Um amigo meu tem uma casa lá. Vai nos ajudar.
— Alguém em quem confia?
— Com a vida.
Ela assentiu, mas percebeu o olhar dele perdido na estrada.
— O que te preocupa?
Miguel hesitou.
— Não é só o seu pai. Se ele começou a mexer com meu passado… pode encontrar coisas que eu enterrei há muito tempo.
Luna se afastou um pouco para encará-lo.
— Que tipo de coisas?
Ele engoliu em seco.
— Coisas que podem nos colocar em risco.
Horas depois, chegaram ao vilarejo. Era pequeno, cercado por montanhas, com casas de madeira simples e poucas pessoas na rua.
Miguel estacionou em frente a uma casa com varanda e janelas azuis.
Um homem os esperava do lado de fora. Alto, moreno, barba curta e expressão séria.
— Achei que nunca mais fosse te ver — disse o homem, ao abraçar Miguel.
— Também achei. Luna, esse é Caio. Um amigo antigo. De antes de… tudo.
Caio estendeu a mão para Luna.
— Você é a razão da bagunça, né?
Ela sorriu, tímida.
— Mais ou menos.
— Entrem. Aqui vocês estão seguros… por enquanto.
Horas depois, Luna tomava banho quente enquanto Miguel conversava com Caio na cozinha.
Mas a conversa deles não era leve.
— Você acha mesmo que pode fugir do Artur D’Avila assim? — perguntou Caio.
— Não tenho escolha. Eu amo ela.
— Amar não vai ser o suficiente se ele descobrir sobre o que aconteceu naquela noite.
Miguel fechou os olhos.
— Eu sei. Mas se ela souber… vai me odiar.
— Então é melhor escolher logo: contar a verdade… ou perder ela pra sempre.
Luna escutava tudo, escondida atrás da porta.
E sua respiração travou ao ouvir aquela última frase.
“O que aconteceu naquela noite…”
Que noite?
Do que Miguel estava fugindo de verdade?
A dúvida queimou em seu peito.
E, pela primeira vez desde que fugiu…
Ela se perguntou se conhecia mesmo o homem por quem tinha abandonado tudo.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Marta Monteiro
O que será que ele fez 🤔
2025-06-30
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