CAPÍTULO 03

O silêncio...

Ele tem um som.

Um som ensurdecedor.

   Quando Yuri pronunciou aquela palavra... aquela maldita palavra... tudo ao meu redor ficou em câmera lenta.

“Leucemia.”

   Meu coração parecia ter esquecido como bater. Minha respiração ficou presa em algum lugar entre o peito e a garganta. Minha mente simplesmente... travou.

   Eu olhava pra boca dele se mexendo, mas não escutava mais nada. Tudo virou um zumbido distante. Como se eu estivesse debaixo d’água. Afogada.

   Ele falava sobre exames, tratamentos, transplantes, medula, quimioterapia... custos... riscos... mas eu não conseguia absorver. Era como se cada palavra viesse seguida de um soco no estômago.

   Saí do hospital naquele dia em estado de choque. As pernas caminhavam no piloto automático. Os olhos enxergavam, mas eu não via. O corpo andava... mas parecia que minha alma tinha ficado lá dentro, na sala de medicação, sentada naquela maca fria.

   Me sentei no sofá, segurando a cabeça entre as mãos. A boca seca. As mãos tremendo. A mente borbulhando.

   Quando percebi, Roman estava ali, parado na porta do quarto, olhando pra mim.

   Levantei o rosto. As palavras saíram quase num sussurro, roucas, trêmulas:

   — Estou com leucemia...

Ele franziu o cenho. Deu um passo à frente.

   — O quê...? Como assim? — a voz saiu mais alta do que eu esperava, cheia de incredulidade, de choque.

    — Ainda vão confirmar com mais exames, mas... os médicos já deixaram claro que... é quase certo. — Minha voz tremia, mas não quebrei. Não podia quebrar.

   Ele passou as mãos pelos cabelos, respirando fundo, completamente perdido. Seu rosto estava... estranho. Uma mistura de choque, desconforto e... uma frieza que eu não esperava.

   Por um instante, esperei que ele segurasse minha mão, que dissesse "nós vamos passar por isso juntos", que me abraçasse, que dissesse qualquer coisa... mas não.

O silêncio dele doeu mais que qualquer diagnóstico.

    Apertei as mãos uma contra a outra, respirei fundo e continuei:

    — Roman... — engoli seco — a gente vai precisar cortar gastos. O tratamento... não é barato. Eu não sei até quando vou conseguir trabalhar... E, sinceramente, talvez... talvez seja bom você procurar um emprego. Eu não sei como vão ficar as coisas daqui pra frente. — Falei tentando ser racional, mas por dentro, eu estava me segurando em pedaços invisíveis pra não cair no abismo.

Ele coçou a nuca, desviando o olhar.

    — É... claro... sim... eu... eu vou procurar alguma coisa. — Respondeu, seco, distante, mecânico.

   Assenti, tentando não demonstrar a facada que foi ouvir aquilo.

   Ele estava ausente. Gelado. Frio. Como se não estivesse realmente ali.

Simplesmente... levantei. Fui até o quarto.

   Me joguei na cama, puxei o cobertor, e apaguei. Meu corpo inteiro desligou. Como se a única forma de me proteger fosse simplesmente dormir... ou fingir que tudo isso não estava acontecendo.

...----------------...

   Nem sei que horas eram quando acordei. A claridade da janela me dizia que já era manhã.

Olhei pro lado... vazio.

O travesseiro ao lado estava frio.

Levantei, o corpo pesado, cambaleando um pouco.

   — Roman...? — chamei, olhando pro quarto. Nada.

   Caminhei até a sala... vazio. Fui pra cozinha... nada. Nenhum sinal.

Até que...

Vi.

   Um bilhete. Simples. Branco. Pregado na porta da geladeira com um imã de pizza barata.

   Meus olhos fixaram nas letras trêmulas, escritas com pressa.

Peguei. Li.

   "Violetta, me perdoa... eu... eu não sei se consigo lidar com isso. Eu não posso. Eu não consigo. Espero que você me entenda.”

Por alguns segundos, o mundo ficou mudo.

   Só o som do meu próprio coração batendo, acelerado, doendo, rasgando dentro do peito.

   Minhas mãos tremiam. O bilhete escorregou dos meus dedos e caiu no chão.

Ele... me deixou.

Simples assim.

Na hora em que eu mais precisei.

   — Não... não... não... — murmurei, recuando, sentindo minhas pernas falharem.

   Sentei no chão, encostada na porta da geladeira, abraçando os próprios joelhos, enquanto a primeira lágrima escorria, queimando minha pele como ácido.

    — Ele me deixou... — sussurrei, a voz falhando. — Esse desgraçado me abandonou...

   E, como se tudo desabasse de uma vez, as lágrimas começaram a cair. Não era aquele choro alto, desesperado, não...

Era aquele tipo de choro silencioso, que dói nos ossos.

    Que te desmonta por dentro, pedaço por pedaço, até não sobrar absolutamente nada.

    — Eu estive com ele... em tudo... eu sustentei essa casa, eu banquei os estudos dele, eu fiz de tudo... de tudo... — minha voz tremia. — E na primeira vez... na primeira vez que eu precisei dele... ele... simplesmente... me deixou...

   Solucei, apertando minhas pernas contra o peito, tentando me manter inteira, tentando não despencar no abismo que se abria dentro de mim.

Sem família. Sem noivo. Sem ninguém.

Eu estava... sozinha.

Com um diagnóstico nas mãos.

Uma doença que poderia me matar.

E uma vida inteira desmoronando na minha frente.

Por alguns segundos, só desejei...

Sumir.

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Comments

Selma

Selma

Poxa ela estar passando por pior momento de sua vida e, quando mais precisa de apoio leva outra "pancada" da vida.
Espero que ela fique bem e, supere esse traste. No final foi livramento para ela.

2025-06-23

10

Amanda

Amanda

Eu sabia que desse traste não podia esperar muito, na verdade não podia esperar nada pois era um emprestavel aproveitador mas ele foi muito cruel e covarde não conseguiu sequer aguentar um dia, confirmar o diagnóstico ou seja ele nunca teve sentimento nenhum era só interesse e a partir do momento em que ela não poderia mais bancar ele o filho da égua caiu fora, mas foi melhor assim, menos um estrume em sua vida agora é cuidar só de si mesma

2025-06-25

1

Deda Gomes

Deda Gomes

as vezes precisamos passar por momentos ruim para conhecer as pessoas melhor. no caso dela ele demistra o tempo todo que esta encostado nela .ela bancando de tudo. ma porgosta mais dele do que ela mesmo não conseguiu enxergar ele de vedade.

2025-06-24

1

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